Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Anarriê, alavantú XI – Tarso de Castro, foi o jornalista mais criativo do Brasil, por Rui Daher

Se quiserem saber mais desse excepcional jornalista, assistam ao documentário “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro"

Anarriê, alavantú XI – Tarso de Castro, foi o jornalista mais criativo do Brasil

por Rui Daher

Tarso (1941-1991) foi um gaúcho de Passo Fundo que logo veio a se tornar carioca, transmissão comum dos pampas à Cidade Maravilhosa que poucos saberão explicar. O mesmo acontece com escritores nascidos em Juiz de Fora (MG) e redondezas. Seriam falta dos verdes mares, praias princesinhas, Cristo Redentor Grandão, maior dos erigidos a abençoar municípios menores do Brasil?

Na mais leve definição, mesmo que coragem para inovar não seja apanágio da nossa intelligentsia, Tarso, junto com outros príncipes das letras, em “O Pasquim”, dessem a saída para recriar a linguagem jornalística brasileira, a mais próxima de nosso falar. Tá? Porra! Anta de Tênis. Dicas.

Haverá controvérsias, sei. Jurássicos “dinos” da atual mídia brasileira o considerarão, como no futebol se pensa de Neymar Jr., um craque dentro de campo e um ser repugnante extracampo. Bobagem. Como se a história não demonstrasse essa dicotomia boba.

Assim foi com Tarso de Castro no jornalismo, como o foi com o escritor negro Lima Barreto (1881-1922), nascido no bairro das Laranjeiras, Rio de Janeiro, onde faleceu prematuramente, aos 41 anos de idade, na cidade onde nasceu. Motivos de morte não diferentes dos de Tarso.  

Corajoso durante os anos de chumbo, até mesmo seu filho, João Vicente de Castro, ator (?), apresentador de programa de entrevistas (?) e humorista do coletivo “Porta dos Fundos” e do bate-papo “Papo de Segunda”, GNT), além de bonito e charmoso garoto propaganda (?), certa vez, ao mencionar seu pai, a ele se referiu de forma a alimentar essa ridícula dicotomia, ao citar que nas lembranças do pai sobravam os odores de álcool e tabaco. Será?

Não demorou a se redimir, em depoimento a um editor da Folha:

“Como sabia que ia morrer jovem, ele se apegou muito a mim, me levava pra todo lado, para o bar, para as Redações. Eu dormia na cama com ele, convivemos de modo intenso. É o maior exemplo de amor que tive na vida”, diz o filho.

Isso nunca diminuirá o valor de quem, em plena ditadura militar, escreveu que “no Brasil democracia é intervalo comercial”, ou “tem golpe aí … o pato somos nós” … ainda, “viver é fácil, a dor é apenas o intervalo para fumar”.

Tarso, na Folha de São Paulo, criou o suplemento “Folhetim” (durou apenas até 1977, tantos foram seus excessos na Redação.

Voltou como colunista em 1982. Foi demitido pelo Projeto Folha (início dos anos 1980), criação marota de Octávio Frias Filho, que na esteira de uma campanha, quase de unanimidade nacional, predatória, mercadológica e destrutiva, porém, contra o ex-presidente Fernando Collor de Melo, fez o jornal ganhar alta circulação.

Na nova Redação criaram um “Manual”, em tudo correto, e no prédio da Barão de Limeira, os jornalistas da nova geração, mesmo os menos caras-de-pau (Pepe Escobar, Matinas Suzuki Jr., Wagner Carelli, outros), se aproveitavam da oportunidade empregatícia, e perguntavam: “imaginem se o Tarso seguirá o Manual de Redação” do Tavinho”? Não deu outra. Foi, novamente, demitido,

Menos de uma década depois, período em que tentou várias publicações fracassadas, Tarso de Castro morreu, antes de completar os 50 anos de idade.

Voltarei ao assunto, mas se quiserem saber mais desse excepcional jornalista, assistam ao documentário “A Vida Extra-Ordinária de Tarso de Castro” (Leo Garcia e Zeca Brito, 2018 – YouTube) ou leiam a biografia escrita por Tom Cardoso, “Tarso de Castro -75 kg de Músculos e Fúria”, lançada em 2005 pela editora Planeta.

Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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