Os sete desafios do Planalto, por Helena Chagas

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Helena Chagas

Do Fato Online

Ninguém tem mais dúvidas de que vai haver peru de Natal no Planalto e Carnaval no Alvorada. Depois disso, só Deus sabe. Como a nenhum de nós, humanos, é mesmo dado conhecer o futuro, pode-se dizer que a situação do governo melhorou bastante. Os planaltinos respiram aliviados. Só que, pela primeira vez em muito tempo, parecem ter os pés no chão: reconhecem que a recém-conquistada trégua deve ir até março, mas que, se a crise não for bem administrada até lá, a conversa do impeachment volta ao cenário.

O tempo continua curto e a necessidade premente. A sobrevivência do governo Dilma vai depender do que for feito agora. Os governistas reconhecem que a tendência da economia é piorar antes de melhorar, e que o impacto do desemprego e da recessão tende a acirrar a rejeição ao governo nos primeiros meses de 2016. A oposição vai continuar batendo e o PMDB, de goela aberta e uma convenção marcada para março, espera as coisas piorarem.

O roteiro da sobrevivência passa por uma série de sete desafios para o Planalto:

1. Aprovar sua pauta obrigatória em meio ao risco de paralisação do Congresso neste fim de ano. A manutenção dos vetos à pauta-bomba foi uma decisiva demonstração do Planalto de que voltou a ter base parlamentar e é capaz de sair do caos. Mas mostrou também que se trata de uma maioria magra, desnutrida, que precisa engordar muito para aprovar as obrigatórias propostas de emenda constitucional. A primeira da lista é a DRU, que pode acabar só tendo sua votação concluída no ano que vem. Se aprovada, talvez então o governo se arrisque a colocar a recriação da CPMF em votação. Mas há também outros projetos fundamentais este ano, como o da mudança da meta do superávit, a LDO e o próprio Orçamento da União – e tudo isso entra em pauta a partir de terça-feira. Na avaliação de interlocutores de Dilma Rousseff, a ficha do Congresso começa a cair em relação à necessidade de votar para impedir o agravamento da situação econômica.  Mas a turbulência provocada na Câmara pelo agravamento da situação de Eduardo Cunha pode paralisar a Casa nas próximas semanas.  O governo precisa correr e votar tudo antes desse desfecho.

2. Sair vivo do tiroteio que vai marcar o desfecho do caso Eduardo Cunha. O Planalto, que decidiu não atacar o presidente da Câmara – o que equivale a um apoio velado – está numa tremenda saia justa. Sustentar o deputado tem seu custo junto à opinião pública. Não sustentar é pior, pois Cunha, mesmo fraco, ainda tem a caneta e a pauta na mão. Vai ser difícil ao governo sair de fininho. Setores aliados a Cunha e da oposição tentam convencer o deputado a renunciar à presidência da Casa, assinando antes a autorização do  impeachment, em troca do apoio deles para manter o mandato.

3. Apresentar soluções reais e convencer o distinto público de que a economia vai, um dia, se recuperar. O Planalto sabe muito bem que o desemprego vai piorar, assim como outros números da economia. A expectativa é de que 2016 seja um ano ainda muito ruim. Mas o governo precisa desesperadamente aprovar o que resta do ajuste fiscal, fazer mais reformas e convencer a galera de que, a partir disso, haverá luz no fim do túnel. Um convencimento que terá de começar pelo establishment político e econômico, aqueles que têm poder para influenciar o Congresso, e chegar à sociedade. Só assim pode-se evitar que a previsível tensão social alcance níveis insuportáveis que podem trazer de volta bandeiras do impeachment.

4. Convencer Lula e o PT a parar de atirar em Joaquim Levy para substituí-lo por Henrique Meirelles. A substituição pode até ocorrer, mas nesse clima seria  desastrosa. O ex-presidente parece um ioiô, vai e volta no tiroteio ao ministro da Fazenda, sempre acompanhado pelo PT. Ninguém consegue trabalhar assim.

5. Mostrar que tem votos na Câmara para derrotar o impeachment, ainda que este não venha a tramitar. Nas contas do Planalto, já se tem esse número. Mas ele serve sobretudo para dissuadir Eduardo Cunha e Cia de botar o assunto para andar. A simples instalação da comissão, ainda que seja para sepultar a proposta, já seria um tremendo desgaste para o governo – sem falar no risco de que alguém comece a levar a questão a sério.

6. Jogar areia na articulação do PMDB no TSE para convencer os ministros de que o vice não tem nada a ver com as irregularidades da chapa presidencial. Há muita, mas muita gente mesmo trabalhando nos bastidores do TSE para quebrar a jurisprudência segundo a qual o titular eleito  e seu vice são igualmente punidos e afastados em caso de anulação da eleição por ilícitos relacionados ao financiamento da campanha. A tese entusiasma os aliados de Michel Temer.

7. Manter distância da Lava-Jato e de quem estiver em seu epicentro. Trata-se de uma obviedade, mas esse é um desafio que está nas mãos do imponderável.   

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Na boa, que depre.
    É isso O
    Na boa, que depre.

    É isso O Governo? É isso o que vc espera do Governo? Administrar o dia a dia?
    Se for pra isso era melhor pedir para sair.

    Eu espero mais mas o que vejo há 10 anos é administração do dia.
    Que decepção, que falta de imaginação, que falta de rumos e metas, que tudo de ruim.

    Valeu Lula por esta lição. Dilma e Anastasia nunca mais! Política por políticos, não por administradores. Porque eles só fazem isso, administram o dia a dia.

  2. sem trocadilhos de mau gosto

    sem trocadilhos de mau gosto que não é de meu feitio…

    pero si,

    O quê Helena de Troia (pois que já esteve lá, bem dentro, íntima do governo “aos brados mando não peço”) profetiza tal qual sacerdotisa, para governo Dilma escatológico fim dos tempos, não são propriamente “desafios hercúleos” ou teses da chaui por ai:

    São as Sete Chagas de Helena de Troia!

    1. Brasilia já vive uma paralisação frenética! (catatônica! implorando por uma PL da eutanásia político-humanitária…)

    2.  Doutor Cunha cão chupando manga é político-bomba pronto a se autoimplodir levando meio mundo que conta… na Suíça lavou tá limpo!

    3. Just in time na medida certa faça a coisa certa! nunca foi o forte do governo Dilma ruim de comunicação…

    4. Lula mais PT, inglórios socialistas pegos com as calças nas mãos, só reagem no piloto automático de pânico salve-se quem puder! e Zé Dirceu que se f… com “as teses do cárcere” sobre o lulopetismo.

    5. Mais vale um voto na mão do que alcateias voadoras de políticos o céu é o limite da ganância…

    6. No desmazelo total com coisa pública, mais vale deixar mar de lama e força da gravidade realizar o serviço sujo…

    7. Tirar lava jato das salas palacianas… somente se se combinar com russos e poloneses e portugueses e italianos e MTB… num centro espírita (mas preparem o bolso que a dolorosa tarda mas não falha no caixa da banca dos notórios saberes).

     

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