A nova reitoria da USP e os problemas de gestão

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Por Gilberto .

O desastrado início de gestão da USP

Talvez encantado pelos modelos atuais de gestão privada, a nova gestão da USP iguala a natureza de diferentes gastos, com patrimônio e recursos humanos. Suspende bolsas e contratações resultantes de concursos públicos, como se as mesmas fossem equivalentes a novas obras ou à conservação do patrimônio da universidade. 

Ora, é mais ou menos evidente que o valor economizado com a interrupção das obras seria suficiente para o equilíbrio das contas.  Evitaria-se assim a insegurança gerada às várias unidades, aos projetos em andamento, aos professores  e alunos atingidos. Isto tudo, bem no início do ano letivo.  

É um típico caso em que a gestão de pessoal é ignorada, em nome da transparência e da economia de recursos. A medida poderá ainda apresentar resultados desastrosos. O prejuízo causado pela interrupção de pesquisas e pelas ações interpostas (que serão inevitáveis), pode ultrapassar a diminuição de gastos pretendida. 

Não consta da reportagem,  mas adianto, que mesmo  com a anunciada crise financeira, a USP possui recursos em caixa, que foram “aplicados” no mercado financeiro até que a situação seja normalizada. Só que a USP, espero,  não tem CEOs ou acionistas que se beneficiem dos ganhos advindos desta aplicação. A atividade principal de uma universidade pública,  é gerar conhecimento, não lucro. 

do Estadão

 USP corta orçamento de núcleos de pesquisa, novas contratações e obras

Congelamento segue até abril por causa da situação financeira; Orçamento de 2014 será decidido no próximo dia 25

Paulo Saldaña – O Estado de S. Paulo

A nova gestão à frente da Universidade de São Paulo (USP) congelou até abril novas contratações e o início de obras na instituição. O orçamento dos Núcleos de Apoio à Pesquisa (NAPs) tiveram corte na liberação de recursos. O motivo é a crise financeira que a universidade enfrenta, tendo fechado o ano passado com 100% de seu orçamento comprometido com pagamento de pessoal.

Por causa desse comprometimento, a USP tem precisado recorrer às suas reservas para manter as contas em dia – conforme o Estado revelou em novembro passsado. O orçamento para este ano ainda será definido no dia 25 deste mês, mas o próprio reitor Marco Antonio Zago já assumiu que a situação deverá ser constantemente avaliada. O congelamento de contratações e novas obras por dois meses foi decidido no último dia 4.

Além desses dois pontos, a crise financeira já atinge uma das iniciativas mais elogiadas da gestão passada, os NAPs – desde 2010 foram criados 43 grupos. Foi a primeira vez que a própria universidade investiu recursos próprios na pesquisa – tradicionalmente, quem financia a ciência na universidade são as agências de fomento, como a Fapesp, CNPq e Finep. Os NAPs estão dentro do Programa de Incentivo à Pesquisa, cujas duas primeiras chamadas (2010-2011 e 2011-2012) envolveram um total de recursos de R$ 146 milhões.

Com o congelamento orçamentário, há coordenadores com receio de não conseguir garantir o pagamento de compromisso assumidos anteriormente. Bolsistas ainda temem perder seus benefícios e ter de abandonar seus estudos.

Em  comunicado encaminhado aos núcleos, obtido pela reportagem, o Departamento de Finanças da universidade indica que “foi autorizada a liberação de 6% dos recursos da economia orçamentária e da receita própria das unidades”. Questionada, a reitoria informou que a regra só vale para fevereiro, enquanto o orçamento não é definido. Pesquisadores, no entanto, dão como certo o corte nos orçamentos do NAPs. Fonte ouvida pelo Estado durante a posse do novo reitor, no dia 25 de janeiro, ìndicou que a situação dos NAPs deverá ser analisada “com cautela” diante da situação orçamentária da universidade.

O novo pró-reitor de Pesquisa da USP, josé Eduardo Krieger, já disse que a decisão de a USP investir diretamente em pesquisa foi “fundamental”, mas aponta o desafio de lidar com o custo excessivo da administração. “Nós gestores não estamos satisfetios e queremos trazer cada vez mais proifisionalismo para a área”, disse Krieger ao Estado na última terça-feira, dia 11, durante o anúncio da nova equipe de gestão da USP.

No ano passado, o orçamento da USP foi de R$ 4,3 bilhões. As universidades estaduais (USP, Unicamp e Unesp) são financiadas com uma parcela fixa do Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços (ICMS).

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. Queria saber…

    qual o orçamento de grandes universidades estrangeiras com tamanho equivalente ao da USP. Eu achava que Rodas era o Ó do borogodó, mas parece que o Alckmin garimpou alguém pior, o que eu achava impossível. Na verdade, o fundo do poço está sempre a algumas centenas de metros abaixo do que a gente imagina. Qual o orçamento de Harvard, MIT, CalTech, Paris V,  Cambridge, etc.? E na comparação orçamentária, cuidado: nossos professores/pesquisadores são muito mais “baratos” e vivem dependurados nos cheques especiais e cartões de crédito. Logo, nossos professores não são marajás.

