Pesquisadores do IEA-USP avaliam a trajetória do Brasil desde o fim da ditadura militar
Por Daniel Miyazato
Grupo de pesquisa do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) procura debater os problemas, as dificuldade e as conquistas da Comissão Nacional da Verdade.
Segundo Paulo Cesar Endo, coordenador do Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Democracia, Política e Memória do (IEA-USP), o período de ditadura civil-militar do Brasil deixou marcas que persistem até hoje no país, principalmente no que se refere às instituições de segurança pública.
Para Endo, a impunidade crônica, característica histórica do país, dá margem para uma sistematização da violência, e quem mais sofre com este processo são grupos em situação de vulnerabilidade social.
O professor ainda destaca a dificuldade do Brasil em ver e avaliar suas memórias, o que dá espaço, por exemplo, à deputados federais que defendem a tortura abertamente.
O Jornal da USP, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.
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Comissão da vingança?
A Comissão da Verdade se desviou logo da busca dos fatos, quando seus membros em sua maioria apoiavam punir os responsáveis por crimes do governo, anistiados pelos acordos. Note-se que a punição era apenas para os do governo. Crimes da esquerda (incluindo mortes por bombas e de pelo menos um prisioneiro) foram considerados já esclarecidos e, estes sim, anistiados. Isto levou ao medo de possíveis colaboradores nas investigações, participantes dos acontecimentos da época, serem processados, o que resultou em poucas revelações. Muito pior, para punir um bando de aposentados, deu a impressão aos agentes atuais do governo, policiais e militares, que poderiam ser punidos por atos de guerra ou de violência necessária para defesa da vida ou patrimònio, pois os culpados e seu seguidores fizeram questão de confundir atos legítimos com torturas, mortes de prisioneiros e roubos, estes crimes que deveriam ter sido punidos.
É interessante comparar os métodos e resultados das comissões do Brasil e da África do Sul, neste caso.
Outro ponto que pegou muito mal foi a corrida pelas indenizações, apoiada pela própria comissão, que estabeleceu valores muitíssimo maiores para indenizações de ricos e vivos do que os pagos a mortos, como os camponeses do Araguaia.
O esclarecimento dos crimes é necessário, ainda mais para dar paz à famílias dos ainda hoje desaparecidos Mas para isto é preciso começar de novo, com confiabilidade, se ainda for possível.