Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Rosa Weber deu o salve e o golpe começou, por Armando Coelho Neto

Rosa Weber deu o salve e o golpe começou

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Corrupção, suborno, extorsão, sabotagem, bajulação, aliciamento de pessoas. Não só. Sexo, e quem sabe até drogas e rock ‘n’ roll, quem garante? Os personagens diabólicos envolvidos nessa trama são muitos: grande empresários, líderes políticos, militares, jornalistas, ativistas, governantes de países pobres. Em jogo, muito dinheiro e muita mentira. Enredos que dariam filmes impactantes. Lucro a qualquer custo. Quem garante que o Brasil tenha estado de fora disso tudo? Aliás, com o salve de Rosa Weber, hoje, o golpe já em curso.

Rosa é apenas um detalhe de mais um assassinato econômico. Senão, vejamos.

“Somos muito bem pagos para enganar países ao redor do mundo e subtrair-lhes bilhões de dólares. Grande parte do trabalho é encorajar os líderes mundiais a fazer parte de uma extensa rede de conexões operacionais que promovem os interesses comerciais americanos. No final das contas, tais líderes acabam enredados nessa teia de dívidas que assegura a lealdade deles”, disse John Perkins, numa entrevista concedida à revista “Caros Amigos”, matéria da jornalista Natália Viana

John Perkins confessa ser um “assassino econômico”. Sua missão principal, junto com outros assassinos, seria favorecer interesses comerciais e políticos dos Estados Unidos. Na prática, promover um deliberado endividamento em vários países, como forma de criar dependência. Os relatos sobre a atuação dos tais assassinos econômicos são tão instigantes que viraram livro – “Confissões de um Assassino Econômico”, uma obra contestada por autoridades, sobretudo pelas dos Estados Unidos, suposto maior interessado nas falcatruas, já que os tais assassinos atuariam em prol daquele país.

Perkins é o nome do assassino e autor do livro. Ele confessa ter produzido inúmeros relatórios e estudos econômicos falsos, de forma a seduzir países a tomar empréstimos que mais tarde se revelariam impagáveis. “Assim, os países endividados se tornariam economicamente dependentes dos credores, e uma das artimanhas era primeiro encontrar um país pobre com petróleo, depois, conseguir um grande empréstimo para ele”, diz o assassino numa entrevista encontrável no You Tube.

Diante do empréstimo impagável, instaurada a crise, algumas estranhas soluções eram sugeridas, tais como empréstimos para refinanciamento de dívidas, privatizações de empresas de água, esgoto, energia elétrica, entre outras, como a venda barata do petróleo e o envio de tropas militares para zonas de conflito de interesse americano e até um simples “vote com a gente na cúpula da ONU”.

Os relatos de Perkins nos vídeos disponíveis na internet são convincentes. De tão aparentemente reais, dariam por certo intrigante filme, repleto de ingredientes com o condão de alimentar a denominada teoria da conspiração universal. As atividades dos “assassinos” teriam começado em 1950, no Irã, quando conseguiram derrubar o líder Mohammed Mossadegh, então conhecido como fervoroso anti-imperialista, que nacionalizou a economia de seu país.

Outra atuação teria ocorrido no ano de 1954, na Guatemala, “quando Arbenz (Jacobo Arbenz Guzmán) virou presidente da Guatemala, o país estava sob o jugo da empresa United Fruit, das grandes corporações internacionais… e abraçava o seguinte discurso: ‘Queremos devolver a terra ao povo’. Tão logo assumiu o poder, adotou políticas sociais naquele sentido e a United Fruit não gostou. Houve então uma grande mobilização corporativa para convencer os Estados Unidos de que a Guatemala teria se tornado uma marionete soviética”. “Foi o bastante”, diz ele, “para que os Estados Unidos se mobilizassem para derrubar Arbens. Seu sucessor se encarregou de devolver tudo às grandes empresas”, relata Perkins em sua entrevista no You Tube.

Os relatos do assassino incluem suspeitas sobre o “acidente” aéreo que matou Jaime Roldós Aguilera, fundador do Partido El Pueblo, do Equador, eleito por voto direto, quando até então teria sido governado por ditadores sanguinários. Entre as propostas de Aguilera, estava devolver os recursos do país para a sociedade; e ele seria um político aparentemente incorruptível, que ao implementar suas promessas de campanha, diminuiu o lucro das grandes corporações. Perkins não tem dúvida de que ele foi assassinado e diz que, durante as investigações, duas testemunhas-chaves morreram a caminho do depoimento.

Por razões semelhantes, o presidente do Panamá, Omar Torrijos, também foi assassinado num acidente aéreo, após fazer concessões a Jimmy Carter (EUA) no Canal do Panamá. Ele fala da tentativa de golpe na Venezuela (Hugo Chaves) e dos lucros da “reconstrução de um país que ajudamos a destruir”, numa alusão ao bombardeio americano no Iraque.

