O andar da carruagem
por Izaías Almada
Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. O vazio?… É quando entramos numa roda viva.
O pensamento acima é uma reflexão poético/musical feita há alguns bons anos por Chico Buarque de Holanda, quando o Brasil acabava de entrar em mais uma roda viva, outro período antidemocrático sempre com a tutela de militares “patriotas”.
Aliás, há uma foto significativa de um desses militares patriotas batendo continência em frente à bandeira dos Estados Unidos da América.
“Já estou farto de semideuses” desabafou o grande Fernando Pessoa em um de seus poemas.
E nós, brasileiros, já estamos fartos de militares patriotas, caro Fernando Pessoa.
De tempos em tempos o Brasil é salvo do comunismo, essa ideologia e esse sistema econômico que nunca vingou no Brasil, mas que (e perdoem-me o palavrão) a elite brasileira e seus militares gostam de usar como desculpa para tirar do poder governos democráticos eleitos pelo voto popular.
Com toda certeza o leitor já ouviu frases como:
– Olha, se o comunismo chegar ao Brasil, todo mundo vai ter que dividir sua casa com os pobres e os vagabundos…
Bobagens como essa eram afirmadas com “conhecimento de causa”. E quais seriam esses conhecimentos de causa? Nenhum, arrisco-me a dizer,
E agora que o PT voltou a governar o país, através do presidente Lula da Silva, em aliança com outros partidos, o zumzumzum começa a ser ensaiado pelas velhas raposas de sempre.
O que espanta no Brasil é a nossa ignorância secular sobre economia, política e justiça social. E, sobretudo, sobre História.
Enquanto a caravana de carruagens passa cheia de “notáveis” e “poderosos” a tomar champanhe e comer brioches (não é mesmo Maria Antonieta?), um juiz do STF mantém presa uma mãe que se apossou de duas latinhas de leite condensado para matar a fome dos filhos.
Existem outros cidadãos que adoram leite condensado, um deles até chegou à presidência da república e, mesmo sob as suspeitas de receber joias caríssimas para beneficiar empresas estrangeiras (alguém aí falou em patriotismo?), nem por isso a justiça brasileira mandou prendê-lo, até o dia de hoje, pelo menos.
“Terra adorada, entre outras mil, és tu, Brasil… Ó Pátria amada!”
É isso. A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu… A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva e carrega o destino prá lá!
Até quando?
Izaías Almada é romancista, dramaturgo e roteirista brasileiro nascido em BH. Em 1963 mudou-se para a cidade de São Paulo, onde trabalhou em teatro, jornalismo, publicidade na TV e roteiro. Entre os anos de 1969 e 1971, foi prisioneiro político do golpe militar no Brasil que ocorreu em 1964.
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