A perna manca das reformas

Entre os economistas das diversas linhas de pensamento, há uma dicotomia que precisa ser superada. Do lado mercadista, a visão de que apenas com reformas microeconômicas a economia embala, sem necessidade de um ambiente macroeconômico favorável. Do lado keynesiano, a idéia de que criando o ambiente adequado – câmbio e juros competitivos – a economia embala, sem a necessidade de reformas microeconômicas.

O desenvolvimento é uma soma virtuosa dos dois lados. Há a necessidade de câmbio competitivo, sim. Mas reformas estruturantes são relevantes para melhorar o ambiente competitivo.

As mudanças ocorridas na área de crédito ajudaram na expansão do setor nos últimos anos, especialmente no crédito habitacional. Mudanças na Previdência – que não mexessem em direitos adquiridos – ajudariam a ampliar o estoque de investimentos no país. A desburocratização do serviço público e da política tributária, outro tema relevante. O aprimoramento da gestão pública, com a obrigatoriedade de criação de indicadores de desempenho, outro tema relevante.

Em artigo no Valor Econômico, o repórter Cristiano Romero escreve sobre o abandono das reformas pelo governo Lula (http://www.google.com/notebook/public/03904464067865211657/BDQJ-SgoQ9cHehusj).

Avançou-se na parte macro – especialmente depois do rompimento da política de “gerenciamento na boca do caixa” da gestão Palloci. Mas deixou-se de lado a questão microeconômica e regulatória.

Luis Nassif

16 Comentários

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  1. Ao que me parece já é tarde
    Ao que me parece já é tarde demais para imaginar que o Gov Lula fará alguma dessas reformas…

    Será que o próximo terá cacife para um plano ambicioso desse nível?

  2. Que tal esta entrevista como
    Que tal esta entrevista como contribuição ao debate sobre como desenrolar o nó do desenvolvimento? Que tal Nassif, essa idéia de utilizar os fundos para alavancar como política de estado? Junto com o Pré-Sal dá liga boa, não dá? …”Dá pra fazer uma PAÌS”…!

    Leia a seguir trechos da entrevista de Francisco de Oliveira à Carta Maior:

    Carta Maior – A crise financeira atual repõe a centralidade do trabalho, ou seja, devolve à esquerda o sujeito histórico que ele acreditava ter se esfarelado na história?
    Chico de Oliveira – Na verdade, não concordo que essa seja uma crise financeira; tampouco acho que a sua origem esteja nos mercados financeiros centrais. A meu ver estamos diante de uma crise da globalização do capital. Todas as outras também foram crises globais, claro, devido à centralidade do capitalismo norte-americano. Mas essa crise não floresce exatamente num ponto geográfico; à rigor, se formos localizá-la seria na incorporação da mais-valia gerada na China e na Índia nos últimos vinte anos; novidade esta que influenciou o conjunto da globalização capitalista e redundou no atual colapso; uma crise de realização do valor. O sintoma financeiro é sua manifestação mais evidente, mas não a sua essência.
    http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15467

  3. “O desenvolvimento é uma soma
    “O desenvolvimento é uma soma virtuosa dos dois lados. Há a necessidade de câmbio competitivo, sim. Mas reformas estruturantes são relevantes para melhorar o ambiente competitivo.”

    Crescemos nos ultimos anos com o cambio valorizado e agora com o cambio desvalorizado nao estamos crescendo. Será que cambio “competitivo” (vc quis dizer desvalorizado) é realmente condição necessária para crescimento econômico? Ou será que o cambio é simplesmente uma resposta das outras variaveis macroeconomicas da economia?

  4. Lula se acomodou com o
    Lula se acomodou com o crescimento econômico dos últimos anos e achou que conseguiria seu lugar na história sem ter que tomar as medidas duras e necessárias… este continua sendo o mal de nossa sociedade, a poucua disposição de fazer o que é necessário. Agora, com a recessão que vem por aí, Lula vai perceber (se é que já não o sabe) que perdeu uma das grandes chances de iniciar o movimento que faria do Basil uma potência de verdade… Aécio tomou algumas medidas necessárias em Minas quando assumiu o governo, neste caso, vejo nele mais do que em Serra ou Dilma a disposição de realizar mudanças….

