Delator da Lava Jato diz que dinheiro de corrupção ia para Portugal

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O empresário Hermes Freitas Magnus, ligado a José Janene – um dos pivôs dos esquemas investigados na Operação Lava Jato – explicou ao jornal português Público como colaborou com as autoridades brasileiras com informações sobre lavagem de dinheiro sujo em Portugal. Segundo ele, Janene enviava dinheiro para uma conta no banco português BES. Para Magnus, há um elo entre o “mensalão, a lava jato e o petrolão”.

Denunciante do maior caso de corrupção no Brasil garante que dinheiro passou pelo BES

Por Cristina Ferreira e Paulo Pena

Do portal Público

Hermes Freitas Magnus é um “gaúcho”, descendente de alemães e portugueses. “Inventor”, como gosta de se definir, e empresário, envolveu-se num dos casos mais complexos da história política brasileira. Em 2008, depois de ter feito uma sociedade com um conhecido político do Paraná José Janene, resolveu denunciar à justiça um esquema de corrupção que, seis anos depois, se transformaria no maior escândalo político-empresarial daquele país.

De passagem por Lisboa, onde fez uma curta escala a caminho do Brasil (onde se encontra para depor no processo judicial), contou ao PÚBLICO que há uma ligação entre os três casos que marcaram os últimos anos no Brasil – “mensalão, lava jato e petrolão”. E que há um elo português nesta história: “José Janene tinha dinheiro aqui, no BES.” Dinheiro que, alega, se destinava a ser “lavado” e regressar, depois, ao Brasil. No final de 2008, pouco antes de começar a denunciar o caso à Polícia Federal, Hermes Magnus foi contactado para servir de “mula”: “Queriam que eu levasse para o Brasil dinheiro de contas do BES, no Porto. As contas eram dele [Janene], para lavar dinheiro em Portugal, mas ouvi dizer que estavam associadas a sociedades off-shore .”

Magnus recusou, e o seu substituto nessa operação acabaria por ser preso, num aeroporto brasileiro, com mais de 600 mil euros escondidos na roupa interior. Todos estes factos, incluindo a utilização do banco português, foram transmitidos por Magnus às autoridades brasileiras.

O empresário teve de “fugir do Brasil”, onde foi ameaçado, vítima de perseguição e de fogo posto na sua casa. Só seis anos depois de ter denunciado o caso, viu, “pela televisão”, que os homens que referira à justiça estavam a ser presos. Entre eles está o “doleiro” (cambista ilegal) Alberto Youssef, parceiro de José Janene, e principal elo de ligação entre os vários casos de corrupção entre dirigentes políticos, grandes empresas e sociedades de fachada. Uma destas propôs sociedade à empresa de Magnus, a Dunel, e foi assim que tudo começou. Hermes Magnus assumiu-se como vítima do processo Lava-Jato e pediu ao juiz federal, o brasileiro Sérgio Moro, que proteja os seus interesses. O PÚBLICO teve acesso em primeira-mão à participação entregue no tribunal no passado dia 30 de Janeiro e onde o empresário relata o seu papel como denunciante e os prejuízos que alega ter sofrido de reputação, morais e financeiros.

As suas denuncias demoraram seis anos a produzir efeitos. Sabe porquê?
A ficha caiu, como se diz, este ano. No início de 2014, estava eu vendo TV, passa Alberto Youssef algemado [o “doleiro”, cambista ilegal, envolvido no “mensalão” e na operação Lava Jato, é um dos principais “arrependidos” do processo]. Eu conheço esse aí! Comemos churrasco juntos. Nessa mesma hora mandei um e-mail para o juiz que investiga o caso. E ele me respondeu: ‘As informações que nos enviou foram fundamentais para esse processo.’ Foram as minhas informações que deram origem à Lava Jato.

Mas as suas primeiras denúncias foram feitas em 2008. Na altura ninguém percebeu o que estava a denunciar?
Diziam: “Mais um caso…” Diziam que era uma briga comercial minha com o José Janene [político brasileiro, líder do Partido Progressista na câmara dos deputados em Brasília, e dirigente do Estado do Paraná, acusado no caso “mensalão”]. Com todas as provas que juntei, como vi que não adiantava de nada, fugi do Brasil, no final de 2008. Fui para a Suécia. E em Abril de 2009 fui para os Estados Unidos. Onde fui perseguido também. Não aguentei a pressão no Brasil. Puseram fogo em minha casa, assaltaram o meu carro, esvaziaram minhas contas no banco. Em Fevereiro comecei a dar depoimentos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal. Mas fiquei brigando sozinho. Foi uma sensação horrível. Fui recomeçar a minha vida numa garagem nos EUA. Fui começar do zero. Produzir equipamentos de teste para certificação eléctrica.

