Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Evento ‘Cyber Polygon 2021’, os segredos de polichinelo de Snowden e o Estado-Plataforma, por Wilson Ferreira

Quem ganha com esse segredo de polichinelo do “vazamento”? A fusão público-privado na cyber militarização do espaço, da qual participam, por exemplo, Elon Musk com o StarLink e SpaceX.

Evento ‘Cyber Polygon 2021’, os segredos de polichinelo de Snowden e o Estado-Plataforma

por Wilson Ferreira

Bombou tanto na mídia corporativa quanto na progressista o escândalo da espionagem cibernética de proporções internacionais envolvendo uma empresa israelense de cyber vigilância e o software “Pegasus”. Software adquirido, p. ex., por governos de extrema-direita para controlar a mídia investigativa independente. Denunciado por um consórcio de jornais corporativos e ONGs internacionais, Edward Snowden exaltou: “esse vazamento é a reportagem do ano”. Será que agora os jornalões globais estão defendendo o jornalismo investigativo independente? Como todo “vazamento”, tem o timing preciso: ocorre logo após o “Cyber Polygon 2021”, evento do Fórum Econômico Mundial para centralizar o poder de vigilância no “Estado-Plataforma”. Quem ganha com esse segredo de polichinelo do “vazamento”? A fusão público-privado na cyber militarização do espaço, da qual participam, por exemplo, Elon Musk com o StarLink e SpaceX. Segredos de polichinelo que se revelam psyOp da agenda do Grande Reset Global.

“Esse vazamento vai ser a reportagem do ano”, afirmou no Twitter Edward Snowden, ex-administrador de sistemas da NSA (Agência e Segurança nacional dos EUA) sobre matéria publicada no último domingo (18) pelo jornal britânico The Guardian. O jornal revelou um escândalo de vigilância cibernética de proporções internacionais envolvendo a empresa israelense NSO Group e o software espião Pegasus.

A investigação foi resultado de um consórcio de jornais (Washington Post, Le Mond, Die Ziet) além de ONGs e organizações como Forbiden Stories e Anistia Internacional. O principal produto da empresa israelense infecta celulares e dispositivos de múltiplos fabricantes que usam Android ou iOS da Apple. Arranca informações as mais variadas, como listas de compras, transações bancárias, ligações, fotos, filmes, mensagens trocadas por WhatsappTelegram e Facebook.

Instala-se de maneira discreta, sem a intervenção do usuário, colocando o Pegasus num nível de sofisticação acima dos concorrentes do mercado mundial de espionagem cibernética.

A NSO afirmou que só comercializa o software para governos, no estrito uso do combate a atividades criminosas como narcotráfico e grupos terroristas. Durante a investigação, pelo menos dados de dez governos foram descobertos como usuários do Pegasus: Azerbaijão, Bahrein, Kazaquistão, México, Marrocos, Ruanda, Arábia Saudita, Hungria, Índia e Emirados Árabes Unidos.

Porém, a investigação mostrou indícios de que o software é usado para espionar desafetos políticos como a mídia independente e jornalistas investigativos, por exemplo, em países como México, Arábia Saudita e Hungria.

O caso do México aparece com destaque na investigação do Consórcio: mais de quinze mil mexicanos apareciam no material examinado, e entre eles pelo menos 25 jornalistas trabalhando nos maiores veículos de imprensa do país.

Em maio a imprensa brasileira chegou a divulgar o interesse do governo brasileiro pelo software para que a empresa fornecesse ao Ministério da Justiça, através de uma licitação. Porém, acabou se afastando da concorrência depois que os militares da ABIN ficaram irritados com a ingerência do vereador Carlos Bolsonaro nas negociações.

O timing pós “Cyber Polygon”

Uau!!!! Um consórcio formado pela grande imprensa internacional e ONGs denunciando a espionagem de governos de extrema-direita sobre jornalistas investigativos e mídia independente!!! E mais, com o apoio da celebridade Edward Sownden!

 Quando ouvimos a palavra “vazamento” na mídia corporativa internacional, devemos ficar sempre com um pé atrás com as velhas perguntas na cabeça: Quem ganha? Qual é o timing desse vazamento?

Principalmente, depois de assistir a uma passagem do documentário Pax Americana e a Militarização do Espaço (2009): em 1982 quase um milhão de manifestantes protestavam em Nova York contra armas nucleares e a corrida armamentista. Perguntaram ao tenente-general Daniel Graham se estava preocupado com a gigantesca manifestação. Respondeu: “Parece-me fantástico! Estão protestando contra mísseis balísticos intercontinentais, enquanto nós vamos para o espaço. Eles não fazem ideia do que fazemos. Então, que continuem assim” – clique aqui.

Diversionismo é a estratégia de operação psicológica recorrente do complexo militar do império norte-americano para desviar a atenção da opinião pública da militarização do espaço: controle e vigilância de todas as comunicações globais e das ações militares em tempo real numa sinergia terra, mar e ar.

Mídia corporativa internacional preocupada com o jornalismo investigativo da mídia independente? Vamos com calma… 

O curioso em todo esse estardalhaço midiático é o timing do “vazamento” feito pelo tal Consórcio: uma semana depois do evento promovido pelo Fórum Econômico Mundial (FEM) com apoio da INTERPOL e da empresa de gestão de risco digital BI.ZONE: o “Cyber Polygon 2021” no qual, além de conferência on line, foram feitos exercícios de simulação em tempo real de ataques globais às cadeias de produção por uma hipotética pandemia digital – clique aqui.

Os principais objetivos do evento foram a “imunização da Internet” e a “centralização da vigilância” por meio de parcerias público-privado e a criação de um Estado-Plataforma.

desejo de “imunizar a Internet” com anticorpos digitais para ‘proteger’ a sociedade de ataques cibernéticos e desinformação, explorando ataques de ransomware e uma crise de saúde pública para justificar a centralização de poder e controle. E a fusão mais estreita entre corporação e estado  como solução para qualquer crise, seja ela de cibersegurança, mudança climática ou COVID-19, sem nunca ser colocada em discussão pública.

As soluções público-privadas apresentadas sugerem que o FEM e seus parceiros estão conduzindo a sociedade em direção a uma maior centralização de poder e vigilância que promova o chamado “Grande Reset Global”. Depois do Estado Mínimo teríamos o Estado-Plataforma no qual o Estado se reduziria à sua função mínima: controle social e vigilância através das plataformas tecnológicas fornecidas pelo setor privado.

Continue lendo no Cinegnose.

Este artigo não expressa necessariamente a opinião do Jornal GGN

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

1 Comentário

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  1. O que se precisa entender desse evento Pegasus é que qualquer país que esteja usando esse software passa um atestado de desorganização institucional e atraso tecnológico. Países com políticas públicas que abranjam a segurança cibernética, de forma séria, em favor do seu Estado (para o bem ou para o mal) jamais iriam adquirir oficialmente esse software, no máximo para fins de inteligência teria ele bem descrito em algum relatório. Estados que buscam a segurança cibernética, seja para fins meramente defensivos ou para ataques têm seus próprios meios desenvolvidos, pois a tecnologia base para esse tipo de ataque é plenamente disponível por meios gratuitos e legais. Softwares que trazem facilidades, como o Pegasus, são o tipo coisa as que o submundo do crime recorre.

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