Maior parte dos bancos americanos está ‘tecnicamente insolvente’, diz Roubini

Economista afirma que centenas de instituições financeiras já estão completamente insolvente; crise de crédito pode afetar economia real

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A iminência de uma crise de insolvência das instituições financeiras pode levar bancos centrais como o Federal Reserve (o BC norte-americano) a levarem suas economias a um quadro de recessão seja para lidar com a inflação ou para garantir liquidez.

A afirmação é do economista Nouriel Roubini, em artigo publicado no site Project Syndicate, onde apresenta o efeito da inflação elevada no mercado de títulos públicos – e lembra que, em janeiro de 2022, chegou a alertar para o impacto da inflação elevada sobre as ações e os títulos.

“Uma inflação mais alta levaria a rendimentos mais altos dos títulos, o que, por sua vez, prejudicaria as ações à medida que o fator de desconto para os dividendos aumentasse”, explica Roubini.

“Mas, ao mesmo tempo, os rendimentos mais altos dos títulos “seguros” implicariam uma queda em seu preço também, devido à relação inversa entre os rendimentos e os preços dos títulos”, disse, ressaltando que o chamado “risco de duração” não foi levado a sério por banqueiros, reguladores bancários e investidores de renda fixa.

Resultado: até o final de 2022, as perdas não realizadas pelos bancos norte-americanos chegava a US$ 620 bilhões, algo próximo a 28% do capital total do setor (US$ 2,2 trilhões).

“Como o aumento da inflação em 2022 levou a maiores rendimentos dos títulos, os títulos do Tesouro de dez anos perderam mais valor (-20%) do que o S&P 500 (-15%) e qualquer pessoa com ativos de renda fixa de longa duração denominados em dólares ou euros ficou segurando a bolsa”, pontua o articulista.

Recessão como solução

As taxas de juros mais elevadas também reduziram o valor de mercado de outros ativos bancários: como explica Roubini, se um empréstimo bancário de 10 anos for feito quando as taxas de juros de longo prazo forem de 1% e essas taxas subirem para 3,5%, o valor real desse empréstimo cairá.

A contabilização disso implica que as perdas não realizadas dos bancos americanos chegam a US$ 1,75 trilhão, ou 80% de seu capital.

“Na verdade, a julgar pela qualidade de seu capital, a maioria dos bancos americanos está tecnicamente à beira da insolvência, e centenas já estão totalmente insolventes”, afirma o economista.

“Certamente, o aumento da inflação reduz o valor real dos passivos (depósitos) dos bancos ao aumentar sua “franquia de depósito”, um ativo que não está em seu balanço patrimonial”.

Na visão de Roubini, a sensibilidade dos depósitos à taxa de juros voltou à tona após 15 anos, com os bancos assumindo um risco de duração “altamente previsível” por desejarem aumentar sua margem líquida de juros.

“Para piorar ainda mais a situação, os reguladores nem mesmo submeteram os bancos a testes de estresse para ver como eles se sairiam em um cenário de altas acentuadas nas taxas de juros”, afirma Roubini.

Com isso, a crise de crédito vai levar a economia real a uma aterrisagem mais problmática – e, na visão do economista, os bancos centrais não enfrentam apenas um dilema, mas um trilema.

“Devido aos recentes choques negativos de oferta agregada – como a pandemia e a guerra na Ucrânia – alcançar a estabilidade de preços por meio de aumentos nas taxas de juros certamente aumentaria o risco de um pouso forçado (uma recessão e maior desemprego)”, diz o articulista.

Para Roubini, um cenário tão complicado coloca a recessão como a única coisa capaz de moderar uma inflação de preços e salários, mas isso pode aprofundar a recessão financeira. “Uma vez que o suporte à liquidez não pode impedir esse ciclo de destruição sistêmica, todos devem se preparar para a próxima crise de dívida estagflacionária”, alerta.

Redação

2 Comentários

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  1. E ainda assim, Roubini não passa de um economista, pois o mais pessimista dos economistas ainda é mais otimista que os não economistas…

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