Arte de José Antonio da Silva
Casas, por Maíra Vasconcelos
Toda casa como a canção que nunca iremos nos esquecer. A casa de alvenaria, a casa de concreto, as paredes verdes como folhas que nunca exatamente são as mesmas. Casas feito cobertores de casal que se bestificam demasiado, quartos que se preservam do mundo e engolem intimidades como inseto pisado. Na cozinha, as xícaras quentes frias e mornas atadas ao tempo matemático. Objetos complementares ao corpo habitam a importância suprema da casa nada vacilante, suas janelas laterais e remotas aumentam a erótica escuridão dos boêmios.
A casa acima do diploma e às vezes tão rente as contas, também subjetivamente indiferente à própria manutenção dos esperançosos grãos de areia. Casas resistentes a chuvas de perdão, a incansáveis pontos inflexíveis e atritos inúteis das vozes incompreensíveis.
As casas e suas quinas que esperam esperam sempre prontas ao melhor de todos, isso que nunca chega. Casas que recebem as piores expressões de televisão, e outras casas que idolatram o teatro comum visto na faca no pão e manteiga. Algumas casas que ao tempo nunca mais gritam, se assustam frequentemente com as andanças cabreiras das pernas risonhas e nefastas. Casas também fixadas nas cestas de frutas, em maçãs caquis laranjas, nos cheiros das ervas fantasmas, esses seus entusiasmos pela junção ao mundo.
A resistência flamante das casas de campo, das casas urbanas, e em toda casa duas carnes jovens podem morrer atadas tão rapidamente. As casas que ao meio-dia seguram o sol com as mãos e o chapéu no cabide, apalpam roupas troços livros estudados, casas que tornam visíveis manias à direita do lustre amarelo e à esquerda do porta-lápis de papel. As casas que sintetizam buracos onde antes pousara uma lenta formiga voadora e assim cada espaço se deliciara de tanta surpresa. Casas com mesas de madeira sempre bem-dispostas à bajulação dos pensamentos circundantes.
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