O filho do fake news, por J. Carlos de Assis

Foto: Agência Brasil

Por J. Carlos de Assis

Os  imprevisíveis  caminhos da tragédia brasileira que levaram aos maiores postos da República figuras tão desprezíveis como Michel Temer e Henrique Meirelles agora nos ameaçam com Rodrigo Maia. Quem é o deputado Rodrigo Maia? Quais são suas idéias? Quais projetos apresentou na Câmara? Que tipo de credencial tem para assumir a Presidência na hipótese do afastamento de Temer? Qual é sua relação com o povo e com a nacionalidade?

É filho de César Maia. Mas quem é César Maia, senão o pintor de periferias de favelas do Rio mais afeito ao marketing pessoal, como o favela-bairro, do que com o serviço público decente. Se o filho puxou o pai, é um neoliberal assumido. Lembro-me de César Maia retardando e finalmente sepultando um projeto de regulamentação bancária e financeira do país sob o argumento de que assumia, como relator, a posição inequívoca de liberal.

Tenho que me ater à personalidade do pai porque o filho que fizeram presidente da Câmara para ajudar Temer, por  absoluta irresponsabilidade da maioria, é um desconhecido político. Estamos descobrindo-o aos poucos, inclusive no seu esforço ingente de fazer passar a  reforma da Previdência no rastro de outros esbulhos da era Temer. Agora acham que pode saltar para a Presidência sem voto para depois, já no poder, comprá-la.

Voltemos ao pai. Sua atuação política mais importante, além do fake news da favela-bairro, foi a denúncia da Proconsult no longínquo 1982 na eleição de Brizola para governador do Rio. Foi seu primeiro “kaô”. Os brizolistas que me perdoem, mas não houve nenhuma tentativa de manipular o resultado das eleições em favor de Moreira, que, aliás,foi muito bem derrotado pelo grande líder gaúcho independentemente de eventuais tentativas.

Foi César Maia quem inventou a manipulação tendo em vista o descompasso entre os ritmos de apuração no interior do Estado, onde Moreira tinha seus currais eleitorais, e na  capital, onde Brizola ganharia disparado. Conheço muito bem o que aconteceu porque era repórter da Folha de S. Paulo e o jornal me mandou apurar o que acontecia no Rio. Fiz meu trabalho, desmontei o “fake news” e a reportagem está lá, publicada para a história.

Para compreender o que aconteceu deve-se entender, inicialmente, que aquelas eram as primeiras eleições gerais no Brasil, exceto para Presidente, e incluindo governadores e senadores. Na apuração, havia no boletim eleitoral nada menos que 72 campos a serem preenchidos de acordo com a apuração. Todos  os órgãos de imprensa se prepararam para a apuração, que consistia em totalizar os valores dos boletins ao ritmo mais rápido possível.

Ora, o interior apurava e totalizava os votos em seções mais tranqüilas, enquanto na capital e Região Metropolitana o processo era necessariamente tumultuado e lento. A tevê Globo, com brutal incompetência, dava os resultados de acordo com a totalização dos boletins, isto é, mediante preenchimento de 72 campos,  usando-se as informações oficiais colhidas no interior que eram repassadas por telefone mais rápidas

Isso colocava Moreira na frente, embora com totalização mínima  dos votos. Aconteceu então que a rádio JB, associada ao jornal, compreendeu que o interesse do povo eram os cabeças de chapa, isto é, governador e senador, abandonando a apuração dos candidatos proporcionais. Com isso apurou os votos majoritários no Rio, segundo os boletins oficiais, enquanto a Globo se arrastava atrás fazendo a totalização completa.

Foi o descompasso da  apuração entre rádio JB, acelerada, e Globo, retardada, que levantou a suspeita de Brizola. Obviamente que ele não tinha conhecimento detalhado da apuração, de forma que embarcou na tese de César Maia para denunciar a tentativa de roubo eleitoral. Seus demais assessores e militantes acompanharam a onda alimentada por artifícios “técnicos” de Maia. Inventaram até um fator delta, que seria o instrumento do roubo.

Brizola ganhou, provavelmente sem saber que ganharia de qualquer maneira, independentemente do fake news de César Maia. Mas este último, por conta de suas “denúncias”, ganhou grande status como um dos principais da assessoria econômica dele.

Anos depois inventaria a expressão “factóide” para designar, em seu favor, o que seria hoje fake news.  Assim,  fator delta e Proconsult foram seu primeiro fake news. O filho é o segundo.

                 

Redação

12 Comentários

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  1. “Conheço muito bem o que
    “Conheço muito bem o que aconteceu porque era repórter da Folha de S. Paulo e o jornal me mandou apurar o que acontecia no Rio. Fiz meu trabalho, desmontei o ‘fake news’ e a reportagem está lá, publicada para a história.”

    Eu gostaria de ler esta reportagem (sequência delas). Tem em meio digital ou só procurando os jornais em bibliotecas ?

      1. Teria que ter uma ideia da

        Teria que ter uma ideia da data e seção em que apareceram. Além disso, parece que não são todas as edições digitalizadas.

  2. Enfoque sem sintese e informações precisas

     

     

     

    A matéria do jornalista se demora em ilações sobre Cesar Maia, no lado fake news e pouca luz oferece sobre o filho e suas idéias. Quais projetos apresentou na Câmara? Quantos? Ficou devendo.

  3. O pai do politiqueiro foi pioneiro em fake news na política

    No livro “Política é Ciência” de 1998, o ex prefeito Cesar Maia afirma que contratou 500 cabos eleitorais para espalhar boatos (FAKE NEWS) em vários botequins para detonar seus adversários, e em 1996 executou mais uma vez a mesma “operação”, desta vez, contratou 150 cabos eleitorais para “espalharem boatos (FAKE NEWS)” contra o então adversário, Sérgio Cabral .

    Os contratados espalhavam o seguinte boato, “Eu soube que o Sergio Cabral vai renunciar “

    Resultado : Seu aliado político Luiz Paulo Conde acabou sendo eleito .

    O pai do politiqueiro foi um dos pioneiros na marquetagem política durante o mandato ao criar a figura do prefeito “maluquinho” .

    No calor escaldante do RJ, o prefake do RJ utilizava indefectíveis casacos :

    Resultado de imagem para prefeito cesar maia de casaco amarelo Imagem relacionada

    Imagem relacionada

     

  4. Esse Botafogo é tão
    Esse Botafogo é tão incompetente, que mesmo sendo filho de classe média, não conseguiu ter uma formação superior.

    O que esse merda fez quando era jovem .

    1. Ficou cocando o saco na beira
      Ficou cocando o saco na beira da piscina do Novo Leblon. Um colega meu na PUC era vizinho dele e dizia que ele era o palerma do condominio. Tanto que nem conseguiu concluir Economia na Candido Mendes.

    2. Esse….

      Esquerdopatia não tem cura mesmo. Rivotril e Gardenal não fazem mais efeito. Este ‘Maia’ é filho de perseguido político da Ditadura Militar. Nascido no Chile, por que o pai fugia de perseguição política por seus ideais progressistas,  socializantes e esquerdopatas. Recebeu e recebe uma ‘bolada’ por ser vitima de tais perseguições. Mais um dos filhos desta geração que acusava aos outros de Elites, Déspotas,…Que não aceitariam a Politica como profissão, nem como perpetuação do Nepotismo. Diz aí Neves? Campos? Covas? Maia? Os herdeiros de Arraes, como carrapatos que grudam no couro do gado, já estão parasitando no feudo que crêem ser seus, no governo de PE. Amanhã, semelhante a Maia, serão rotulados de Neoliberais e Direita. O Brasil é surreal. E tem quem não compreenda a Latrina/2018? O Brasil se explica. 

  5. E, afinal, quem é Rodrigo Botafogo Maia?

    Fui ávido ler a matéria para saber quais as “ideias” (se é que as tem) e projetos apresentados por esta figura inexpressiva, mas fiquei sabendo alguma coisa sobre seu pai e sobre a matéria do autor do texto sobre o Proconsult.

    Continuei sem saber quem é o corrupto Botafogo.

  6. Quem é, afinal o Botafogo?

    Continuo sem saber suas “ideias” (se é que as tem) e seus projetos, como anunciou a chamada da matéria. Sobre o pai dele acho que todos sabem e o ‘Caso Proconsult’ também não revela as “ideias e projetos” do Botafogo.

    Em resumo, continuo sem saber quem é este nhonho.

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