Grupos misturam artes plásticas e vandasmo

Grupos misturam artes plásticas e vandalismo

SILAS MARTÍ
DE SÃO PAULO
VIVIAN WHITEMAN
EDITORA DE MODA

Em tempos de ocupação em Wall Street, Primavera Árabe e indignados mundo afora, artistas ocupam o mesmo espaço em páginas de cultura e no noticiário policial.

São ativistas com passagens pela polícia e artistas de rua que não têm medo de flertar com o vandalismo mais radical, mesmo quando aceitam fazer parte do circuito.

Nas duas últimas edições da Bienal de São Paulo, pichadores atacaram o pavilhão. Primeiro, invadiram a mostra de 2008. Depois, em 2010, mesmo convidados como artistas, vandalizaram uma obra de Nuno Ramos. Agora, estão na lista de convidados da próxima Bienal de Berlim, em 2012.

João Wainer – 19.dez.08/Folhapress
Caroline Pivetta, que invadiu a Bienal de SP
Caroline Pivetta, que invadiu a Bienal de SP

“Fui tratado como inimigo público, com preconceito, pela Bienal de São Paulo”, diz Djan Ivson, 27, líder do Pixação SP, à Folha. “Não fazia parte daquela panela. Fomos intrusos na festa dos alegres.”

Ivson e Caroline Pivetta, pichadora que chegou a ser presa e está condenada a quatro anos de prisão em regime semiaberto, embarcam no ano que vem para Berlim, onde esperam “estender essa trajetória de questionamento”.

Mais ao leste, o grupo Voina já pichou um pênis enorme em uma ponte de São Petersburgo, em frente à antiga sede da KGB, virou carros de polícia de ponta-cabeça em Moscou e promoveu uma orgia num museu da cidade.

Mesmo na conservadora cena russa, o Voina venceu um prêmio estatal e, à sua revelia, teve obras confiscadas e exibidas na Bienal de Moscou, encerrada anteontem.

Ao contrário dos pichadores de São Paulo, o Voina se recusa a fazer parte de mostras institucionais. Seus líderes atuam na rua e costumam ser presos por isso -o grafiteiro britânico Banksy, que esconde a própria cara, pagou a fiança para libertar dois membros do Voina após uma temporada na cadeia.
De um lado, instituições de arte reconhecem o potencial explosivo desse tipo de manifestação e turbinam a própria imagem chancelando obras mais agressivas.

Do outro, artistas entram nas mostras e se dizem dispostos a corroer esse sistema partindo de dentro dele.

“Nenhum dos dois está do lado certo”, avalia Joanna Warza, uma das curadoras da Bienal de Berlim. “Arte hoje é um refúgio para quem faz um outro tipo de sociologia ou até de arquitetura.”

Mas não existe um consenso. “É mais legal eles invadirem do que ficarem nessa coisa oficial”, diz Ivo Mesquita, curador da Bienal de 2008. “Há uma contradição: afinal, que circuito eles querem?”

“Não podemos deixar que as instituições e as empresas determinem como faremos nossa arte”, prega o grafiteiro Kidult, criador do movimento Illegalize Graffiti. “Dentro ou fora das galerias, o artista deve tomar as rédeas de sua obra e não se render às demandas de mercado.”

Redação

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