Doria e os milionários que estão transformando SP em uma empresa privada, por Fred Giacomo

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Foto: Cesar Ogata/Secom

Do Medium

Dória, Cosac e os milionários que estão transformando São Paulo em uma empresa privada.

Fred Giacomo

Acho que existem diferenças na boa gestão pública e na boa gestão privada. Diferenças que passam pela simples conceituação do que é público (pertencente ou relativo ao povo, que é de todos) e privado (que não é público; particular, o que não pertence ao Estado). Algumas coisas que podem fazer sentido na gestão privada, não fazem na pública. Por exemplo: uma empresa privada como a editora Cosac Naify fazia livros lindos, caros, elitizados e voltados para um público pequeno. Tanto que não vendiam muito, mas ela tinha um dono, que bancava o investimento. A coisa era dele, ele podia fazer o que quisesse, não se importando com o “gosto do povo”. Se a mão invisível do mercado levasse seus livros a serem sucessos comerciais, maravilha. Se os livros encalhassem, tudo bem, ele salvava a seara com um pouco do dinheiro privado da sua família. Eu, como leitor, adorava e comprava os livros da editora sempre que podia (ou sempre que eles entravam em promoção). A maior parte dos meus conhecidos nem fazia ideia do que era a Cosac.

Aí você pega o João “Trabalhador” Dória, ˜gestor que virou prefeito˜ e está sempre agindo nos limites entre público e privado. Ele colocou o milionário Charles Cosac, ex-dono da Cosac Naify, que fechou sua empresa privada que não dava lucro, pra dirigir a Biblioteca Mário de Andrade, que é pública. Charles, numa entrevista pra Folha, diz que está adorando ter um primeiro emprego aos 52 anos. Deixou a vida de herdeiro para ser gestor público. Para começar seu trabalho, ordenou que a Biblioteca deixasse de ser 24 horas e mudou a programação cultural do local. Acabou com as rodas de samba na biblioteca

“Já basta o samba do boteco ao lado.”, diz ele, “Não aguento duas rodas de samba. Esse samba virou flamenco e chorinho. Achei mais adequado.”

“Mas isso não é uma medida elitista”, pergunta o repórter?

“É claro que tenho minhas preferências musicais”, responde Charles, “mas elas não estão sendo impostas. Senão eu não botava chorinho, eu odeio chorinho.”

(Reparem na concessão que Charles faz a esse gênero popularesco ouvido em todos lares brasileiros o… CHORINHO.)

Vamos ao ponto: a biblioteca é pública, pertence ao povo paulistano-paulista-brasileiro, que ao contrário de Charles gosta de samba. (Aliás, leva o nome do antropofágico Mário de Andrade que, ao contrário de Charles, gostava de cultura e música popular). Mas Charles gerencia a biblioteca pública como o “dono da bola” que sempre foi. Pensa o público como privado, usa dinheiro pessoal pra fazer o que acha importante na gestão pública e segue sua missão civilizatória de educar o brasileiro ignorante que não gosta de flamenco e livros bonitos com fontes difíceis de ler. Em resumo, encarna a versão cult do higienismo de Dória, e em vez de apagar grafites e ciclofaixas; Cosac apaga o samba da Biblioteca Mário de Andrade.

Mais uma vez São Paulo, na desculpa de ter uma “gestão profissional”, volta a ser privatizada por uma minoria milionária e branca; liderada por homens que não gostam de “coisa de negro”, de “pobre”, de “favelado”, mas gostam de quadros da Bia Dória e dos livros dos amigos de Charles — ao contrário do escritor Mário de Andrade que era erudito, conhecia os clássicos, mas também frequentava os sambas da negra Tia Ciata e estudava o samba rural paulista.

Fred Di Giacomo é escritor e jornalista
 
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Redação

17 Comentários

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  1. O texto ficou muito, mas
    O texto ficou muito, mas MUITO tendencioso e parcial.