As ações de Perkins propriamente ditas teriam começado em 1968, segundo a revista “Caros Amigos”, quando ele, ao terminar a faculdade de Economia, “tinha os mesmos sonhos de qualquer americano típico – casar, ter família, vencer na vida”. Até que o amigo de seu sogro, o “Tio Frank”, figurão da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, mudou sua vida. “Perkins submeteu- se a uma bateria de entrevistas extenuantes que incluíam testes psicológicos e detectores de mentira e tornou-se voluntário no Corpo de Paz do exército americano no Equador.” Haveria um firme propósito da Casa Branca em tornar os países de economia frágil em nações endividadas, como forma de consolidar influência, dependência. Depois, “do Panamá à Arábia Saudita, da Colômbia ao Irã, ele atuou defendendo os interesses do que chama de ‘corporatocracia’ – uma aliança entre as corporações, os bancos e o governo de seu país”, informa o Portal G-1, em nota sobre o livro.

Fez, fez, depois “se arrependeu” (?), dizem, após descobrir as consequências do seu trabalho – o empobrecimento de muitos países e a consolidação de um império mundial e a consequente concentração da riqueza nas mãos de poucos. Com “remorso”, Perkins mudou de lado e o resultado não poderia ser outro – riscos pessoais e ameaças de morte, “enquanto sua obra literária se tornou fenômeno de vendas nos Estados Unidos”, diz a reportagem de “Caros Amigos”.

Seu livro foi sucesso em seu país, mas só foi publicado no Brasil, em 2005. Virou uma celebridade, ao denunciar a lavagem de dinheiro e outras ações veladas da corporatocracia, cujo efeito colateral mais leve foi insuflar o sentimento de antiamericanismo ao redor do mundo. Entre os mais graves, estariam o terrorismo e o atentado de 11 de Setembro, informa a revista “Caros Amigos”.

Com esse histórico, o livro de Perkins deveria sair em 1987, mas foi interrompido por uma irrecusável “oferta”, pois foi contratado para fazer nada na empresa Stone & Webster Engeneering Company, desde que abandonasse qualquer ideia de publicar o seu livro, o qual só viria a sair mesmo no ano de 2003, informa Natália Viana, autora da matéria veiculada na “Caros Amigos”.

A derrubada das duas torres gêmeas no fatídico dia 11 de setembro de 2001 teria detonado “arrependimento” de Perkins. A tragédia instalada em seu país teria feito com que o “assassino”  reavaliasse “o seu passado e chegasse a um forte sentimento de culpa por ter contribuído para a construção do império que tantos danos causara ao mundo, a ponto de provocar reações tão violentas”, informa a repórter. Foi a partir daí que teria retomado a ideia do livro e, desta feita, com o singular título: “Confessions of an Economic Hit Man” (Confissões de um Sabotador Econômico), lançado no Brasil pela editora Cultrix com o título “Confissões de um Assassino Econômico” (outra tradução possível), diz Viana.

Em texto anterior, veiculado nesse espaço, cheguei a falar do clima de duplicata vencendo. As notícias de hoje mostram bem mais que isso. Rosa Weber deu o salve e já estamos no dia seguinte.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal, ex-representante da Interpol em São Paulo

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

14 Comentários

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  1. Rosa Weber sequer analisou o

    Rosa Weber sequer analisou o pedido da AGU, pois tinha vício formal. O Zé Cardozo não sabe fazer seu trabalho e a culpa é de quem lhe aponta os erros, só faltava essa.

    1. Na verdade Zé faz parte da

      Na verdade Zé faz parte da quinta coluna, um sabaotador, ele quer derrubar o governo petista. Trabalhou em onjunto com o STF para que o pedido não fosse aceito.

    2. Josiel, os advogados do Lula

      Josiel, os advogados do Lula entraram com um Habeas Corpus e o Fux disse que não era a via correta. A AGU entrou com um mandado de segurança e a Weber disse que não era a via correta. O PPS/PSDB entregou um pedido escrito num guardanapo de papel daquele restaurante onde almoçaram Serra, Armínio, GIlmar e outro e o Gilmar despachou. Entendeu o espírito da situação?

  2. Olha, esse texto é ótimo

    Olha, esse texto é ótimo porque ele é bem condizente com a realidade mesmo! Esse conflito de interesses de quem detém o capital e vai em busca de povos (“mercados”) para que possa explorar e impor suas culturas e criar dependências é uma característica muito marcante aos seres humanos. É por isso que a Esquerda existe, na busca de equalizar essa força.

  3. Weber faz parte da conexão de

    Weber faz parte da conexão de forças ocultas que volta e meia interrompem a democracia. Esse golpe começou a ser articulado tão logo os EUA deram-se conta de que o Brasil, com a liderança de Lula, estava muito ousado, avançando no campo da defesa, bem como na geopolítica, conforme documentos trocados entre autoridades americanas em 2008 e que foram noticiados por telejornais brasileiros em 2012, o caso WikiLeaks, que resultou na prisão de Assange sob alegação estparfúrdia. Em 2013 jovens do MPL (Movimento do Passe Livre) sairam às ruas, tendo sido estes sido substituidos a tapas e pontapóes pelos fascistas que emergeriam das águas turvas. Estes fascistas dominaram o Judiciário, o Legislativo e, tendo sob dominio a parceira mídia, não foi difícil o assalto ao Poder Executivo. Interessante se notar que, tão logo a embaixadora Liliana concluiu seu trabalho sujo no Paraguai com a derrubada do Lugo, ela fora transferida para o Brasil, começando seus trabalhos por aqui exatamente em setembro de 2013, tendo em mãos dois trunfos: os coxinhas mercenários  nas ruas, aos quais Entidades, empresas, Ongs e dinheiro a fundo perdido do Tio Sam financia.

