O calendário estapafúrdio da UFAM, por Mestre Yoda

                         

Em todas as instituições de ensino que conheci até o momento, quer nos níveis básicos, quer no ensino superior, as coisas funcionam mais ou menos assim: 1º – os estudantes se matriculam, 2º – recebem suas confirmações de matrículas, 3º – iniciam o período letivo (semestral no ensino superior e anual no ciclo básico), 4º – realizam atividades acadêmicas e avaliações, 5º – recebem conceitos que informam sobre sua aprovação ou reprovação, 6º – finalizam o período letivo.

Na UFAM de 2015, a atitude dúbia e vacilante da administração superior frente à deflagração da greve dos professores e técnico-administrativos, tornou esta simples receita básica do funcionamento de uma instituição de ensino uma gororoba indigesta. Após certa demora na convocação de seu Conselho Universitário (CONSUNI), para decidir sobre o calendário acadêmico (solicitação feita pela Associação dos Docentes da Universidade Federal do Amazonas – ADUA), de modo sorrateiro, dois docentes e três entidades estudantis alinhadas politicamente com as posições da reitoria, ingressaram com um mandado de segurança, que exigia que o CONSUNI se abstivesse de decidir sobre este assunto.

A resposta da reitoria a este ataque à autonomia universitária não poderia ter sido mais débil. Em seu questionamento à justiça, a administração da UFAM sequer refere-se a este ataque, contribuindo para que, numa interpretação equivocada da Justiça Federal, se mantivesse esta absurda mordaça no CONSUNI.

Daí em diante, tudo passou a ser permitido. A reitoria diz querer preservar, por um lado, o direito (coletivo) dos grevistas e, por outro, o direito (individual) dos que querem continuar trabalhando (os fura-greves). Desse impasse surgiram vários calendários vigentes: a) o dos que aderiram à greve; b) o daqueles que não aderiram à greve; c) o daqueles que suspenderam sua atividade aguardando a decisão do CONSUNI, mas que, acreditando precisar da autorização do patrão para fazer greve, retomaram suas atividades pela falta de decisão do CONSUNI e; d) o daqueles que, sem repor as aulas, querem concluir o período com um “trabalhinho”, etc, etc.

Grande parte dos alunos, mesmo das unidades mais reticentes à greve, concluíram algumas disciplinas, mas não outras. Ainda assim, a reitora, em reunião recente com diretores de unidade de Manaus (e, estranhamente, com a ausência dos diretores de unidades fora da sede), informou que, mesmo sem o encerramento do período por parte de muitos professores, iniciaria o período na data prevista, ainda que muitos não possam acompanhar o calendário; que não haja garantias, por parte da administração superior, de reposição integral de aulas; e que esta babel acadêmica permaneça instalada.

O individualismo, marca da universidade contemporânea, da sociedade ocidental, será, mais do que nunca, em seu grau máximo, a cara da UFAM. Cada um faz o que quiser, quando quiser, adota o calendário que quiser, define suas próprias essencialidades, ocupa o espaço do outro, decide o que bem entender e pode ainda, escolher atuar, ora como docente, ora técnico, ora como administrativo, carregador de móveis, etc. Se quiser, pode até calar o CONSUNI e, por tabela, atentar contra a autonomia universitária por via judicial. Ah! E vale também caluniar ou ofender o colega, decidir sobre que documentos responder, enfim… tudo vale, exceto questionar politicamente os cortes implementados pelo Governo Federal. Ah! Não! Porque aí já é demais!

Redação

2 Comentários

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  1. Não é só na UFAM

    A atitude da reitoria da UFAM não é um caso isolado. Isso aconteceu e continua acontecendo em outras Universidades em que os professores e técnicos administrativos estão em greve. Pode ser uma simples coincidência, mas pode ser também algo orquestrado para quebrar a greve sem que o governo mostre a cara. E isso com apoio de vários  DCE’s e entidades estudantis governistas que de movimentos sociais se transformaram em braço da repressão estatal aos movimentos sociais legítimos.

  2. Ainda não deu pra entender.

    Infelizmente o artigo está sumário demais para dar uma ideia precisa do que possa estar acontecendo.

    Mesmo que o último parágrafo seja verossímil (nos governos do PT, a universidade brasileira foi definitiva e massivamente transformada em objeto de consumo, segundo uma lógica individualista da educação), ele não parece articular-se como a dedução objetiva de fatos que precederiam a avaliação que faz.

    É até possível que o caso da UFAM possa ser exemplar no cenário de impasses e falência da educação brasileira, mas para isso precisamos de análises mais criteriosas, menos em tom de fofoca e mais na clave da análise dos processos.

    Alguém tem links de outras matérias sobre o caso?

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