Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Anarriê, alavantú X – Daria pra meroiá um pouco?, por Rui Daher

Façam suas apostas. Contem-me. Falem comigo. Será que escrevo só pra minha editora Dona Lourdes e pra mim?

Traços do Brasil – Lu Paternostro

Anarriê, alavantú X – Daria pra meroiá um pouco?

por Rui Daher

A cantora luso-brasileira Carmen Miranda (1909-1955), depois de ter morado e feito sucesso nos Estados Unidos, entre revoltada e sarcástica, voltou ao Brasil cantando: “Disseram que eu voltei americanizada”.

Nada disso. Tirando a erudição histórico-nacionalista fóbica do saudoso José Ramos Tinhorão (1928-2021), Carmen, classicamente, representou o Brasil, em trajes, dança, canto, acompanhamento (“Bando da Lua” – os mais conhecidos Aloysio de Oliveira – que vale artigo especial, e o pandeirista Vadeco, entre outros).

Levando em paródia parte desta crônica, galhofo:

“Disseram que eu fiquei um velho ‘passadocrata’,
Com nojo do presente, pretencioso fico.
Que não suporto mais o esganiçado sertanejo,
E fico enjoado quando ouço Marílias um tico”.

Não sou um mero iconoclasta do novo. Muito menos do novo normal. Gosto de muitas e muitos jovens da área cultural brasileira. É o caso de alguns jovens jornalistas da Globo News, em quem vejo futuro, como Nilson Klava e Natuza Nery, além da novata Paola De Orte, que em ótimas matérias cobre a guerra Israel-Palestina. Prefiro-os a certos caquéticos, como Demétrio Magnoli e Eliane Cantanhede.

Fora do jornalismo, vejo com bons olhos, na música, especialmente no Nordeste, os compositores, musicistas e cantores, Zeca Baleiro, Lenine e Lucy Alves; no teatro, Gustavo Colombini; no cinema, diretores como Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles (Bacurau, 2019), Fernando Meirelles e Walter Salles (em seus trabalhos no exterior, o mesmo em relação ao ator Rodrigo Santoro.

No caso das séries nacionais, sucedâneo aggiornato das longevas novelas, que começaram nas rádios (lembram-se das Rádio São Paulo e Nacional do Rio de Janeiro?) que depois migraram para a televisão, vale lembrar os diretores Jorge Furtado e Andrucha Waddington, o roteirista Márcio Alemão (Sob Pressão, 2017), e os atores da mesma série Júlio Andrade e Marjorie Estiano.

Nas artes visuais, de que confesso parcos conhecimentos, me encantam (e aí só falamos de jovens) os ótimos artistas brasileiros que produzem grafite (Street Art), como Eduardo Kobra, Os Gêmeos, vários outros, e especialmente um, que mora e produz em Ilhabela, SP, e que por questão de modéstia, sou impedido de mencionar, pois além de produzir ensina crianças de comunidades de pouco poder aquisitivo a seguirem a vida nas artes.

É certeza os leitores, principalmente, mais jovens citarem outros artistas da área cultural, com a mesma qualidade reificada por este velho ‘passadocrata’. Gostaria de conhecê-los, como aqueles com quem convivi no passado.

Sei que aqui registro a partir do mainstream, sobretudo pela condição de há quase três anos não poder movimentar-me com a desenvoltura do passado, mas sei que nas periferias, principalmente quando se trata de samba ou qualquer outra forma de arte brasileira há muito a se glorificar.

Façam suas apostas. Contem-me pra que disfarce minha velhice e ignorância. Falem comigo. Será que escrevo só pra minha editora Dona Lourdes e pra mim?

Intè! Quero um Brasil se renovando com o nível abaixo.  

Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

1 Comentário

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  1. Rui,

    A mais perfeita definição do Tinhorão que já vi: “erudição histórico-nacionalista fóbica do saudoso José Ramos Tinhorão (1928-2021)”.

    Grande abraço

    PS.: Vai no Sarau sábado?

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