Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
[email protected]

Anarriê, Alavantú XI – Só multiplicação dos pães? E dos circos? Por Rui Daher

O governo, em seu terceiro mandato e a condução da economia neste primeiro ano jogam iluminação e esperança sobre a aproximação com o social.

Palhaço grafitado, em foto de Marloes Hilckmann / Unsplash.

Anarriê, Alavantú XI – Só multiplicação dos pães? E dos circos?

por Rui Daher

Em outros textos, aqueles de teor político, escrevi que o povo brasileiro, em sua essência, guarda características profundas de caráter que só foram bem explicitadas com a experiência do bolsonarismo.

Não que o ser hediondo pudesse voltar a ameaçar o Estado Democrático de Direito. Perdeu o bonde. Bastou que um democrata com características de estadista assumisse o poder para que ficasse evidente, diante do mundo, o antecessor como um ogro desmoralizado, comprometido com o que há de mais retrógrado na forma do pensar democracia e liberalismo, ironicamente, o contrário do que diz a mídia corporativa ao conduzir a opinião das redes sociais.

Grande parte da vontade popular se posiciona a favor de balas, violências de gênero e opção sexual, é contra causas identitárias, pouco se preocupa e cuida da preservação ambiental, entra em qualquer esparrela financeira que lhe pareça rentismo, acredita piamente as Forças Armadas serem a verdadeira reserva moral do País, vê a qualidade da cultura decadente e nada faz. Em resumo, caso o tempo não nos traga uma revolução cultural, educacional e modernizadora, os grotões pobres e médios continuarão bolsonaristas, mesmo sem Jair Messias e sua pândega prole.

Mas de onde poderá vir isso? O pão é óbvio. O atual governo, em seu terceiro mandato e a condução da economia neste primeiro ano jogam iluminação e esperança sobre a aproximação com o social. Mesmo em suas difíceis relações fisiológicas com o Congresso.

O segundo viés, de forma metafórica, precisaria vir do circo, a partir de seus microcosmos municipais. Escolas de formação cultural e artística com a participação de arte educadores, sobretudo, daqueles que tiveram, por seus pais, bundas que não deveriam pesar sobre o País.

Domingo passado (10/12 – 10:45h), assisti ao documentário (TV Cultura, SP) “Corações e Mentes – Escolas que Transformam” dirigido por Cacau Rhoden. O trabalho viaja os quatro cantos do Brasil em busca de escolas que protagonizam grandes transformações na educação. A produção é da Maria Farinha Filmes.

Mostra grande número de iniciativas municipais que estão sendo realizadas, através departamentos públicos, organizações não governamentais, empresas privadas, não somente voltadas à alfabetização ou ensinamentos convencionais, mas fundamentadas na vida em si de cada cidadão, em seus afazeres diários, organizando-os a partir de suas lidas. Reconhece, como capiroto não o fez, Paulo Freire (1921-1997).

Para adultos, vai-se desde a arrumação das casas até modos culinários e de cultivo correto e menos custoso de produção dos alimentos, com as vocações naturais das várias regiões. Cuidados preventivos com a saúde, partindo de hábitos de higiene e cuidados contra riscos caseiros.

Para as crianças, o circo nas escolas, entendido como arte, arte e mais arte. Jovens educadores que, além de estudarem as várias formas de arte, com treino e convívio, são capazes de perceber nas crianças, inclusive em conversas com os pais, tendências e perspectivas de talento em qualquer criança sobre várias formas de ensinar e praticar arte. Deem-lhes circo, mesmo porque o circo, em si, também é arte.

Dança, malabares, pintura, escultura, dança, música, canto ou tocar um instrumento, teatro, marionetes. Fazer ou, pelo menos, começar dizendo o que são, representam, o que é ser planetário, o que nenhuma outra profissão é, senão professor.       

Durante muito tempo eu e a família frequentamos Ilhabela (litoral norte de SP), um dos únicos municípios-arquipélagos do Brasil, fundado em 1805, atualmente, com população de 40 mil habitantes e área de 305 km². Para quem, turisticamente, o conhece logo percebe um local pleno de atributos paradisíacos.

Mas, colunista menor, e a Ilhabela, por quê?

Ih, é mesmo. Desculpem-me. Vez ou outra, voo a Minas Gerais, encontro o Pinduca, de terno branco, esperando o trem na estação, ele não chega, vou até o Clube da Esquina, flerto com uma menina na Rua Ramalhetes, sussurro no ouvido dela coisas que a fazem tremer dentro do vestido, e lisergicamente acabo voltando ao tema do texto.

Como disse, por muitos anos, nós e os três filhos frequentamos o arquipélago-município, em hotéis e, mais tarde, em pequeno imóvel, comprado com muito sacrifício, e mais tarde tomado em leilão por advogados inescrupulosos de um banco alemão que já deixou o Brasil.

Daquele tempo, sobrou o povo mais humilde com que convivemos. Amo-os.

Os “amigos possuidores”, que poderiam ter evitado a perda do imóvel não o fizeram. Foi o ethosbolsonarista que os moveu. Vistam a carapuça! Já teria devolvido todo o rico dinheirinho deles de volta.

Mas foi lá que escrevi boa parte de meus textos passados, inclusive as crônicas que se tornaram o livro “Dominó de Botequim”, percebi a necessidade de parte da educação ser realizada através do “circo”.

Vendo as iniciativas que proliferam Brasil afora lembrei o quanto seria maravilhosa uma iniciativa dessas para as caiçaras, onde manhãs de domingo eu saía para comprar peixes frescos.

Inté!

Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected]. O artigo será publicado se atender aos critérios do Jornal GGN.

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador