E ai, entendi o sentido da palavra “paredon”, por Armando Rodrigues Coelho Neto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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E ai, entendi o sentido da palavra “paredon”

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Seu rosto está estampado na cédula de 10 mil pesos em circulação na Colômbia. Conhecida como “La Pola”, seu nome real é Policarpa Salavarrieta Ríos. Foi escrava, empregada doméstica, hoje é considerada símbolo da liberdade e heroína da independência de seu país. Em sua homenagem foi erguida uma estátua na Praça da Constituição, em Bogotá. Sua luta contra os espanhóis teria começado durante a “Revolução dos Comuneros” (plebeus), em 1781, quando se juntou aos crioulos, mestiços, negros e indígenas, num embate contra a exploração, usurpação de terras indígenas, aumento de impostos, entre outras trincheiras. Mas, foi uma incompreendida em seu tempo.

Esse texto era para ter saído ontem, mas me perdi. Por instantes presumi que o vigilante leitor estivesse sofrendo a mesma dor cívica que eu. Insistir e me perdi. Pensei em enumerar os juízes ladrões que julgavam a Presidenta Dilma. Pensei no sinistro papel do ministro Ricardo Lewandowski, representando a coroa de flores no velório da Democracia. O STF, que enfrentou a “República da Espada” e recusou cinco ministros indicados por Floriano Peixoto, entre eles o médico Barata Ribeiro, vive hoje instantes de covardia, sem a desculpa dos tanques e baionetas de 1964.

Ocorreram-me as gravações clandestinas sugerindo que o STF e o Exército Brasileiro eram aliados de Eduardo Cunha/Temer. Pensei em falar do filminho pornográfico durante as sessões de um golpe; que bandido algum quer chamar o golpe pelo nome – nem o ex-assaltante de banco Aloizio Nunes! Confuso, pensei reverenciar Marcola (PCC) e Bin Laden (Al-Qaeda), porque nunca tiveram vergonha do nome dado aos seus atos. Eis os flashes que me passaram pela cabeça durante a maior farsa jurídica da história brasileira, entre eles, um saquinho balançando, contendo aparente pó branco…

Pontuei a ideia fixa de recorrer a “La Pola”, para homenagear a Presidenta Dilma Rousseff, titular de 54 milhões de votos, ontem solapados por um covil de ladrões. E meu veio a lição primária do Direito: não há crime sem lei anterior que o defina. Crime exige perfeita adequação da conduta à norma penal. Direito Penal não permite analogias, interpretações extensivas. Se não há crime…

Mas, lembrar isso para que, se numa fala que entrará para a história José Eduardo Cardoso já havia dito tudo?!. Se a negra Senadora Regina Sousa (PT/PI), tratada maldosamente como “tia do café” por Danilo Gentili, já tinha dado seu recado? Foi ela que destacou a misoginia da “elite” brasileira; falou da tirania soberba dos vira-latas que rejeitam pobres em aeroporto e açougues. Ela que explicou o golpe com a fábula do “Lobo e o Cordeiro”. Dizer o que, depois da surpreendente eloquência, altivez e coragem a Presidenta Dilma Rousseff no desmascarar do golpe?

… Melhor seria falar do filme Titanic. Quem assistiu já sabia, antes, que o navio afundaria no final e assistiu só pra ficar triste, chorar. Se quem compra o mais compra o menos (Senado), o golpe era inevitável. No Titanic restou o consolo de que um cineasta, mais tarde, foi procurar uma suposta sobrevivente e reencontrou no fundo do mar e da história um “Coração Valente” pronto pra ser pendurado no pescoço de sua dona…

A história do Titanic foi recontada, mas não sei se viverei bastante para ver a Rede Globo pedir perdão novamente para a história, justo ela, que durante o ritual golpista estava ensinando o povo a fazer ovo cozido.

Sensibilizado com a altivez da Presidenta Dilma Rousseff, insisti em “La Pola”. Altiva, mulher além de seu tempo, atuou até como espiã na luta contra a dominação espanhola. Quando sob as garras dos espanhóis, foi condenada ao fuzilamento. Queriam por venda nos seus olhos, mas ela se recusou. Quis, com “o coração valente” de sempre, olhar nos olhos de seus algozes. Assim, como Dilma Rousseff o fez diante do covil perplexo.

A história ensina que o inimigo não seria tão forte, se não tivesse como aliado suas próprias vítimas. O povo colombiano foi anestesiado pelas benesses do Império Espanhol e o povo brasileiro anestesiado pela TV Globo. Desse modo, Dilma e “La Pola” foram condenadas sem reação popular. La Pola, em seus instantes finais, recusou-se a repetir os conselhos dos religiosos que a acompanharam para o cadafalso e gritou: “Povo indolente! Quão diversa seria vossa sorte, se conhecestes o preço da liberdade. Vejam, ainda que mulher e jovem, me sobra valor para sofrer esta morte e mil (outras) mais.” Foi fuzilada com apenas 21 anos.

De repente, um defensor da paz me surpreende: descobri o sentido da palavra “paredon”!

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista e advogado, delegado aposentado da Policia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

3 Comentários

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  1. O Paredon brasileiro

    Perfeito.

    E por aqui temos o nosso paredon às avessas.

    O STF, o paredon que segura o conservadorismo cinco vezes centenário.

    Nada de novo.

    Mais importante é o problema das pipocas…

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