A ocupação da França

Comentários sobre o post “O Hotel Meurice e a libertação de Paris na Segunda Guerra”, por André Araújo

O documentário Uma História Íntima: A França sob a ocupação nazista (L’Occupation Intime), retrata um período conturbado na história da França sob o domínio alemão. L’Occupation Intime foi montado a partir de filmes amadores inéditos, realizados pelos próprios alemães, mas também de testemunhos franceses, músicas e cinejornais da época.

Narrado por Alain Delon e sua filha Anouchka Delon, que através dessas imagens de arquivos selecionadas, restauradas e a cores, L’Occupation Intime também procura refletir a ambiguidade da época, nos mergulhando na intimidade dos dois campos da história, por vezes compartilhados.

Realizado por Isabelle Clarke e Daniel Costelle, o documentário ainda nos levanta o véu sobre um tabu que continua persistindo na história da França, onde busca restabelecer algumas verdades e despertar as mentes dos mais jovens.

A OCUPAÇÃO ÍNTIMA

Em junho de 1940 a França é invadida pelo exército alemão. O país permanecerá ocupado pelo inimigo por cerca de quatro anos. Os invasores procuram se estabelecer e desfrutar da sua nova riqueza.

Com instruções para agirem “corretamente” com os franceses, os soldados alemães faz uma operação de “charme”. O objetivo é tornar com que a ocupação seja aceita para manter a ordem, enquanto que a maioria da população derrotada é privada de sua vida cotidiana.


No entanto, muitos franceses se colocam a favor da ocupação. Alguns vão mesmo apreciá-la. Os colaboracionistas atingem quase todos os seguimentos da sociedade francesa e, particularmente, as mulheres que se tornam testemunhas privilegiadas da ocupação, muitas das quais depois que foram separadas de seus companheiros/maridos durante a guerra, se entregam em suas memórias neste documentário.

Resistentes ou simplesmente consentindo amorosamente se relacionarem com os ocupantes, fazendo desta forma com que os espectadores não fiquem indiferentes. Com seu talento, Alain Delon conduz o público para dentro da história. Ecoando isso, Anouchka Delon, representando uma espécie de símbolo da nova geração francesa, procura fazer com que o filme eduque os mais jovens. Com sua voz, ela também carrega as testemunhas aos seus passados para nos contarem as histórias que viveram.

Escrito e dirigido por dois mestres do gênero, Isabelle Clarke e Daniel Costelle, a partir do livro de Patrick Buisson, L’Occupation Intime contou com um orçamento de 500.000 euros para narrar esses eventos de 1940-1944, experimentados por todos aqueles que sofreram: civis, militares, artistas e trabalhadores em geral, pessoas comuns e privilegiadas.

Durante os quatro anos de ocupação, para muitos alemães eram como se fosse uma espécie de piquenique. Os soldados alemães, antes de serem enviados para a frente russa, acabaram por marcarem suas presenças inteiramente visíveis nesta França ocupada.

Em algumas cidades, os relacionamentos foram simplesmente aceitos pelas francesas por simpatizarem com os jovens alemães, embora em alguns casos por necessidades ou prostituições. Como consequência, no pós-guerra, tiveram o início de um calvário quando foram qualificadas de “colaboradoras”. Mais de 200.000 crianças nasceram dessas uniões.

https://www.youtube.com/watch?v=qg5KfjMhZx0 align:center]
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O dia em que Paris foi libertada (25 de agosto de 1944)

https://www.youtube.com/watch?v=E8IemVsiZTw align:center

Paris: O Hotel Meurice & sua prestigiada suíte (atualmente) 
Segundo o nosso respeitado e admirado historiador do Blog, ele hospedou por 12 dias na mesma suíte do General alemão Dietrich von Choltitz, em 1967. Talvez seja esta suíte onde ficava hospedado o General, responsável pela rendição alemã em Paris, em 1944 (Maurice Chevalier canta ‘Paris Sera Toujours Paris’).

