A China e a dívida oculta dos emergentes, segundo Krugman

Na sua palestra nos Encontros Capitais, da Carta Capital, Paul Krugman apontou a China como a bola da vez. Se houver alguma crise brava próxima, será na China.

Para Krugman, as estatísticas econômicas chinesas são uma forma de ficção científica entediante. “Não sabemos se números são verdadeiros ou não. Nem o governo central sabe”.

Sabe-se que se tem uma economia desequilibrada, onde os investimentos representam 50% do PIB, o consumo das famílias 30%, mesmo patamar do consumo de governo.

A China pode manter um período prolongado de alto crescimento porque dispunha de um enorme exército de reserva de mão de obra. Agora, esse estoque está se esgotando.

Terá que reduzir os investimentos, as empresas terão menos retorno e o país terá que inverter a composição atual do PIB – o que está sendo um processo difícil.

Há uma linha muito tênue e indefinida entre governo e setor privado. O país não tem dívida externa, tem excelentes ativos estrangeiros, mas uma dívida interna que cresce rapidamente e não poderá continuar nesse ritmo.

Para Krugman, a China está muito próximo a uma crise. Ocorrendo, irá afetar o Brasil, que ainda possui uma economia dependendo em 2/3 das exportações de commodities.

“Não haverá nenhuma catástrofe”, diz Krugman. “Há espaço para manejar a economia”.

Além disso, a recuperação relativa da Europa e dos Estados Unidos poderão contrabalançar um pouco o efeito China.

A dívida oculta dos emergentes

Um dos alertas do economista norte-americano Paul Krugman – em sua palestra nos Encontros Capitais, da Carta Capital – foi um dado levantado por um colega da Universidade de Princenton, de volumes elevados de dívidas corporativas através de empréstimos offshore (isto é, tomados por empresas através de filiais em paraísos fiscais).

O Brasil é responsável por parte expressiva desses valores. A Nomura Securities estima em US$ 400 bilhões a dívida líquida de emergentes.

Mesmo se a dívida oculta brasileira for US$ 300 bi, representa menos de 15% do PIB, e não é  tao preocupante, diz ele.

Redação

12 Comentários

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  1. Se acontecero que dirão

    Se acontecer

    o que dirão aqueles que fizeram louvores ao crescimento chines ao mesmo tempo em que criticavam o brasileiro?

    A economia chinesa entrando em crise abalará todo o mundo e não apenas os exportadores de commodities.

    Exportador de commodities que tristeza, que pobreza.

  2. Bobagem. Se houver crise, as

    Bobagem. Se houver crise, as autoridades resolverão como resolveram aquele problema na Praça da Paz Celestial. Passam o trator por cima e quem achar ruim passam os tanques. E tudo resolvido. Não estão para brincadeiras.

  3. Como assim?

    Paul Krugman realmente fez essa afirmação, de que o exército de mão de obra de reserva chinês se esgotou?

    Menos de dois anos atrás li dados demográficos chineses, que indicavam uma população urbana da ordem de 400mi de habitantes, com os restantes 950mi no campo (em propriedades rurais e pequenas aldeias rurais). Na mesma época, o PCC anunciava a intenção de dobrar a população urbana do país até 2020. Como então esse exército de mão de obra de reserva se esgotou?

  4. O gênio da hora, o gênio da vez, sabe tudo

    Incrível a quantidade de gênios da economia do ocidente emitindo laudos sobre a China, afirmando o que os chineses terão de fazer (isso ou aquilo), ditando normas e prevendo crises e desastres.

    Enquanto a China continua sua trajetória de alto crescimento ignorando analistas, agências de classificação de riscos e outras ferramentas especulativas do sistema capitalista, muitas vezes baseadas nas espectativas e receios plantados por interessados.

    Sendo hoje uma das maiores economias mundiais, uma potência científica, financeira, econômica, militar e melhorando a olhos vistos o padrão de vida de sua gigantesca população, acho que nem vão dormir essa noite de tanta preocupação com essas análises de “especialistas” ocidentais regiamente pagos em absurdos simpósios financiados por coloniais e pagos por colonizados para repetir suas velhas receitas da matriz.

