Diretor de Medicina da USP teria pressionado deputados para não marcarem audiência

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – As denúncias das estudantes de medicina da USP que sofreram violações de direitos humanos em festas do Curso foram registradas na Assembleia Legislatica de São Paulo. O diretor da Faculdade, José Otávio Costa Auler Junior, teria pressionado diretamente os deputados da ALESP para que não fizessem a audiência. 

Sugerido por Miriam L

Da Rede Brasil Atual
 
Diretor de faculdade pressionou deputados para suspender audiência que denunciou abusos
 
Além de telefonemas do próprio diretor, José Otávio Costa Auler Junior, que temia pelo nome da faculdade na ‘lama’, houve manobras para esvaziar o quórum na Assembleia Legislativa
 
Por Cida de Oliveira
 
Os deputados da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo foram pressionados diretamente pelo diretor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), José Otávio Costa Auler Junior, para que não realizassem a audiência pública da última terça-feira (11) sobre as violações aos direitos humanos na faculdade.
 
Durante as sete horas que durou a audiência, estudantes denunciaram estupros, assédio e outros tipos de violência durante festas e trotes na instituição. Alunos contaram, por exemplo, que os agressores filmavam os estupros que eram divulgados pela internet.
 
O presidente da comissão, deputado Adriano Diogo (PT), disse hoje (14) que, na última sexta-feira, Auler telefonou diversas vezes para os demais parlamentares e em seguida para o seu gabinete, pedindo a ele a suspensão da audiência.
 
“Exaltado, aos gritos, sem me deixar falar, ele dizia que a reunião não deveria ser realizada porque iria jogar na lama o nome da instituição e que ele iria tomar providências contra os abusos”, disse Diogo à RBA, ressaltando que não houve nenhum tipo de ameaça por parte do diretor. No entanto, ocorreram pressões e até manobras para esvaziar a reunião numa tentativa de inviabilizá-la por falta de quórum. “Mas a audiência acabou realizada na marra.”
 
Professor titular do Departamento de Cirurgia, Auler foi vice-diretor da FMUSP na gestão 2010-2014 e eleito diretor no último 26 de setembro. A assessoria de imprensa da direção da faculdade foi procurada pela reportagem, mas não atendeu às ligações.
 
O caso ganhou repercussão na imprensa. No dia seguinte à audiência, o médico patologista Paulo Saldiva, que presidia uma comissão interna que apura as denúncias na USP, pediu afastamento e disse que deixará o cargo de professor, que ocupa há 18 anos, por causa da falta de providências da direção da faculdade. Em entrevista à Folha de S.Paulo, ele afirmou que o escândalo foi a “gota d`água” para sua saída, apesar de existirem outros motivos.
 
Na última quinta, o estudante do 3° ano da FMUSP, Felipe Scalisa publicou artigo em que diz, entre outras coisas, que a faculdade “precisa da ajuda da sociedade civil para conseguir se espelhar em ética, e que o isolamento da universidade é algo pernicioso”.
 
Para o diretor da Associação dos Docentes da USP (Adusp), Francisco Miraglia, que participou da audiência, o caso é grave, e pior: não é novidade na Faculdade de Medicina, nem na USP como um todo e muito menos em outros cursos de outras universidades.
 
No entanto, segundo Miraglia, a novidade é que desta vez as pessoas resolveram falar, contando em detalhes. “Foi aberta uma ‘caixa de pandora’ em que o nome da faculdade parece ser mais importante que a dignidade humana”, disse, elogiando a coragem de jovens de menos de 20 anos, futuras médicas, que contaram detalhes das agressões sofridas. “O caso exige ser tratado com firmeza.”
 
As denúncias estão sendo investigadas pelo Ministério Público de São Paulo. Há dois meses, a promotora Paula de Figueiredo Silva, da Promotoria de Direitos Humanos, tomou conhecimento da situação quando foi procurada por um estudante que relatou violações constantes de direitos fundamentais, especialmente relacionadas a mulheres e homossexuais.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. Eu que já fui da USP e

    Eu que já fui da USP e convivi com estudantes de medicina na UNESP arrisco meu palpite: os alunos envolvidos possuem sobrenome importante e por isto o caso não foi pra frente no seio da FMUSP. É o típico Brasil dos privilégios aos poucos. Não será diferente agora, pois no TJ-SP o processo não vai andar, e daqui há 10 anos, lá no STF, o GM vai pedir vistas e engavetar até prescrever.

  2. Esupros e outros mais

    Miriam L,

    O diretor da FMUSP acertou na mosca, ele comanda um verdadeiro mar de lama e não está nem um pouco preocupado com o lamaçal, só o preocupa o próprio umbigo e mais nada.  

    O pedido de afastamento do médico patologista, enojado com todo o enredo apresentado pela da escola de samba de JOCosta Auker Junior, parece ter sido a pá de cal na carreira puitica deste, certamente tucano, inconsequente.

    Esta zorra merece todo o destaque na grande imprensa, pois não deve ser privilégio dos delinquentes da FMUSP, deve ocorrer o mesmo em outros centros de ensino.   

  3. Com a palavra os operadores do direito

    A conduta do ministério público precisa ser mais republicana e eficiente. Alô, ministério público?!?! A performance está ruim, muito ruim.

    Nesses casos, de forte ataque aos direitos humanos, o ministério público precisa entrar forte e protagonizar!!!!!!

    tá ruim, muito ruim! A cidadania espera uma atuação do MP mais correspondente com o seu papel e atribuição.

    – cadê a aplicação da prerrogativa de investigação ?!?!?!

  4. “…Alunos contaram, por
    “…Alunos contaram, por exemplo, que os agressores filmavam os estupros que eram divulgados pela internet…”

    Animais…

    Não me surpreendo nem um pouco entretanto.

    Apenas temo que os idiotas daqui se espelhem naqueles de lá.

  5. “…Alunos contaram, por
    “…Alunos contaram, por exemplo, que os agressores filmavam os estupros que eram divulgados pela internet…”

    Animais…

    Não me surpreendo nem um pouco entretanto.

    Apenas temo que os idiotas daqui se espelhem naqueles de lá.

    Ps: e apenas acrescentando o seguinte: qual a novidade?

    Olhem o nivel desses programinhas do tipo bbb, Pânico, A Fazenda..

    Percebam que um lixo igual esse Rafinha Bastos é ídolo.

    Juventude hoje nao tem boas referências.

    Acordem pra vida.. O nivel caiu muito

  6. Está explicado

    É assim que se formam médicos radicais que odeiam o Mais Médicos.

    Repito a triste constatação: até pouco tempo atrás eu achava que as duas profissões liberais mais sujeitas à safadeza fosse a minha, de jornalista, e a dos advogados. Mas ultimamente os médicos atropelaram na reta e estão se revelando imbatíveis.

    Nossa elite está doente.

  7. Universidade é lugar de estudos, não de festinhas

    O Conselho Federal de Medicina já falou a respeito dessas atitudes criminosas? E o Conselho Regional de Medicina de SP? Se bobearem, os alunos que participaram serão médicos dentro de alguns anos, e sabe-se lá o que irão aprontar.

    Uma promotora já se pronunciou:

    http://ponte.org/ha-na-fmusp-uma-cultura-de-repressao-das-minorias-de-discriminacao-e-violencia-sexual-diz-promotora-de-justica/

    Luiz Caversan fala dessas excrescências na FMUSP:

    http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizcaversan/2014/11/1548648-quem-nos-protege-destes-deuses.shtml

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