Brasileiro é 75° no ranking da produtividade

Por Rick Blaine

Trabalho no Brasil está na lanterna

Do O Globo

Brasileiro fica no 15º lugar em ranking de produtividade da AL e na 75ª posição no mundial, emperrando crescimento

RIO – O crescimento econômico do Brasil está em xeque. Produtividade baixa, investimento insuficiente, falta de mão de obra qualificada e gargalos estruturais (de portos a aeroportos) freiam a expansão da sexta economia do planeta, dizem especialistas. Levantamento com 17 países da América Latina mostra que a produtividade do trabalhador brasileiro — medida pelo quociente entre Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) e pessoal ocupado — está entre as mais baixas: na 15 colocação, à frente só de Bolívia e Equador, segundo dados da instituição de pesquisa americana The Conference Board. Perde para países como Argentina (produtividade de US$ 37.589 por trabalhador), Chile (US$ 35.864), Colômbia (US$ 23.208), México (US$ 35.579), Venezuela (US$ 31.054) e Peru (US$ 24.054). No ranking mundial o Brasil aparece na 75ª posição.

Com uma produtividade de US$ 19.764 por trabalhador no ano passado, o Brasil vai ficando para trás: de um ano para o outro, é estimado um avanço de 1,4% — abaixo da média da América Latina (2,1%) e aquém da mundial (2,5%). Projeta-se para a China uma produtividade de US$ 16,7 mil em 2011 — menor do que a do Brasil, mas é um salto de quase 9% em um ano. Na Índia, o indicador sobe 5,2% e na Rússia, 4,4%. Nos países ricos, a produtividade alcança US$ 105 mil nos EUA e US$ 78 mil na Alemanha.

— Esse indicador é a síntese da baixa qualificação do trabalhador brasileiro, dos gargalos estruturais e do baixo investimento. Também está refletido nesses números o modelo econômico do país, calcado na produção decommodities. Não investimos em produtos de maior valor agregado. Nessas condições, não há como crescer 4%, 4,5% de forma sustentada — analisou Marco Tulio Zanini, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Os dados do The Conference Board apontam também que a produtividade média do brasileiro é quase 20% (18,7%) da do trabalhador americano.Grosso modo, é como se o o trabalhador daqui demorasse quase cinco dias para produzir o mesmo do que quem está nos EUA.

— A produtividade se ressente da defasagem de investimento e da educação da população. E, em tempos de crise no mundo, isso faz com que o país perca competitividade global — disse Flávio Castelo Branco, gerente de Políticas Econômicas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acrescentando que o ambiente institucional do país traz atrasos. — Reformas estruturais, apesar de serem nomes desgastados, são fundamentais para a produtividade.

Com economia fortemente baseada nas commodities, o Brasil observa, contudo, um crescimento dos serviços — que já responde por mais de 60% do PIB. Entretanto, esse tipo de setor se expande de uma forma diferente do que se observou nos países desenvolvidos. E, assim, o segmento pouco contribui para ampliar a produtividade do trabalho.

— É um setor que, para atender à demanda das classes emergentes, cresceu nos serviços simples voltados para as famílias e no comércio. Atividades que não exigem grandes especializações e empregam muita mão de obra — explicou José Ronaldo Souza Junior, economista do Ipea.

— Ao contrário de países como a China, nosso crescimento recai para serviços de baixo valor. A China se voltou também para tecnologia da informação, que requer grandes investimentos em formação. Para se ter ideia, a qualidade dos serviços brasileiros é ruim. Pedir uma simples pizza pode mostrar como essa qualidade é péssima. E isso também tem a ver com produtividade — disse Zanini.

O economista Naércio Aquino Menezes Filho, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa, ressalta que a produtividade do trabalho é afetada pela escassez da mão de obra, que faz com que os salários de determinadas funções subam acima da própria produtividade. Salários elevados afetam os preços do produto final — tiro direto na produtividade, cuja máxima é produzir mais com menos.

— O Brasil cresce a partir da força de seus trabalhadores. Mas não há mais como crescer empregando mais gente. Com a taxa de desemprego perto do pleno emprego, vai faltar gente para fazer o país crescer. Se o consumo continuar crescendo, pode ser preciso importar profissionais para vários segmentos. Ou seja: não se nota somente a falta de pessoal qualificado. O problema se agrava com a falta de pessoal.

Saída é mais ensino e menos burocracia

Um dos caminhos, segundo Menezes Filho, para ampliar a produtividade vai além da política de juros ou dólar. É preciso pensar no país a longo prazo, o que inclui investimento na qualidade do ensino público — não somente sua universalização —, menos burocracia no ambiente empresarial, reformas trabalhistas e tributárias, investimentos em infraestrutura e mais inovação:

— Parcela grande de funcionários das empresas está resolvendo problemas: é gente que não produz, mas resolve questões jurídicas, trabalhistas… Apenas 5% das empresas brasileiras gastam em pesquisa. É muito pouco. Assim como são poucas as que empregam mestres e doutores. Saltos de crescimento atingem países que inovam.

Para compensar a falta de qualificação, há empresas que investem nos funcionários. São exceções, frisa Menezes Filho. Caso da Chemtech que tem uma universidade interna. Além de treinamentos para projetos, oferece especializações e mestrados. Em 2011, foram 5.500 vagas em treinamentos para seus 1.300 funcionários.

— Um engenheiro quando se forma, mesmo sendo elétrico ou mecânico, tende a ser generalista. Ele não traz conhecimentos específicos para atuar numa área específica. Atentos a isso, a companhia investe na qualificação, em cursos específicos. O investimento em educação é de 1,6% do faturamento. Ganhamos em produtividade e qualidade — concluiu Cristina Maretti, coordenadora de RH da Chemtech.

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/economia/trabalho-no-brasil-esta-na-lanterna-4341713#ixzz1pTQXJ3Hf 

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Luis Nassif

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