     

    1. golpe

      Eu acho que foi desencadeado pelo aecim a seguir da publicação do resultadop da eleição de 2014.    E que vem galgando degraus.em velocidade e amplitudes variáveis, por obra de atores que se sucedem:Globo, aécio, Moro, Cunha, FFHH,Serra.Veja, RBS,Mendes,Bicudo et caterva.Paroxismos existem, como no grampo ilegal, no sequestro do LULA .nos rompantes de Moro, nas tramas do temer.

  4. Marcelo Odebrecht cedeu GAME OVER

     

    Marcelo Odebrecht cedeu. O herdeiro da maior construtora do país fechou um acordo para fazer delação premiada e começou a depor para a força-tarefa da Lava-Jato ainda antes da Xepa, a 26ª fase da operação, deflagrada nesta terça-feira.

    Além dele, os demais executivos da empresa investigados também vão colaborar com a Justiça.

    A seguir a nota da empresa:

    “As avaliações e reflexões levadas a efeito por nossos acionistas e executivos levaram a Odebrecht a decidir por uma colaboração definitiva com as investigações da Operação Lava Jato.

    A empresa, que identificou a necessidade de implantar melhorias em suas práticas, vem mantendo contato com as autoridades com o objetivo de colaborar com as investigações, além da iniciativa de leniência já adotada em dezembro junto à Controladoria Geral da União.

    Esperamos que os esclarecimentos da colaboração contribuam significativamente com a Justiça brasileira e com a construção de um Brasil melhor.

    Na mesma direção, seguimos aperfeiçoando nosso sistema de conformidade e nosso modelo de governança; estamos em processo avançado de adesão ao Pacto Global, da ONU, que visa mobilizar a comunidade empresarial internacional para a adoção, em suas práticas de negócios, de valores reconhecidos nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção; estabelecemos metas de conformidade para que nossos negócios se enquadrarem como Empresa Pró-Ética (da CGU), iniciativa que incentiva as empresas a implantarem medidas de prevenção e combate à corrupção e outros tipos de fraudes. Vamos, também, adotar novas práticas de relacionamento com a esfera pública.

    Apesar de todas as dificuldades e da consciência de não termos responsabilidade dominante sobre os fatos apurados na Operação Lava Jato – que revela na verdade a existência de um sistema ilegal e ilegítimo de financiamento do sistema partidário-eleitoral do país – seguimos acreditando no Brasil.

    Ao contribuir com o aprimoramento do contexto institucional, a Odebrecht olha para si e procura evoluir, mirando o futuro. Entendemos nossa responsabilidade social e econômica, e iremos cumprir nossos contratos e manter seus investimentos. Assim, poderemos preservar os empregos diretos e indiretos que geramos e prosseguir no papel de agente econômico relevante, de forma responsável e sustentável.

    Em respeito aos nossos mais de 130 mil integrantes, alguns deles tantas vezes injustamente retratados, às suas famílias, aos nossos clientes, às comunidades em que atuamos, aos nossos parceiros e à sociedade em geral, manifestamos nosso compromisso com o país. São 72 anos de história e sabemos que temos que avançar por meio de ações práticas, do diálogo e da transparência.

    Nosso compromisso é o de evoluir com o Brasil e para o Brasil.”

  5. covardia

    Eu acho que a Min. Rosa Weber simplesmente acovardou-se. Se omitiu,acho-a uma nulidade, ou seja mais uma.Existe no País milhares de juristas muito mais capacitado do que ela prá assumir a cadeira em que  está assentada.

  6. Motivos de foro íntimo é que

    Motivos de foro íntimo é que não faltavam para que a golpista Rosa Weber  se declarasse impedida

    Eliza Almeida disse:

    Não podemos esperar nada do STF. A ministra que irá julgar o Habeas Corpus foi acessorada por Moro no julgamento de José Dirceu. O seu filho trabalha na rede Globo e sua prima é casada com Aécio Neves. E como ela mesmo declarou, condenou Dirceu mesmo sem provas, porque a literatura permitia. Nesse caso, não precisamos de cartas, bolas de cristal para ler o futuro. A pior ditadura é a do judiciário. 

     

  7. Declaração de amor

    Rosa, você é linda e eu sou feio e distrópico (o corretor de texto quer que eu troque prá ditrófico, mas já confessei que sou feio).  Por favor, pare agora! Sua estupidez não lhe deixa ver…que eu te amo! Só lhe peço: livrai-me de ver o Boechá, chantagista flagrado, fingindo ser mineiro em cima do muro!..Prefiro ouvir:  Ela é carioca, ela é carioca…

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