Vítima de Daniel Alves é protegida pela Justiça e imprensa na Espanha

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O paralelo: no Brasil, caso de Mariana Ferrer mostrou a ampla exposição da vítima pela imprensa e pela Justiça

Foto: Reprodução/Twitter/GloboNews

Começou hoje o julgamento de Daniel Alves na Espanha. Uma das preocupações das autoridades do país e respeitadas pela sociedade, incluindo imprensa, é a proteção da mulher vítima contra exposições. No Brasil, casos semelhantes receberam tratamentos opostos: o da grande exposição da mulher denunciante de abuso e violação sexual.

O ex-jogador está preso provisoriamente há mais de um ano, acusado de abusar sexualmente de uma jovem de 24 em uma boate, em dezembro de 2022. Se condenado no julgamento que acontece esta semana em Barcelona, ele poderá ficar até 12 anos na prisão.

É um caso de ampla repercussão nacional e internacional. E Justiça do país adotou uma sequência de medidas para proteger a jovem dos meios de comunicação, seja com propagação indevida, exposição e riscos posteriores.

No Brasil

Em 2020, todo o Brasil soube do nome da vítima, Mariana Ferrer, quando relatou ter sido estuprada e vítima de agressões físicas em dezembro de 2018, também em uma boate, Café de La Musique, em Florianópolis, Santa Catarina.

Quando o caso veio à tona, em 2020, com a denúncia da modelo e blogueira, a Justiça foi a primeira a apresentar violações contra a vítima. À época, o advogado do agressor, o empresário André de Camargo Aranha, a humilhou, e o juiz do caso não fez nada para impedir as violações e ataques do advogado.

A humilhação do advogado foi propagada por uma reportagem do jornal The Intercept Brasil, em novembro de 2020, que se referiu à agressão como “estupro culposo”, para indicar as pretensões do empresário no crime. A expressão dominou os meios de comunicação, com tons desde sátira à revolta.

O empresário não foi preso. A Justiça o inocentou alegando “falta de provas”. No ano passado, a jornalista que publicou a reportagem e trouxe a expressão “estupro culposo” chegou a ser condenada a 1 ano de prisão e R$ 400 mil de indenização. O juiz que permitiu a humilhação à vítima ajuizou mais de 200 processos contra repórteres e jornais que usaram a mesma expressão. Já os veículos que permitiram a exposição da vítima não sofreram qualquer atuação.

A proteção judicial na Espanha

No caso de Daniel Alves, a imprensa só pode acompanhar a sessão em três salas especiais, por meio de um circuito fechado de televisão, com credenciamento prévio e controle de transmissão.

O próprio depoimento da vítima não foi transmitido à imprensa e o horário também não foi informado. Uma vez que as declarações ficarão gravadas para o sistema interno, a voz e rosto da jovem também foram distorcidos.

Durante todo o julgamento, nenhuma das testemunhas, advogados ou juízes poderá citar o nome da vítima. Os meios de comunicação ficaram proibidos de registrar imagens da chegada e saída da mulher ou de seus familiares à Audiência de Barcelona.

Se, por alguma razão, a vítima e Daniel Alves ficarem na mesma sala, seria usado um biombo para impedir o contato do ex-jogador com a jovem.

De acordo com o noticiário, a vítima prestou depoimento às 1h15 desta segunda-feira (05) e confirmou a versão que havia dado anteriormente: foi estuprada e agredida pelo jogador brasileiro em um banheiro da área VIP do bar Sutton, em 30 de dezembro de 2022.

Os jornalistas, contudo, não puderam escutar ou assistir o depoimento, com o sinal de streaming interno interrompido no momento de sua declaração.

Mesmo com proteção, vítima sofre consequências

Também nesta segunda, uma amiga da vítima prestou depoimento e confirmou as informações, relatando o que testemunhou, ao se deparar com a jovem “chorando inconsolavelmente” naquele dia. “Nunca a tinha visto chorar assim na minha vida”, narrou, informando que a amiga repetia “ele me machucou muito, ele me machucou muito”.

Mesmo com a proteção que a Justiça espanhola garantiu à vítima, a amiga contou que a jovem sofre drásticas consequências e tem medo de ser fotografada e perseguida.

“Ela perdeu muito peso, não se encontra mais com os amigos porque não confia em ninguém. Ela pensa que a estão seguindo, nunca está tranquila, acha que estão tentando fotografá-la. É difícil tirá-la de casa. Ela fica obsessiva com tudo”, relatou.

Relembre:

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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