    Não precisamos pensar, eles pensam ( e velam!) por nós, não é?

    O gênio da hora, o gênio da vez, sabe tudo, não é?

    Se saiu no N.Y. Times é verdade, não é?

     

  5. 30 trilhões de dólares em dívida a mais depois de 2008

    A dívida no planeta aumentou em 30 trlhões de dólares após as lambanças de 2008 e continua crescendo.

    E têm panaca que pensa que vão dar um jeito para evitar a flação, (qualquer tipo de flação com o Hyper na frente , p. ex. Hiper deflação, Hiper inflação, Hiper stagflação, etc…).

    A única saída honesta, coerente e sensata, na minha humilde opinião, seria traçar um rumo de embate para o Brasil e perseguir obstinadamente o objetivo de proteger o povo e a Nação, minimizando danos e reduzindo prejuízos.

    Mesmo com todas estas precauções ainda sou cético quanto a um final feliz para a dívida planetária.

    1. Quem se preocupa apenas com a dívida aparente…

      …e por não conhecer a ficção patrimonial do sistema financeiro… os “patrimônios” dos bancos americanos e europeus, fundos de investimentos e de pensões são garantidos por fumaça… para cada unidade de PIB existem 20 de derivativos circulando pelo mundo.

  6. O problema da China é a nova concorrência

    A imensa população chinesa ainda possui um também imenso exército de reserva. Apenas em 2008 a população urbana da China ultrapassou o contingente da população rural. E hoje mais de 45% dos chineses ainda vivem em zonas rurais. Na Índia o exército de reserva é ainda maior. Lá apenas 35% da população vive nas cidades.

     

    Como proporção do PIB, o Brasil exporta hoje mais do que os EUA. Mesmo assim, a proporção entre as exportações e o PIB brasileiro é baixa, de modo que um colapso ou paralisia no comércio internacional não afetaria de forma tão violenta o país como afetaria, por exemplo, a Coréia do Sul, o México ou a própria China.

     

    Dentro de uns 15 anos o PIB per capita da China será similar ao PIB per capita do Brasil, ou seja, dentro de duas décadas a China passará a importar bens de consumo duráveis e semi-duráveis, não somente matérias primas. 

     

    O problema da China é que há outros países que estão iniciando seus processos de industrialização e estes países dispõe atualmente das mesmas vantagens que a China por enquanto ainda possui. A saber, mão de obra barata e impostos baixos. Estes países possuem populações imensas e a tendência é que atraiam investimentos externos, em detrimento da China, com o passar do tempo. 

     

    Alguns destes países citados, entre outros, são o Vietnã, Bangladesh e Etiópia.

     

    -Vietnã: população de 93 milhões de habitantes (maior que a população da Alemanha);

    -Bangladesh: população de 166 milhões de habitantes (maior que a população da Rússia);

    -Etiópia: população de 96 milhões de habitantes (quase a população do México).

     

    Estes e outros países tem, proporcionalmente, um exército de reserva superior ao da China, e também tem um PIB per capita mais baixo, menos impostos e mão de obra baratérrima.

     

    O caminho da China não é o colapso, mas sim o aumento da renda de seus cidadãos e uma desaceleração nas exportações, isto impactará todo o planeta mas não representará nenhuma catástrofe.

  7. Quando Nouriel Roubini

    Quando Nouriel Roubini alertou que a economia americana estava em frangalhos e previu a crise o chamaram de senhor apocalipse.

    E o nosso sistema monocromático de informação onde cortejadores de celebridades, mascarados de jornalistas, experts e especialistas, identificam nossos problemas e pacientemente explicam seus parâmetros.

    Uma sociedade onde críticos prescientes são chamados chatos irrelevantes e de extremistas e são banidos.

    Opiniões aceitáveis cabem, mas apenas de A a B.  Essa é a cultura, sob a tutela dos cortesãos corporativos, que torna o mundo de conformismo festivo, de otimismo sem fim e fatal, segundo Chris Hedges.