Mas antes disso contactou o juiz Sérgio Fernando Moro, que conduziu as investigações na operação Lava Jato?
A conselho de um delegado que eu conhecia, que estava prestes a entrar na reforma, juntei todas as provas e entreguei para o juiz Sérgio Moro. Foi no início de 2009. Ele me deu o e-mail do juiz e eu enviei. O juiz me respondeu, agradecendo. Eu já vinha falando com a Polícia Federal desde 2008, mas o caso não andava… José Janene era “dono” daquela parte do Estado do Paraná.

E quando se apercebeu de que estava a ser envolvido num esquema de corrupção?
Foi logo na segunda semana. Andava à procura de um investidor. E eles apareceram, dizendo: vamos investir na sua empresa e pode ser via bancos do Governo ou com dinheiro nosso, de empresas de construção, o que dispensa burocracias. Como eu e a minha sócia éramos inexperientes, não levámos o projecto a um advogado. Até porque eles nos disseram: é pegar ou largar. E aceitámos. A partir de certa altura, eles começaram a colocar gente da família deles na empresa e começaram a fazer compras estranhas. Por exemplo: precisávamos de um quilo de alumínio e eles compravam cem quilos. E depois transferiam para as empresas deles ou vendiam. O Alberto Youssef sempre esteve ligado ao Governo. Ele levava negócios ao Governo para que este desse garantia de que os aceitava. Havia uma extorsão de dinheiro ao Governo. Eles investiam um milhão e ficavam com 50% da minha empresa. 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

15 Comentários

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  1. A conselho de um delegado que

    A conselho de um delegado que eu conhecia, que estava prestes a entrar na reforma, juntei todas as provas e entreguei para o juiz Sérgio Moro. Foi no início de 2009. Ele me deu o e-mail do juiz e eu enviei. O juiz me respondeu, agradecendo. Eu já vinha falando com a Polícia Federal desde 2008, mas o caso não andava… José Janene era “dono” daquela parte do Estado do Paraná.(sic)

    Estória mal contada, alguém tem o e-mail de algum juiz para enviar uma denúncia pois tenho várias contra tucanos e não consigo nenhum magistrado para receber?

  2. História esquisita essa

    O juiz é inerte, só podendo agir por provocação das partes. Em um processo criminal, a função do juiz começa com o recebimento da denúncia, que é prerrogativa exclusiva do Ministério Público. Não faz sentido o juiz receber provas de alguém sem que haja um processo instaurado, o que só existe a partir do recebimento da denúncia. As provas teriam de ser entregues ao Ministério Público, não ao juiz, que sequer poderia recebê-las. 

    Outra coisa estranha é que um delegado de polícia teria levado o denunciante diretamente ao juiz, sem instaurar inquérito, que seria a única coisa a fazer, sob pena de prevaricação. Ou é lorota, ou tem dente de coelho debaixo desse angu.

    1. Inaugurou-se uma nova fase no Brasil!

      Jorge, inaugurou-se uma nova fase no Brasil, um Juiz faz papel de Polícia, Ministério Público e ainda julga!

      Mais irregular do que isto eu nunca vi!

  3. KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK…

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK…

    Janene, Moro, Yousseff, Paulo Roberto Costa … Todos do Paraná !!

    Mera coincidência, claro … OF COURSE, MY HORSE !!

    E a DILMA cercada de MERDACANTES e MARDOZOS, digo, cardozos…

    ‘Ó têmpora, ó mores’.

     

    “O BRASIL PARA TODOS não passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÃO & GOLPES – O que passa na REDE GLOBO DE SONEGAÇÂO & GOLPES é um braZil-Zil-Zil para TOLOS”

     

     

  4. Há muitos casos pra Dom

    Há muitos casos pra Dom Lulone explicar.

       Mas este é cereja do bolo de Dom Lulone.-     Esse bolo tem muitas cerejas,mas esta especificamente foi colocada por Dom Lulone– e centenas de outras,mas não com tanto carinho.

            Dom Lulone tinha um gosto especial por esta cereja.

            A carreira de assisstente de zoológico deve ser mágica.Em menos de 5 anos ganhando um salário mínimo,passa a ser milionário.