[video:https://www.youtube.com/watch?v=3qNUVwdm30Q align:center
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Pesquisa baseada no Le Figaro.fr (e outras fontes).
Sobre a França Ocupada: 
Artistas e intelectuais franceses sob o domínio nazista
A música francesa durante a ocupação nazista 
Ambiguidades da França ocupada  
Resistência Francesa: legado de bravura e liderança é lembrado décadas depois 
Vozes da resistência: histórias de quem participou da ação cívica contra os nazistas 
França levanta o véu de seus arquivos da ocupação nazista 
França de Vichy – O Governo da desonra de uma nação  
O julgamento dos membros da resistência francesa pelo Tribunal Militar Alemão

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Jota Botelho

11 Comentários

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  1. Nunca me hospedei no Hotel

    Nunca me hospedei no Hotel Maurice, muito menos na suite do general alemão.

    Jamais tive vontade de assim proceder, apesar dos muitos anos em que morei em Paris.

    Tive a chance de viver a decada de 60, na capital francesa e dessa forma participar de um dos periodos mais ferteis da vida intelectual da humanidade e de conquistas de liberdades individuais.

    Paris, nessa epoca,  foi, verdadeiramente,  uma “grande festa”.

    Escutei Miles Davis tocando de madrugada a beira do Sena, Chales Mingus fazendo musica entre loucos num manicomio, Orson Weles parando seu carro no meio da avenida para socorrer um bebado caido na calçada.

    Jantei ao lado de Lawrance Olivier, no Pied de Cochon. É claro que eu no balcão, junto aos floristas e açougueiros do mercado dos Halles e o famoso ator ao lado, na mesa do salão.

    Passaria o dia escrevendo aqui como foi rico e emocionante o cotidiano daquela cidade, naquele periodo iluminado da historia.

    Mas posso dizer que haviam duas Paris.

    Uma rococo, cheirando a mofo, como a decadente  elegancia do hotel Maurice e outra dos bistros alegres, frequentados por trabalhadores, estudantes e artistas.

    Eram dois mundos completamente diferentes.

    No meio, uma classe media ainda sem força e sem protagonismo.

    Nos bistros simples comia-se, bebia-se, divertia-se muito, gastando pouco.

    Era chique os ricos mais esclarecidos e os artistas famosos frequentarem o Pied de Cochon, um bar restaurante em pleno mercado dos Halles.

    La os trabalhadores do mercado comiam em pe no balcão, enquanto os  frequentadores chiques eram servidos nas mesas do salão.

    Aos poucos, ou melhor, com a queda do general De Gaulle, toda essa alegria acabou.

    A direita assumiu o poder e todo o lado sombrio dos franceses prevaleceu. 

    As velhas concierges, que em todos os predios eam a informantes da policia, sairam da sombra.

    Os Le Pens tomaram corpo.

    A classe media floresceu, impondo sua cultura do consumismo.

    A França se tornou um pais vulgar, como muitos.

    1. Fenômeno

      O que o Rodrigues comentou parece ter se tornado um fenômeno geral. Lê Pens em toda a parte, retorno de neonazistas, racismo, fundamentalismo, como nossas bancadas no congresso Nacional, jornalismo incentivando linchamento, um horror que se espalha, incentivo à barbárie. Ao ver tudo o que ocorre no Ocidente e a contrapartida do atraso do Estado Islâmico, do talibã, fico desanimado, penso estar vivendo no período entre as guerras mundiais. Vendo o nazismo, fascismo, Stalin, todos chegando ao poder e temendo a tempestade que se aproxima. Triste.

       

  2. Paris


    Completamente vulgar, concordo com o articulista. Também morei em Paris por algum tempo e assisti esse processo se acelerando a ponto de não mais reconhecer, hoje, a cidade que sempre amei. A classe média alta de lá (como a daqui), cheia de dinheiro e com cultura superficial, vulgarizou, americanizando-a, a vida de uma das cidades mais icônicas do mundo.