  5. “Mas deixou-se de lado a
    “Mas deixou-se de lado a questão microeconômica e regulatória”: eh obvio! Deixa permanentemente fechada qualquer resolucao pro governo atacar todas as companias nacionais que nao teem a ver com exportacao simultanea de bens e de dolares.

  6. Ed:
    O câmbio, no sentido que
    Ed:
    O câmbio, no sentido que está em pauta neste post, sempre foi uma muleta para compensar os pesos que as empresas nacionais carregam: juros e carga tributária excessivamente altos. Isso sem falar na deficiência em infraestrutura resultante da falta de retorno social da referida alta carga tributária. Ou seja, precisa de uma taxa cambial que consiga compensar os citados custos.

    Nassif:
    Finalmente vejo que vc concorda comigo neste quesito. Lula parou as reformas estruturais e sem elas a perspectiva da crise torna-se mais pesada para o país. Perdemos muito tempo. O que Lula fez foi apostar na expansão do crédito para ativar a economia. Mas sem as reformas, este processo poderia estar apenas criando uma bolha de crescimento. Venho dizendo isso há muito tempo, inclusive em alguns de meus comentários aqui postados. É preciso ajustar o gasto corrente do Estado para baixar os juros básico. Quando o Estado deixar de ser o consumidor da poupança interna (maior tomador do mercado financeiro), poderemos ter uma conjuntura que coloque a iniciativa empresarial em pé de igualdade com o resto do mundo. Enquanto este problema não for enfrentado, o ambiente de negócios continuará travado por aqui, como tem sido nos últimos 30 anos. Repare que enxugar gastos correntes permite baixar os juros e cortar excessos tributários. Além disso, parte do capital usado para financiar o déficit público seria direcionado para financiar projetos produtivos, que geram impostos e assim por diante.

    Estamos travados há anos e agora vemos a oportunidade para desmontar estes mecanismos. Se este governo pensasse mais no país e nemos em sua popularidade faria o que é preciso fazer. Mas acho que eles não têm coragem para tal ou não querem largar o osso.

    Ontem li no Estadão matéria sobre a opinião do vicepresidente José Alencar. Ele acredita que precisamos evitar o desemprego. Eu diria, sem o eufemismo do nosso elegante vice, que precisamos mesmo é evitar o aprofundamento do desemprego, que há anos é muito maior do que deveria. Basta andar pela cidade para verificar quanta miséria, quanto desemprego temos aqui. Ele é muito maior do que mostram os índices oficiais. Senão o país não estaria com os atuais índices de violência e criminalidade, nem teria tanta miséria percebida a “olho nú” nas grandes metrópoles.

    Precisamos de ambiente em que as empresas não sejam vistas por poliíticos apenas como fonte de receita tributária e de financiamento de campanhas políticas. Elas são estratégicas para a geração de empregos e para o desenvolvimento econômico. Mas aqui costumam sufocar os empresários com tributos de todos os lados, juros altos, burocracia à rodo, sem falar na Injustiça do Trabalho que torna muito caro e incerta o passivo trabalhista. Acho que visam mais a arrecadação sobre a contratação de mão de obra do que a expansão do emprego.

  7. Felipe Pugliesi:

    “Ou seja,
    Felipe Pugliesi:

    “Ou seja, precisa de uma taxa cambial que consiga compensar os citados custos.”

    E essa taxa cambio salvadora é valorizada ou desvalorizada?
    Se eu sou uma empresa que tenho custos em dolar prefiro a valorizada, mas se eu for uma exportadora prefiro a desvalorizada.

    Alem do que crescemos nos ultimos temos com taxa de cambio valorizada, o que torna a ideia de que taxa de cambio desvalorizada como condição necessaria para crescimento economico falsa.

  8. Ed,

    Concordo com vc e com o
    Ed,

    Concordo com vc e com o Nassif sobre o fato de taxa de câmbio valorizada ou desvalorizada não ser motor para o desenvolvimento. Mas repare o seguinte: historicamente a exportação de bens insustrializados produzidos no Brasil sempre precisou de taxas de câmbio com a moeda nacional desvalorizada para que o preço do produto fosse competitivo em dólar no mercado internacional. Se nossa moeda fosse mais forte, estes produtos industrializados perderiam mercado por terem custo inviável.