               Meus netos estão estudando pra ser assistente de zoologia.Eu escrevi ASSISTENTE.

              E QUE GANHAVA UM SALÁRIO E MÍNIMO E NÃO SE FORMOU.

          

  5. Oh! Coitado…
    Vitima e

    Oh! Coitado…

    Vitima e célere liga pro juiz. Sabe quem vai ser a vítima, ordinário. A Dilma, que foi eleita pelo povo brasileiro e o PT e seus militantes. E uma parte do povo brasileiro que quer votar no Lula na próxima eleição e safados do seu tipo  trabalham a soldo para lhe cassar os direitos políticos.

    Pro inferno com tanta hipocrisia. Onde ele estava no episódio Banestado? Só pode ser em Marte porque para churrasquear com Youssef…

  6. Na decisão da RCL 10812

    Na decisão da RCL 10812 perante o STF,  aba DJ – nº 234 do dia 03/12/2010 se tem outro histórico e informações adicionais.

     

  7. “Alberto Youssef algemado [o

    “Alberto Youssef algemado [o “doleiro”, cambista ilegal, envolvido no “mensalão” e na operação Lava Jato, é um dos principais “arrependidos” do processo]”.

     

    Alguém refresa a mente do rapaz, ‘vítima de bandidos de alto calibre’ (coitadinho), que o Youssef foi o ator principal do caso do Banestado [também conduzido pelo Moro, o agora vazador seletivo].

     

    Para afastar aquela história de brasileiro ter eméoria curta.

     

     

  8. Então se foram essas

    Então se foram essas denúncias que deram causa à Lava-jato, elas contradizem Despacho/Decisão exarada por Moro na AÇÃO PENAL Nº 5083351­89.2014.404.7000/PR de 02/02/2015:

    “É certo que, apesar do início restrito, buscando elucidar a atividade criminosa de Carlos Habib Chater, houve ampliação do foco da investigação em decorrência dos resultados alcançados, primeiramente a relação dele com Alberto Youssef e outros supostos doleiros, depois a relação de Alberto Youssef com Paulo Roberto Costa e outros, tudo em desdobramento natural das investigações”.

  9. Então se foram essas

    Então se foram essas denúncias que deram causa à Lava-jato, elas contradizem Despacho/Decisão exarada por Moro na AÇÃO PENAL Nº 5083351­89.2014.404.7000/PR de 02/02/2015:

    “É certo que, apesar do início restrito, buscando elucidar a atividade criminosa de Carlos Habib Chater, houve ampliação do foco da investigação em decorrência dos resultados alcançados, primeiramente a relação dele com Alberto Youssef e outros supostos doleiros, depois a relação de Alberto Youssef com Paulo Roberto Costa e outros, tudo em desdobramento natural das investigações”.

  10. Palavra de delatores picaretas tudo bem, mas e as investigações?

    Quando passarão realmente a investigar os crimes, que se sucedem desde a década de 80, ao invés de apenas escutarem a palavra de delatores picaretas demotucanos? Essa operação conduzida por tucanos e totalmente partidarizada cheira muito mal. Por que FHC, o governo mais picareta de todos os tempos, que tentou doar a Petrobras, não aparece nas investigações? Foi ele que nomeou o também tucano Paulo Costa. Cansamos de ser enganados!

     

    P.S.: Essas empreiteiras são “parceiras”  dos demotucanos há décadas. Estão doidas para os tempos em que a corrupção comia solta sem nenhum ibope e sem serem incomodados voltem. Bando de picaretas!

  11. Mais uma armação tucana

    Outro picareta, safado, sem vergonha, contribuindo com a operação demotucana para desestabilizar o atual governo. Salafrário, vagabundo! O tucano Youssef é amigo íntimo de Álvaro (esqueci de declarar 6 milhões) Dias. Se esse picareta esteve em churrasco com ele é porque também é bicudo. Corrupção na Petrobras existe desde que ela tem esse nome. As empreiteiras envolvidas têm negócios com demotucanos desde atens dessa coligação acontecer. CANSAMOS DE SER ENGANADOS! Pau nesses tucanos safados!

  12. Picaretaço. O PÚBLICO, aliás,

    Picaretaço. O PÚBLICO, aliás, é um jornal moderninho que se presta a ser a Folha de Portugal, só que muito mais bem feito que a folha daqui. Encontrem-no, comprem e comparem.

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