O futuro da economia americana vai além dos 2%

Jornal GGN – As falas do Federal Reserve, os pronunciamentos de seus executivos adiantando tendências sobre as políticas futuras da autoridade monetária norte-americana, traz ruídos aos mercados do mundo todo. As bolsas sentem, as moedas emergentes se retraem, os efeitos para a economia tornam-se duvidosos. Mas as especulações têm sentido: o país voltou a crescer, mesmo que em números discretos, e a recuperação significa menos dólares em forma de títulos – trazendo reflexos notórios em diversas partes do mundo, inclusive no Brasil. Mas com um índice de PIB previsto em apenas 2%, já é possível diminuir as ações para estancar os resquícios da crise de 2008?.

Celina Ramalho, professora de economia da Fundação Getúlio Vargas, acha que ainda é cedo para se falar em retomada. E cita o exemplo recente de Detroit, que sofre com as inconstâncias da indústria automobilística.  “Sinais de recuperação estão acontecendo, mas não ainda o que esperávamos. O emprego ainda balança, a recuperação lenta da estrutura produtiva do país. O prefeito de Detroit declarou recentemente estado de calamidade pública na cidade por causa da queda vertiginosa dos empregos diretos. Não são suficientes pra sustentar o padrão econômico de tempos atrás. Os asiáticos têm produzido carros competitivos, enquanto isso. No mercado brasileiro mesmo, foi uma invasão. Tínhamos 10 marcas no país há 40 anos, hoje 42 marcas. Indústria automobilística americana em derrocada, na ásia bem mais eficientes. Influência sim, liderança não mais: Estados Unidos e Europa são mercados consumidores, de fortes patentes. Mas a base produtiva não se compara”, explica.

Para a especialista, a conta é simples: a projeção de crescimento de 2% da economia dos EUA nem se compara aos  e 7% do pib chinês, no mesmo período. Mesmo com a diferença gritante e as expectativas baixas, Celina não acredita na possibilidade do Fed voltar atrás. “ Seria reformatar uma situação de bolha, como em meados de 2000 e poucos. É estimar o mercado em algo que não acontecerá”.

Para os analistas, a nova configuração da economia mundial se definirá de forma morosa: levará tempo, até que os mercados se estabilizem.

“O Fed tava injetando dinheiro há bastante tempo porque a economia estava parada. A crise forte afetou violentamente os setores produtivos e os recursos funcionaram como uma injeção de adrenalina num paciente muito debilitado. A partir do momento em que essa melhora vai se mostrando, é natural que se diminua também a dose do medicamento”, conta Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios.

Para ele, os Estados Unidos estão mostrando sinais de investimento sustentável, no que diz respeito aos indicadores internos, redução de desemprego, aumento do volume de crédito, aumento da produção industrial e setor imobiliário – tudo voltando, aos poucos, à normalidade. “Os EUA e a Europa tomaram um raio, desaacordaram, estavam pra morrer. Fed fez o papel de médico e agora o paciente está se recuperando. Uma hora vai parar”.

Sobre a discussão em relação ao tempo em que a retirada de recursos do Fed deve acontecer, Leite acredita em estratégia de “suspensão de medicamentos”, mas não em mudança de planos.

Outra questão que pode mudar os rumos da economia norte-americana já a partir de 2014 é o o gás de xisto, que barateou o preço da energia e deve impulsionar a economia local pelo menos por um período até ser autosustentável. “No curto ou médio prazo, mudanças tecnológicas podem criar novo ciclo industrial nos Estados Unidos. As indústrias estão voltando para se beneficiar do gás barato. Alguns estados devem ter pujança mais que outros. E o Fed não deixará de aplicar sua política macroconomica por causa disso, mas de acordo com o ambiente geral da economia”, complementa Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Consultoria.

“Os dados da economia americana tem melhorado, especialmente emprego e setor imobiliário, com um certo folego. Não dá pra dizer que saíram da crise, sistema financeiro americano ainda têm enormes perdas não contabilizadas, resquícios, a economia não deve crescer muito além de 2%, mas as perspectvivas são de melhora, com o déficit fiscal se reduzindo. No curto prazo, reversão de fluxo, liquidez, alteração no diferencial de juros pode causar stress nos mercados – o que, para o Brasil é ótimo nas exportações e demais canais”.

Com a política de taxa de juros zero ainda em manutenção por um bom tempo, o economista José Luiz Rossi, do Insper, acredita em uma “calibragem gradativa”, e não em uma mudança de dia para a noite, no caso das decisões do Fed.

“Devemos assistir a uma redução de transações correntes daqui pra frente, tanto pelo câmbio e pela atividade menor. O timing ainda demora para mudanças significativas”.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador