O que o Brasil quer ser quando crescer?, por Wagner Iglecias

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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O que o Brasil quer ser quando crescer?

por Wagner Iglecias

O mesmo assunto, mas já sendo diferente. O modelo de desenvolvimento agropastoril do Brasil deveria ser outro, baseado no acesso à terra a todos aqueles que nela querem trabalhar, na agricultura familiar, nas sementes livres da transgenia, no cultivo livre do agrotóxico, no manejo responsável dos recursos ambientais (matas, rios, lencóis freáticos, açudes etc.), na preservação das áreas indígenas, no uso da pesquisa científica e tecnológica para o interesse nacional e na soberania alimentar do Brasil e do povo brasileiro. Mas a questão (ainda) da carne ainda traz reflexões importantes, não só sobre nosso modelo agropastoril.

Setores estratégicos e/ou competitivos da economia brasileira estão sofrendo há alguns anos ou mesmo algumas décadas um forte processo de desnacionalização: mineração, siderurgia, indústria aeronáutica, indústria naval, indústria do petróleo…e os próximos muito bem poderão ser a engenharia pesada e a indústria alimentícia (pecuária). Num futuro não muito distante não é improvável que a agricultura de grande porte, que já é em parte de investidores estrangeiros, seja também completamente desnacionalizada. O que restará sob controle de capitais ou do Estado brasileiro?

Ainda que o socialismo real tenha entrado em decadência e o capitalismo tenha vencido a Guerra Fria, não se trata de um capitalismo concorrencial a la “mão invisível”, “laissez faire” ou qualquer outra utopia do gênero. Trata-se de um capitalismo oligopolizado, em todos os setores da atividade, no qual grandes corporações (que ainda têm suas sedes e sua gestão financeira nos USA, Japão, Alemanha, França, China, Rússia, Reino Unido etc.) e seus respectivos Estados nacionais andam de braços dados.

Escândalos ou crises financeiras severas têm atingido muitas dessas empresas nos últimos anos (Volkswagen, Samsung, Alstom, L´Oreal, Siemens, Ford, General Motors etc.) mas ninguém nunca viu os governos desses países deixarem essas empresas (que são a “cereja do bolo” de suas respectivas cadeias produtivas) quebrarem ou serem completamente desnacionalizadas. Por que no Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, quinto país em território e em população do planeta, isso não tem sido assim?

Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

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Lourdes Nassif

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6 Comentários

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  1. A sabujice dos procuradores e o interesse pecuniario da PF

    Eh assustador pensar que a agricultura ou boa parte dela, nosso maior ativo por enquanto, pode cair nas mãos estrangeiras. O Brasil não sabe ou nem pensr o que quer ser. Ele pensa que ja é grande, que ja tem a cabeça madura e se focaliza no liberalismo americano, acreditando que o amerian way of life é a melhor (e unica) maneira para se viver.

  2. o que….

    As empresas estatais asseguradas durante o Regime Militar foram doadas ao interesse estrangeiro durante o período dito democrático. (antes que falem se é apologia ao regime milkitar, direi que é a constatação da medíocridade de governos pós 1980). Agora está em curso eata Guerra Civil, do Poder que comanda o país e que a população não faz nem conta. Cunha contra Renan, Renan contra Aécio, Aécio contra Dirceu, Dirceu contra Alckmin, Alckmin contra Cabral, Cabral contra Temer…Uma parte da PF subordinada ao psdb, outra ao pmdb, oiutra ao pt. A PF que não obedece nem informa o Ministro da Justiça, o Ministro da Justiça que desconhece as ações do Presidente, o Presidente que é sabotado por seu próprio partido. Neste Balaio de Gatos de interesses da Elite, das Classes Dominantes, da Casa Grande, o úniuco que apanha em todas as situações é o povo brasileiro.  Este cidadão que assiste a tudo isto bovinamente sem compreender e sem ter o minimo poder de intergerência em assuntos em que deveria ser e ter o Poder Absoluto. Não à toa Eleições Obrigatórias. Não à toa Eleições Obrigatórias em Urnas Eletronicas. Eleições Obrigatórias em Urnas Eletronicas com Biometria. Com biometria ao custo indecente de 500 milhões por pleito. O que a sociedade interfere em tudo isto e em todo precesso…?(silêncio)   

  3. As antas precisam acordar: o interesse nacional é uma fábula

    Ótimo post. Finalmente alguém diz o óbvio. Faz tempo que os interesses nacionais foram postos de lado. As consequências estamos vendo.

  4. A resposta à pergunta final é

    A resposta à pergunta final é simples: o Brasil não tem elites dirigentes, apenas castas mais ou menos organizadas em torno de interesses corporativos e setoriais, sem qualquer visão de futuro e ideia de um projeto nacional coletivo de desenvolvimento, sendo o sistema financeiro a mais poderosa delas, que dá as cartas seguidas pelos demais jogadores. Mudar este quadro é tarefa de Sísifo para várias gerações.

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