      

  8. Dando bom dia a cavalos

    Entendi que Krugman quis dizer que somos dependentes de exportações (um exagero o “dependente”), das quais 2/3 seriam de commodities (vá lá, arredondou, entendi a mensagem). Criou-se um consenso nos EUA de que o Brasil só cresceu por causa da alta das commodities – não adianta argumentar que esse é um dentre vários fatores porque ninguém mais tem tempo para pensar em nada que não caiba numa única frase. 

    Veja só: commodities baratas poderiam ter reduzido investimentos e exportações, mas pressionariam menos a inflação, reduzindo necessidade de baixar o dólar na marra, o que deixaria a balança comercial com outra cara, etc, etc. Qual seria o crescimento então? Ninguém sabe, mas o assunto é complexo e entendê-lo exige dedicação de tempo, não importa que você seja um gênio e/ou qual sua intenção. 

    Quanto às dívidas offshore, há um pouco de tudo: planejamento fiscal e de tesouraria de multinacionais, tem dinheiro sendo esquentado, operações simuladas para reduzir imposto, e há também operações legítimas estruturadas para evitar o risco de conversibilidade do real. Ninguém sabe ao certo como se divide esse bolo. Se tratarmos só das operações legítimas, é importante lembrar que boa parte foi feita para financiar investimentos no exterior mesmo (Petrobras, Vale, Ambev, Marfrig, JBS, etc.), então os dólares captados foram muito provavelmente investidos em qualquer outro lugar, que é de onde virão os recursos também em moeda estrangeira para pagar da dívida (investidores normalmente fazem essa análise antes de emprestar os recursos). Dessa forma, não tem muito sentido comparar esse número ao PIB brasileiro, e não seria preocupante nem se fosse o dobro ou triplo.

    Essas simplificações sempre soam meio infantis, e ficamos frustrados quando a visita de alguém tão capacitado não oferece nada muito novo. “Ah, mas a mensagem era que uma crise na China afetará o Brasil!”. Thanks, Paul, por aqui ninguém tinha pensado nisso… Com um pouco de boa vontade, a contribuição mais original foi ele dizer que não vê nenhuma catástrofe incontornável no horizonte.

    Gosto muito das colunas do Krugman, principalmente sobre desigualdade. A questão é que ele opina sobre orçamento dos EUA, Israel, economia da União Européia, moeda chinesa, crise na Rússia, “ban bossy”, e qual o chá verde que mais emagrece… Aí recebe um convite para palestrar no Brasil, liga para 1 ou 2 amigos, bola meia dúzia de frases de efeito, aciona o módulo “ceteris paribus” e analisa um parzinho de variáveis de cada vez. Dá nisso mesmo. 

    É a síndrome de “dar bom dia a cavalo”, que tanto atormenta colunistas multiuso brasileiros, só que em versão premium. Por favor resistam ao impulso de comparar Krugman ao… melhor deixar pra lá. O fenômeno é amplo: paradoxalmente, quanto mais os maiores talentos – em empresas, mídia ou academia – se dedicam a opinar sobre muitos temas, mais os debates sobre cada tema seguem perdendo qualidade. 

    Culpa da reformulação das mídias? O negócio é fazer palestra e embolsar o cachê? O tal mosaico das parcialidades até que é bacana, mas nivela por baixo? Até que ponto interessa evoluirmos com mais generalistas e menos especialistas? Sei lá. Por enquanto, pode por essa na conta da nossa vontade de dar palpite em tudo, de história da Criméia a localização de aeronaves. E, claro, sem nunca, JAMAIS, desperdiçar uma oportunidade de cornetar uma palestra do Paul Krugman…

  9. Só sei de uma coisa:

    Há pelo menos vinte anos que escuto economistas dos mais diversos matizes ideológicos afirmando e garantindo que a China vai se estrepar logo ali, depois da esquina…

    Os anos se passam, nada acontece, mas eles continuam pontificando…

     

  10. “…de volumes elevados de

    “…de volumes elevados de dívidas corporativas através de empréstimos offshore (isto é, tomados por empresas através de filiais em paraísos fiscais).

    O Brasil é responsável por parte expressiva desses valores. A Nomura Securities estima em US$ 400 bilhões a dívida líquida de emergentes.”

    Parte de disto não “poderia” ser “repatriamento de recursos” antes que a “Operação Satiagraha” seja validada?

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