A caçada inclemente à Prevent e a falta de rumos do jornalismo, por Luis Nassif

Pode ser que as denúncias se comprovem; pode ser que não. Denunciar primeiro e conferir depois é herança do sub-jornalismo que consagrou a Lava Jato.

Devagar com o andor, com o caso Prevent Senior.

Trata-se de um plano de saúde que rompeu com os preços exorbitantes do setor, especialmente em relação aos idosos. Conseguiu notável redução de preços através de gestão da saúde, acompanhando o dia a dia dos pacientes, valendo-se do teleatendimento, da medicina preventiva.

Naquele início de pandemia, a hidroxicloroquina e outros similares se transformaram em esperança para muitos setores.

Quando estourou a pandemia, julgou ter o caminho das pedras. Todo mundo estava atrás da pedra filosofal, do medicamento capaz de reduzir a mortalidade. A Prevent tinha a melhor base de dados para a clientela mais vulnerável – os idosos. Parte dessa clientela consumia hidroxicloroquina para outras doenças. E uma pesquisa rápida demonstrou que, nesse público, havia menos incidência da doença.

Aí a Prevent viu a oportunidade maior, de se projetar até internacionalmente, e apostou tudo no remédio. Sua primeira pesquisa foi desmontada pelos especialistas, por não seguir os padrões rigorosos da ciência médica. A empresa ficou de apresentar uma segunda pesquisa, com um universo mais amplo de pacientes. Mas nunca apresentou. Àquela altura, o debate estava amplamente contaminado pela politização absurda conduzida por Jair Bolsonaro.

Agora, explodem denúncias contra a empresa, todas elas baseadas em declarações anônimas de médicos dispensados por ela. 

Em muitos casos, as informações vêm acompanhadas de uma escandalização descabida. Como o carnaval em torno do áudio de um diretor informando que as pesquisas foram citadas por Bolsonaro e por Raoul Didier, o cientista francês que também apostou no remédio, e que, por isso, tinham que ser feitas com muito rigor. A mera menção a Bolsonaro resultou em ilações incriminadoras.

Pode ser que as denúncias se comprovem; pode ser que não. Denunciar primeiro e conferir depois é herança do sub-jornalismo que consagrou a Lava Jato.

Nos últimos meses os planos de saúde e grupos hospitalares se tornaram grandes anunciantes de canais de TV a cabo e rádios – o que recomendaria um cuidado maior para atacar um fator de moderação das mensalidades. A destruição da Prevent poderá consagrar, novamente, a falta de limites dos planos de saúde na cobrança de mensalidades.

Repito: pode ser que as denúncias se confirmem; pode ser que não. Mas atirar primeiro e perguntar depois é coisa da jagunço, não de jornalista.

Luis Nassif

9 Comentários

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  1. Mais um alerta preciso deste grande jornalista. Parabéns ao Nassif, me orgulho de contribuir para o jornalismo honesto, não de jagunço (que ótimo qualificativo).

  2. Prudência é necessário, porém, a se confirmarem as denúncias, o bom atendimento, as boas acomodações e os preços módicos não poderão superar o “custo benefício” de se ter o plano de saúde módico para os idosos que pode encomendar as suas almas tanta eficiência e brevidade.

  3. Pera aí Nassif. Esse tal jornalismo que espera que alguém seja condendo em terceira instância e aceite a condenação sem espernear já é “demais”. Há também um jornalismo baseado em evidências confirmadas por várias fontes independentes que coloca os fatos citados como suposições. Jornalismo poliana também não é jornalismo.

  4. O excelente jornalista Luis Nassif está com a razão. Basta de casos como, por exemplo, da Escola de Base. Esperemos os julgamentos, pela Justiça.

  5. Como assim provar? Sou farmacologista com experiência em ensaio clínico. As provas estão escancaradas. Qualquer ensaio que saia um milímetro do rigor é fraude. Ali saiu metros. Não avisar o paciente que ele está sendo medicado não é só fraude é nazismo. Como vc pode defender isso? Vai contra sua história

  6. Taí uma questão em que é fácil concordar com o Nassif. Tem caroço no angu dos ataques à Prevent Senior. Não é improvável que o plano tenha exagerado e feito algumas bobagens ao longo do processo de tratamento da Covid em idosos. Mas o que está ocorrendo é nitidamente uma campanha patrocinada por parlamentares e possivelmente também jornalistas amarrados pelo lobby dos planos de saúde.

  7. “plano tenha exagerado e feito algumas bobagens ao longo do processo de tratamento da Covid em idosos”
    Pera aí Marcos, aplicar tratamentos sem nenhum exame, omitir ao paciente e aos familiares o tratamento aplicado, fazer uma pesquisa fajuta (omitir mortos) sem que passe por um conselho de ética, ….
    Nos USA estariam todos na cadeia por homicídio doloso.
    Contribuo sempre que posso com o Nassif e sei que ele é contra o linchamento, porém nesse caso no lugar de linchamento temos encobrimento.

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