Com mais volume de investimentos, Lula defende o uso do BNDES para reduzir taxa de juros

Presidente disse classificou a taxa de juros como uma vergonha e que não há justificativa para mantê-la em 13,75%.

O presidente eleito Lula é aguardado em Brasília pelo gabinete de transição de governo. Foto: Ricardo Stuckert
O presidente eleito Lula é aguardado em Brasília pelo gabinete de transição de governo. Foto: Ricardo Stuckert

Quanto maior o volume de empréstimos e investimentos, especialmente em infraestrutura, mais crescimento o País acumulará. Seguindo este raciocínio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defende o papel do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na estratégia de recuperação do País.

Durante discurso na cerimônia de posse de Aloizio Mercadante (PT) à frente do banco público, Lula descreveu a atual taxa Selic como “uma vergonha” e criticou a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) pela manutenção da taxa de juros em 13,75% na última quarta (1º).

“Não é o Lula que vai brigar não, quem tem que brigar é a sociedade brasileira. Não existe nenhuma justificativa, nenhuma justificativa para que a taxa de juros esteja neste momento a 13,5%. É só ver a carta do Copom para a gente ver que é uma vergonha esse aumento de juros e a explicação que eles deram para a sociedade brasileira”, afirmou.

Para reduzir a Selic, o presidente diz que os bancos públicos foram criados para fazer o que os privados não querem fazer. No caso, o BNDES deve voltar a ser o banco indutor de crescimento nacional, especialmente com a liberação de crédito para pequenas e médias empresas. “Esse País tem de ser reconstruído e a gente não pode demorar”, continua Lula, que defende até empréstimos para estados e municípios, desde que tenham capacidade de endividamento.

“Não tem explicação para que a taxa de juros esteja a 13,5%. Como vou pedir para o Josué [Gomes, presidente da Fiesp] fazer com que os empresários ligados à Fiesp invistam se eles não conseguem tomar dinheiro emprestado?”, questionou.

Autonomia

Lula tem sido bastante criticado pelo mercado financeiro em decorrência dos questionamentos direcionados ao Banco Central. O presidente lembrou de Antônio Ermínio de Morais, presidente da Votorantim, e de José Alencar, seu vice-presidente entre 2001 e 2011, que sempre reclamavam da taxa de juros, quando o Banco Central ainda era de responsabilidade do governo petista.

“Pensei: ‘agora o Banco Central é independente, não vai ter mais taxa de juros’. Ledo engano. O problema não é o banco ser independente. É que o País tem uma cultura de viver com os juros altos”, emendou.

Para Lula, cabe aos empresários o protagonismo sobre as atuais taxas de juros e pareceres econômicos estabelecidos pelo Banco Central, a fim de criar um ambiente mais favorável aos negócios e investimentos. “A classe empresarial precisa aprender a reivindicar, precisa aprender a reclamar dos juros altos. Precisa aprender a reclamar, porque quando o Banco Central era dependente de mim, todo mundo reclamava. O único dia que a Fiesp falava era quando aumentava os juros.”

Fake news

Lula usou seu tempo para corrigir ainda factoides mentirosos sobre o BNDES, disseminados ao longo do seu governo e também durante a campanha eleitoral. A primeira delas é a de que o banco era usado como caixa preta – fake news desmentida após auditoria que custou R$ 48 milhões aos cofres públicos em 2020 e comprovou que as operações atendem a critérios técnicos e garantias firmes, com colaboradores altamente qualificados.

Outra mentira sobre a instituição é a doação de dinheiro público para outros países. O presidente esclareceu que os financiamentos de obras no exterior são direcionados às empresas de engenharia brasileiras contratadas para o desenvolvimento do projeto. Entre 1998 e 2007, o governo financiou R$ 10,5 bilhões e já recebeu R$ 12,8 bilhões, fora as dívidas em atraso.

“Os países que não pagaram, Cuba e Venezuela, é porque o presidente [Bolsonaro (PL)] resolveu cortar a relação internacional com esses países e, para não cobrar, para ficar nos acusando, deixou de cobrar. Tenho certeza de que, no nosso governo, esses países certamente pagarão a dívida com o BNDES”, alegou.

Por fim, Lula deixou claro que sua gestão não concedeu empréstimos apenas a “meia dúzia de empresas”, mas que manteve relações bancárias com 480 das 500 maiores empresas que atuam no Brasil. O presidente ressaltou ainda que 97% do volume de empréstimos foram destinados a pequenas e médias empresas, e que o montante emprestado precisa aumentar durante a gestão de Aloízio Mercadante.

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Camila Bezerra

Jornalista

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