    O que eu disse é que a taxa de câmbio sempre fez este papel de muleta.

    Outro porém: o recente processo de crescimento deveu-se à valorização no preço internacional das commodities. Repare que bens industrializados erderam mercado lá fora e até aqui dentro: veja o segmento de calçados, por exemplo. Veja o eletroeletrônicos… Por que acha que a Gradiente está em concordata? Isso mostra que a tese da muleta tem a ver, concorda?

    O cresimento interno no período Lula reflete, portanto, a expansão do crédito interno gerando a “nossa bolha” e a expressiva valorização das commodities gerando superávits na balança de comércio internacional do país. Com o fim do ciclo o que vai nos restar? Déficit na balança e indústrias em dificuldades?

    Assim, é errado pensar na taxa de câmbio como indutora de crescimento. Mas é o que os nossos governantes fazem: usam a taxa de câmbio como muleta. Acho que concordamos nisso. Apenas falamos a mesma coisa de forma diferente.

  9. 1) “Concordo com vc e com o
    1) “Concordo com vc e com o Nassif sobre o fato de taxa de câmbio valorizada ou desvalorizada não ser motor para o desenvolvimento”
    O Nassif acha que cambio valorizado é condiçao suficiente para existir crescimento, foi o que ele disse no texto. Eu não.

    2) Taxa de cambio nada mais é que um preço como outro qualquer, logo depende da oferta e demanda. Sendo assim o principal fator que impacta essa variavel é o preço de commodities. Portanto, a não ser que o governo consiga controlar os preços das commodities (o que acho dificil), o cambio sera RESULTADO (pelo menos o curto prazo) da conjuntura internacional, o que nao tem nada a ver com muleta.

    Que mania de fazer releituras do meu texto, na maior cara de pau. Esclarecendo:
    1. Não acho que taxa de câmbio competitiva seja o único fator de aumento da competividade.
    2. Na falta de reformas e ambiente competitivo, a taxa tem que refletir essas disfunções e conferir competitividade nos preços.

  10. O generais romanos gostavam
    O generais romanos gostavam de citar uma máxima estratégica: Em situações de extrema adversidade, quando você está cercado por todos os lados e em situação de fragilidade, é preciso ser o mais ousado possível.

    Não adianta reunião extraordinária do Copon e coisa que o valha, tem de inovar prá valer e peitar os poderes constituídos. A situação é de extrema emergência.

    Sugiro a criação de áreas de desenvolvimento comercial/industrial em diversos pontos do pais, umas 300 com 100 hectares cada. O regime jurídico e tributário seria especial, o mais simplificado possível, assim brasileiros e estrangeiros que quisessem trabalhar e empreender teriam o seu mister facilitado.

    Foi mais ou menos o que a China fez, mas agora tem de ser mais radical.

    Se não tentar , depois vai se arrepender.

  11. Ed,
    Ok. Eu concordo com o
    Ed,
    Ok. Eu concordo com o Nassif, mas discordo de você.

    Nassif, entretanto, crê que usar o câmbio como muleta é válido. E neste particular, discordo. Prefiro fazer as reformas estruturais para que não seja preciso lidar com a artificialidades das “muletas”, pois elas sempre resolvem um problema mas criam outros 10. Veja, por exemplo, os casos da indústrias de calçados e da Gradiente que citei e que sofreram por causa do câmbio, e no mercado interno. Como dizia Simonsem: o câmbio mata, a inflação só aleija.
    Agora o pêndulo vai para o outro lado e o câmbio sobe. Mas como tudo o que sobe, depois desce, por causa da gravidade, tem gente que vai apostar na substituição de importações, mas o ambiente favorável dura até a próxima onda que fará o câmbio cair. Por outro lado, se arrumarmos a casa e dispensarmos a muleta, vamos finalmente nos tornar bípedes pra valer… Artificialidades não ajudam a manter a estabilidade. este é o ponto que defendo. Basta olhar para a nossa história para perceber isso.

