Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Anarriê, alavantú XIII – Virado na Virada, por Rui Daher

Uma semana do ano que me deixa, realmente, de saco cheio. Ela é “Anarriê (para trás), Alavantú (para frente)”, vale dizer, não sai do lugar.

Banksy

Anarriê, alavantú XIII – Virado na Virada

por Rui Daher

Sei de uma semana do ano em que a estudantada, aplicada ou não, chama de “saco cheio”. CDF – cus-de-ferro -, aproveitam-na para reforçar estudos nas matérias em que estão mais fracos, e precisam de mais nota nos exames de fim de ano prestes a chegarem. Plenos responsáveis, mas por que não o foram antes? Cagaço das broncas paternas ou maternas, proibição de férias alentadoras, ou castigos mais severos, por exemplo, namorar só de camisa de vênus nos lábios.

O pai, cinéfilo, apreciador de filmes de arte: “Você já assistiu a algum filme “Mad Max”, com o Mel Gibson? Não? Se não passar de ano, internet ou TV serão só para isso.

A mãe, dona de casa conformada: “Quem lava suas meias e sempre as encontra melecadas? Pensa que eu nasci ontem? Se não passar de ano, deixo-as para você lavar e ainda espalho pelo bairro.

Quem caga para os estudos e sabe se safar das ameaças parentais, vibra e espera ansioso pela bendita semana. Inventa período de pesquisas de biologia marinha em Trancoso (BA) com um grupo da escola ou tira pra não fazer picas no que tange aos assuntos curriculares. Procurar castas imagens de amor nas plataformas digitais, sem nunca as encontrar, e conformar-se com as pornográficas: “Ah, eu não sou católico, não preciso confessar”. Semana do saco cheio terminada com ele mais vazio. Entenderam, né?  

Somos, eu e minha mulher, daqueles que já passaram por necessidade de patrulhamentos assim, sem qualquer preocupação. Que fizessem o que bem quisessem e ponto. Historicamente, assim como aconteceu com os caráteres do padre Júlio Lancelotti e do músico e escritor Chico Buarque de Holanda, tudo correu bem e, hoje em dia, sabemos, deu certo. Ótimos.

Agora tratemos de mim. Há uma semana do ano que me deixa, realmente, de saco cheio. Ela é “Anarriê (para trás), Alavantú (para frente)”, vale dizer, não sai do lugar.

As decorações das ruas e as ofertas no comércio óbvias e repetitivas; começa com as árvores artificiais ou naturais, empelotadas dois meses antes da semana fatídica; predomina único ritual religioso sem batuque e mandinga; bonecos vermelhos (todos míopes) são vestidos e preparados para mergulhar no rio Moscou; extintos os jogos de futebol; é obrigatória a necessidade de presentear um ao outro; para amenizar os gastos, por si só dispensáveis, inventaram o “amigo secreto ou oculto – varia com a região”; a Missa de Natal é do Galo, alto machismo, por que as galinhas se perguntam “mas como sem nós elas se reproduzirão, durante o ano, por todo o planeta?”

Nada falarei sobre as repetitivas, palavra por palavra, emissões midiáticas, pois já galhofas de muitos amigos meus. Tão ligado sou que nem lembro se na São Silvestre choveu, um branco de pernas gordas, pesando 143 kg, nascido no Alasca venceu e um brasileiro teve como melhor classificação o sexto lugar.

Chegam os dias 24 e 31 de dezembro. As ceias. Nada de seios, embora nada haveria de mal. Em uma semana, seria tempo da Virgem Maria já estar amamentando seu rebento.

Bem, é verdade que nós não dispensamos as obviedades assadas, chesters, perus, pernis, frangos (embora as aves já estejam danadas pela superstição), e fakes farinhas disfarçadas com passas e frutas secas que o país nunca colheu.

Mas nenhum ovo frito, uma saladinha de tomates, bifinho malpassado, frango à passarinho (ou o próprio pequenino veloz voador). Champanhe francês, e só de região específica. Quem veio nos enganar sabem, não?

Claro que sim. Os espumantes, frisantes, frustrantes … POU! Tim-Tim! Não esqueçam das lentilhas nas palmas das mãos e das uvas verdes.

Pronto Ano-Novo garantido. Trolhas evitadas. O mundo não irá se acabar.

Então, tá. Acredito, mas a exemplo, da semana do saco cheio estudantil, não poderíamos aumentar o espaço de tempo entre o Natal e o Ano Novo. Duas vezes, vá lá, mas a cada seis meses. Junho e dezembro eu topo.

E pra quem sofreu a mesma semana de dissabor, ofereço duas musas.  

Rui Daher – administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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Rui Daher

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