    Não quero defender o Doria ou o Charles, mas criticar sua escrita, Fred.

    Não sei de onde você tirou essas conclusões “liderada por homens que não gostam de “coisa de negro”, de “pobre”, de “favelado”, mas gostam de quadros da Bia Dória e dos livros dos amigos de Charles”, mas eu não vi nenhuma entrevista em que Charles ou Doria afirmam tais coisas.

    Uma coisa é você dar sua opinião e visão, outra é criar situações, gostos e preferências alheias que sequer existem.

    E outra, eu sou brasileiro e não gosto nem um tantinho de samba. Chorinho lá vai, pois tem raizes no jazz, assim como a bossa (e ai daquele que discordar disso sem provar o contrário haha).

    Seja mais coerente nos seus próximos posts (ouso dizer que eu estou sendo incoerente pedindo isso haha).

    Abraço

    1. SAMU

      Concordo e “corajoso”, de fato seu texto ficou mesmo muito, mas MUITO tendencioso e parcial e nem precisava dizer que não queria defender Doria, pois esta implícito no pacote.

      “Haha”, imagino profundas raízes no humor bretão-florentino, quase flamenco, talvez Flamengo, quem sabe Bangu 1, Jardins 5.

      Agora conta pra gente, Cosac, coça ou rala, no primeiro emprego?  

        

    2. “Chorinho lá vai, pois tem

      “Chorinho lá vai, pois tem raizes no jazz, assim como a bossa (e ai daquele que discordar disso sem provar o contrário haha).”.. Não precisa nem responder Fred, o próprio comentário se entrega.

    3.   Das raízes da Bossa

        Das raízes da Bossa qualquer um minimamente informado sabe. Agora dizer que o chorinho tem raízes no jazz… hahahaha. Querido, culturalmente você comeu peru e arrotou mortadela. Da próxima tente não ser tão pedante para defender o prefeito botocado.

    1. POr que será que eles não

      POr que será que eles não servem filé mingnon na merecenda escolar… Talvez seja do gosto do público também… 

  2. É um texto opinativo, não uma
    É um texto opinativo, não uma reportagem, portanto, não existe obrigação de contraditório, ainda que seja fundamental o respeito à ética e à verdade factual, sem falsas acusações. E me parece que não há acusações, apenas a crítica a certo extrato político que não observa os interesses da população e governa com mentalidade preconceituosa. Já o comentarista anterior destila o mesmo preconceito criticado no texto, adotando mentalidade colonizada, de crítica ao país em detrimento da cultura americana. Vamos acabar com o samba, porque madame não gosta de samba. Jazz é que é musica de verdade. Pena, seu comentário só mostra porque somos um país de humilhados.
    P.S.: Adoro jazz e samba.

  3. Eu gosto de Samba mas quero conhecer o flamenco também
    Na minha opinião esse texto é muito crítico somente no sentido de gosto cultural. Eu também sou paulista e gosto de samba, porém quero aprender também sobre outros ritmos outras culturas independente do local onde isso vai acontecer. A biblioteca tem que se renovar sempre com novos livros para expandir novos conhecimentos a todos. Se o novo gestor tem capacidade para gerenciar a biblioteca nós temos que esperar para avaliar sua gestão. O que realmente preocupa é a intenção de fazer uma gestão pública com o interesse financeiro de vender livro. Por fim eu acho muito cedo para julgar um trabalho que só está começando.

  4. Cultura
    Além de não gostar de samba, ainda restringe o horário de funcionamento da Biblioteca, isto que é um homem culto e evoluído.  “Quem não gosta do samba bom sujeito não é ou é ruim da cabeça ou doente do pé”

  5. Uma pequena amostra da tropa de choque de Dória na internet

    Se houver eleição em 2018, será contra isso que a esquerda/oposições vão lutar, uma tropa de choque, bancada com muito dinheiro, varrendo a internet e detectando críticas a quem lhes paga. Apenas uma hora após a publicação, surge o primeiro, não cadastrado, nome fictício, dando uma de isentão, “…não quero defender o Dória ou o Charles, mas criticar sua escrita,Fred”. Que intimidade, não, Fred? Veja bem, Fred, vc exagerou, “Uma coisa é você dar sua opinião e visão, outra é criar situações, gostos e preferências alheias que sequer existem.” Existem sim, seu troll panaca, está aqui: 

    http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/04/1877410-a-frente-da-mario-de-andrade-editor-charles-cosac-fala-em-novo-inferno.shtml

    Menos de uma hora depois (16p4), alguém da equipe regiamente paga pelo prefeito, vem em socorro do colega. E outro às 17p9. 

    Aviso aos babacas: o mais bobinho aqui conserta relógio no fundo do mar com luva de boxe. 

  6. Lamentável

    Mister Charles nasceu em berço milionário e desde tenra idade estudou na Inglaterra onde formou seu  sofisticado gosto literário que todo brasileiro deveria conhecer pois a literatura inglesa, como a francesa, alemã, italiana, só citando algumas da Europa, são top de linha e sobretudo eivadas de críticas ao mundo que o formou. Se deixasse de lado seu contorno milionete e blasé talvez fosse um bom diretor de biblioteca pública interessado em elevar o nível literário dos frequentadores que não tiveram a oportunidade de formação que ele teve. No entanto, revela uma faceta de preconceios contra o que é popular no Brasil de origem africana. Esquece que flamenco é ritmo e dança de origem cigana, logo, dos guetos populares europeus semelhantes aos do samba. Mas da Europa, claro! Sua mente tão brilhante literariamente obscureceu  diante da poesia e ritmo de origem africana (mesma origem do jazz) que o samba revela. Lamentável. 

  7. Lembro que quando a Cosac

    Lembro que quando a Cosac fechou, houve discussão sobre o fim dos livros restantes na editora. Se aqui tivessemos uma elite minimamente decente, o Sr. Charles, ao invés de dar uma entrevista nojenta dessa, ele doaria os lindos livros da Cosac – tenho vários, comprados com sacrifício, a biblioteca Mario de Andrade. Mas essa atitude é algo comum da elite americana que nunca é copiado pela elite brasileira. Aqui, os Marinhos, com dinheiro de pai pra filho, criam um museu do amanhã, mas nunca vão doar um dos maravilhosos quadros que a família possui. 

  8. Dória não é gestor – é da turma do “xoque de jestão”

    Bajulador e só fazia programa para os ricos. Basta assistir seus vídeos de entrevista, se não tiver nojo. Já bajulou Eike Batista, Sergio Cabral, dono da Friboi. Tem que fazer marcação cerrada nele. É muito mais perigoso que Collor (em sua época). Tem atitudes de hipócrita e falso no mais alto grau.

  9. Mediocridade é isso.

    Cosac tá querendo provar uma tese muito culta, muito chique.

    De Rousseau.

    A tese de que o desenvolvimento das ciências e das artes não leva à melhoria dos costumes.

    Só olhar os costumes do sr. Cosac.

  10. O que dizer de um tipinho destes?

    “- Qual sua relação com bibliotecas?

    – Fiz coisas horríveis em bibliotecas. No mestrado, em Essex [Reino Unido], descobri que mudando o livro de lugar poderia ter todos os livros que quisesse. Fiz minha biblioteca dentro da biblioteca, no departamento de química. Espero que ninguém faça o que fiz.”

     

  11. Crise

    O que ninguem consegue ver e` que o Dorian Gray conseguiu emprego para  uma pessoa desempregada ha` 52 anos.

    E ainda falam em crise e desemprego. Que nada! Dorian garante emprego e cultura em Sampa.

     

  12. dois anos

    Só sei de uma coisa, dois anos é tempo suficiente para desmascarar o doria e a turma dele.

    Portanto o que sonham com 2018 podem esquecer…

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