  12. Luis Nassif,
    Sou admirador de
    Luis Nassif,
    Sou admirador de Keynes, mas não sou economista. Sou admirador de Keynes, mas tenho restrições a ele, pois nunca li um texto dele recomendando o aumento de tributos. Torço para que esse seja engano de leigo. Agora, o discurso do Cristiano Romero é o discurso da nossa elite empresarial. Não sei se ele o faz por convicção ou para ficar bem para a platéia. Espero que seja para ficar bem com a platéia (É sem acento, mas tenho ainda um certo tempo para adaptar-me), pois não creio revelar bom senso ser a favor das reformas.
    A carga tributária tem crescido ao longo do tempo e o mundo tem apresentado taxas de crescimento econômico cada vez maiores. A carga tributária cresce porque aumenta o crescimento econômico ou é o crescimento econômico que faz aumentar a carga tributária?
    Se houvesse facilidade para demitir, ou seja, se não fosse as amarras da legislação trabalhista, a recessão (eu estou me referindo à Europa porque aqui no Brasil teremos uma redução no crescimento econômico) não seria muito maior?
    O que sobra no discurso de Cristiano Romero? Sobra a afirmação de que o governo Lula vai deixar uma infra-estrutura deficiente. Esse é o melhor dos mundos, já pensou se fosse como nos Estados Unidos onde tudo já está feito, onde se iria achar uma bolha para voltar com o crescimento econômico? Aqui diante de uma crise há a possibilidade de se construir uma infra-estrutura adequada.
    Clever Mendes de Oliveira
    BH, 07/01/2009

  13. Prezados, seguem alguns
    Prezados, seguem alguns apontamentos:

    1. A primeira observação: concordo totalmente com a manifestação do Clever Oliveira quando diz que a matéria de Cristiano Romero é discurso “oficial” da mídia.

    2. Qual a reforma com maior impacto na redução de custos do Estado no Brasil? A reforma do COPOM. É evidente. O principal custo público no Brasil é de longe o custo dos juros da dívida. Lembro-me que a CF-88 pedia a realização da auditoria da dívida externa e interna e, NENHUM, nenhum governo, nem mesmo o governo Lula, teve coragem de promover essa auditoria.

    3. As contas do IBPT, por exemplo, sempre usadas nesse tipo de raciocínio, incluem como custo tributário o que não são tributos, mas poupança do trabalhador: FGTS, por exemplo. E, uma poupança que tem sido historicamente responsável por um conjunto de investimentos setoriais, como bem sabe-se.

    4. As contas do IBPT chegam a um índice que não respeita a distinção dos entes federativos. Com o índice inflado como apontei no item acima, divulga um número que aparenta responsabilidade no governo federal, quando grande parte do custo tributário no país está nos Estados e municípios.

    Abraço a todos.

  14. “Que mania de fazer
    “Que mania de fazer releituras do meu texto, na maior cara de pau. Esclarecendo:
    1. Não acho que taxa de câmbio competitiva seja o único fator de aumento da competividade.”
    Não é releitura, tá escrito no texto:
    “O desenvolvimento é uma soma virtuosa dos dois lados. Há a necessidade de câmbio competitivo, sim. Há a necessidade de câmbio competitivo, sim.”

    Pode não achar que seja o único, mas que é necessario sim, o que é um erro.

  15. “2. Na falta de reformas e
    “2. Na falta de reformas e ambiente competitivo, a taxa tem que refletir essas disfunções e conferir competitividade nos preços.”

    A taxa de cambio é flutuante, tem que refletir a entrada e saida de dolares do pais. Se o gov quiser manter uma taxa artificial terá que ou acumular reservas ou ter inflação. Ou vcs acham que existe almoço gratis?

    Não. Acontece que o cardápio dos bons restaurantes tem mais pratos do que os que você conhece. E a culinária tem muito mais ingredientes do que esse arroz-com-feijão.

  16. “E a culinária tem muito mais
    “E a culinária tem muito mais ingredientes do que esse arroz-com-feijão.”

    Tipo controle de capitais, congelamento de preços, ou outras iguarias heterodoxas que nos fizeram crescer como nunca nos anos 80?

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