    Além disso, neste ano em que a USP completa oitenta anos, quantos prêmios internacionais já ganhou? Nobel, ao que eu saiba, nunca teve nem indicação. Nossa universidade é reflexo da “inteligência” que gere o estado de São Paulo, que administra o Metrô, a SABESP, a CETESB, os “preços módicos” dos intermináveis pedágios estaduais, onde o feito mais notável é na educação básica e Ensino Médio. Escolha uma escola estadual qualquer. Pegue 100 alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Sabem quantos sabem resolver uma simples equação de 2º grau? Menos de dez. Geraldo Alckmin vai se incomodar? Claro que não! Sabem como ele cursou Medicina em Taubaté? À mesma época em que era vereador depois prefeito de Pindamonhangaba. Se ele não estava preocupado com a própria formação profissional, imaginem com a formação alheia.

  2. É a mesma conversa de “trazer

    É a mesma conversa de “trazer para administração pública princípios da administração privada”. Quando ouço isso tenho logo o impullso de coniferir a carteira; já sei que vão empurrar pro rabo de alguém e salve-se quem puder, sobretudo os mais fracos.

    Esses tucanos não têm jeito. Vivem mesmo é de retórica. Em qualquer gestão privada, na hora de enfrentar os custos, ataca-se primeiramente o principal item de despesas. No caso da união é obvio que a priincipal despesa é o gasto com juros e serviço da dívida, que consome quase metade do orçamento. Atenção, desavisados: é pra isso que servem os seus impostos; dívida contratada pelos “poliíííiticos”. E o que fazem os tucanos? Vão pra cima dos funcionário públicos e da previdência. Chique, muito chique.

  3. Essa é uma discussão que

    Essa é uma discussão que exige conhecimento da USP de hoje, como funciona, quais são as prioridades e, principalmente, qual é – se é que existe – a missão da USP? Em termos de prioridades é claríssimo que a Graduação é a última delas e diz respeito não apenas à Adminsitração/Reitoria mas principalmente em relação aos Professores que ainda jovens mostram-se inteiramente desmotivados em relação à ela – gostam mesmo é do Mestrado e Doutorado. E existem três USPs… uma mais atualizada e dinâmica que engloba as Faculdades mais requisitadas pelo mercado de trabalho, como Engenharia e Medicina; essa tem recursos investidos até pelo setor privado que está de olho nos melhores talentos. A USP intermediária engloba Direito, Relações Internacionais, Jornalismo, Arquitetura e algmas outras; estas vivem no Purgatório, operam no limite da eficiência, sempre defasadas tecnologicamente. E por último as humanidades em geral, que tem na FFLCH seu símbolo; ninguém dentro da USP dá valor e as Faculdades em questão encontram-se inteiramente defasadas. Por fim, qual a Missão da USP? Ganhar prêmios internacionais e aparecer bem na fita de pesquisas universitárias que não merecem a menor credibilidade? Se for isso, vai muito bem a USP… caso contrário, é triste a situação dos graduandos especialmente se não pertencerem ao 1o Grupo. E não vejo como um novo Reitor, por melhor intencionado que esteja, pode reverter este quadro à curto prazo. 

  4. Comentário.

    É muito fácil dizer que está com o orçamento comprometido sem fazer um histórico recente das contas da Universidade. Durante toda a gestão Rodas, este comprometeu de diversos modos o orçamento da USP, com compras de imóveis e construções de utilidade duvidosa. Sobre o plano de carreira, foi outra barbaridade; deu espaço para aqueles que estabelecem boas relações com o estado de coisas de sempre recebessem o seu quinhão pecuniário. Não falo da boca pra fora; conheço pessoas que, efetivamente, carregam o piano naquele lugar e mal ganham um “bom dia”, contrariando a mentalidade dos que consideram o serviço público e/ou autárquico uma moleza.

    A USP, nestes últimos anos, fez gastos inúteis, apenas parra refestelar ao gosto de algumas extravagâncias burocráticas e docentes.

    Zago terá que dialogar. Pena que algumas peças de sua gestão façam parte da anterior. Ele deveria olhar com mais calma quem o apoia.

  5. O discurso do candidato não previa o corte

    Informativo Adusp. Qual a sua avaliação da atual gestão? Ao seu ver, já é possível fazer algum balanço?

    ZAGO. Como Pró-reitor participei da atual gestão. Acredito que fizemos progresso no sentido de fazer da pesquisa um instrumento de integração interna e de interação da USP com a sociedade: temos mais coesão de grupos interdisciplinares (na forma de NAPs []), temos estímulo aos docentes recém-contratados para ganharem independência de produção intelectual, temos iniciativas importantes para criar laboratórios multiusuários, fortalecemos a Agência USP de Inovação (a USP é hoje a universidade brasileira que mais deposita patentes), promovemos numerosos acordos internacionais de pesquisa e editais para projetos em colaboração com universidades líderes do mundo, nossa posição em todos os rankings internacionais melhorou. Meus colegas pró-reitores também criaram diversos programas e terão oportunidade de explica-los em suas intervenções.

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