  3. Vencido o nazismo,

    Vencido o nazismo, algo terrível aconteceu na França com as mulheres que “colaboravam” com os militares da ocupação: foram agredidas, desnudadas, tiveram as cabeças raspadas em humilhações públicas, filmadas e fotografadas. Provavelmente, muitos dos que fizeram essa barbaridade foram colaboracionistas também. O primeiro vídeo traz canção de Brassens contra essa indignidade e hipocrisia. Grande parte dessas mulheres transaram com os alemães para sobreviverem, ou como prostitutas, ou mesmo, eventualmente, por amor como narrado no belo filme de Resnais, Hiroxima meu amor.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=4M4wZU5y5Pc%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=7GZ4pmVPVSQ%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=eW1CzHe2KaY%5D

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=zBVwIkNMx7o%5D

    1. O livro de Patrick Buisson

      O livro de Partick Buisson, ‘1940-1945, Anos eróticos (2 volumes)’, em que se baseou o filme A Ocupação Íntima, traz tudo isso, Jair: infidelidades, bordeis, prostituições, uniões, separações, guerras de bebês… enfim, o que aconteceu no coração dos franceses durante a 2ª Guerra Mundial. E depois a revanche, a revanche do ‘macho’ francês. O livro inclui também um DVD bônus e mais de 500 ilustrações. Leia aqui A colaboração horizontal


      ___

      O filme Toudes en 44 (‘Raspadas em 44’), de Jean-Pierre Carlon.
       
      Trailer do filme

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=k20MkC_Hulk align:center]

      Assista Aqui (completo em 4 partes)
      ___

       

    1. John Steinbeck


      John Steinbeck, prêmio Nobel
      de Literatura, 1962

      Muitos críticos americanos o considerava ‘populista’, como se populista fosse um palavrão. Ao inferno, os críticos. Sempre gostei de John Steinbeck por achá-lo um dos poucos escritores ‘rurais’ americanos. Li este livro na tradução brasileira, ‘A Longa Noite Sem Lua’, cujo título original é The Moon is Down, e que é completamente diferente do Steinbeck que estava acostumado a ler, como os seus já famosos clássicos ‘Ratos e Homens’, ‘As Vinhas da Ira’, ‘A Pérola’, ‘A Leste do Éden/Vidas Amargas’ etc., mas neste, ele aborda um tema universal que continua válido: a vitória inevitável da liberdade humana sobre a violência. O romance conta sobre o cotidiano dos habitantes de uma pequena cidade ocupada por tropas invasoras, quase sem oposição, na 2ª Guerra Mundial. O ano em que o livro foi escrito, 1942, já se vivia o horror nazista, mas ao que tudo indica, ele se referia à França ocupada. Neste livro já se apresentava o conformista, o chamado homem ‘passivo’, quase indiferente aos acontecimentos, preferindo a forma pacífica para se dar com o terror de uma ocupação (não seria uma mera coincidência, não é? Ontem, hoje e sempre). Mas o povo aos poucos começa a se rebelar contra o invasor. E à medida que a resistência cresce, o medo vira de lado… Bem, aí, só lendo o livro. Este livro circulou bastante na época entre os participantes da Resistência Francesa e outros movimentos insurgentes. Os nazistas chegavam a fuzilar quem fosse flagrado com ele, inclusive com inúmeras cópias que eram mimeografadas. É isso aí… Obrigado pelos comentários. Isso é bom. Uma coisa vai puxando a outra, e a gente vai relembrando e também apredendo com as pessoas. Valeu! Até outro dia.
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  4. Sempre achei que essa era uma

    Sempre achei que essa era uma página negra da história da França mas desconhecia os elementos apontados no post. Não deve ser fácil ser francês.

  5. Realmente a Paris dos anos 50

    Realmente a Paris dos anos 50 e primeira metade de 60 estava no auge de bom gosto, do savoir vivre, do charme das mulheres, do ambiente dos bares e cafés. Mais ou menos esse processo de enfeiamento, perda de identidade, cafonismo,

    vulgarização ocorreu em maior ou menor escala por toda a Europa. Parte foi produto da americanização, parte das migrações de outras etnias, o Euro foi um desastre ao pasteurizar as economias o que tambem levou a homegeinização de culturas facilitadas pela globalização. Hoje é dificil encontrar um inglês em Londres, coalhada de indus, paquistaneses,

    arabes, russos, em Paris os magrebinos, islamicos de todos os lados, isso acaba influenciando o ambiente, sem juizo de valor.

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