Campos poderia ter admitido projeto próprio de governo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – A morte de Eduardo Campos (PSB) despertou homenagens ao candidato que, por uma fatalidade do destino, seguiu os passos do avô Miguel Arraes e perdeu a oportunidade de chegar à Presidência. Campos, na visão de analistas e gestores públicos, era um político acima da média e poderia até ter incorporado esse reconhecimento ao seu discurso. 
 
No lugar de “tergiversar” sobre as divergências com os governos do PT – dos quais participou por mais de 10 anos -, bastaria a Campos contar à população, sem rodeios, que vinha cavando espaço para seu projeto próprio de “governo e país”. É o que aponta Jânio de Freitas em coluna na Folha, nesta quinta (14), um dia após o acidente aéreo que vitimou o ex-governador de Pernambuco.
 
Em busca do sonho
 
Por Janio de Freitas, na Folha
 
Eduardo Campos não era um político para agora. Entrou na disputa pela Presidência como um ressurgimento do Nordeste na política alta, e sairia como a promessa antecipada para a sucessão presidencial de 2018. 
 
Assim o seu presente se projetava condicionado, por um lado, pelas suas dificuldades financeiras e políticas para a disputa atual, e, por outro, pela apresentação que faria de si ao país, no horário eleitoral, carregando em sedutoras ideais reformistas.
 
Daí uma comparação interessante com Aécio Neves. Netos, ambos, de políticos notáveis; ambos ex-governadores, lançados no plano mais alto da geração que entra no jogo político nacional, Eduardo Campos e Aécio Neves ofereceram a impressão de futuros postos. O primeiro, como detentor da avidez política de quem irá em frente sempre e cada vez mais, não importando nem rebordosas como sua esmagadora derrota na disputa pela prefeitura de Recife. Aécio Neves, embora profissional da política, passando mais a imagem de diletante, com outras atrações satisfatórias na vida.
Ninguém duvidaria de que Eduardo Campos, se derrotado agora, estaria na disputa da sucessão presidencial seguinte. É muito duvidoso que alguém imagine igual disposição de Aécio Neves, aquele que se mostrou tão desinteressado de lutar com José Serra pela candidatura presidencial que, na última eleição, os chefões do partido lhe punham nas mãos.

 
Componentes da mesma diferença, já os modos de exercer os mandatos de governadores os mostraram divergentes. Para a condução do governo mineiro de Aécio Neves, Andréa Neves, a irmã, e Antonio Anastasia foram muito importantes, ela aplicando a sua vocação política, ele na parte administrativa. Eduardo Campos, à parte o acerto ou não das suas orientações e providências, mostrou um gosto ilimitado por estar ele próprio com os cordéis do governo, e movê-los sem dia e sem hora.
 
Eduardo Campos fez uma passagem discreta, delicada mesmo, do apoio a Dilma Rousseff para a oposição. Mas sua candidatura implicou, forçosamente, mais do que esta oposição concentrada. Era uma ruptura com Lula e com as concepções expressas nos três mandatos petistas. As quais Eduardo Campos apoiou por dez anos e meio. Desde que em 2003 integrou o primeiro governo Lula, como ministro da Ciência e Tecnologia que saiu bastante bem, até meados do ano passado, quando consolidou a decisão de candidatar-se à Presidência.
 
O direito da sua candidatura era inquestionável. Mas, para justificá-la, Eduardo Campos recorreu, sem necessidade, ora a tergiversações, ora ao argumento de que Dilma Rousseff não corrigira as falhas do governo Lula, o que levara ao seu afastamento. Falhas que nunca apontou nos oito anos do governo Lula, ao qual integrou e depois apoiou sem restrições.
 
Insuficiência de Dilma Rousseff a que não se referiu, nem importaram, nos dois anos e meio em que foram aliados. Por mais que o argumento pudesse ser sustentado, e Eduardo Campos não cuidou de explicá-lo, as aparências do carreirismo político prevaleceram. Quando bastaria, no entanto, até com proveito extra, apenas dizer-se portador de um projeto próprio de governo e de país. A melhor justificativa para um candidato –e, ainda que compreensivelmente incompleta, Eduardo Campos a tinha. 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

11 Comentários

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  1. Ao meu ver, foi picado pela

    Ao meu ver, foi picado pela mosca azul. Se esperasse por 2018 poderia agora ter se candidatado a senador, e provavelmente seria o poste para 2018.

    1. EDUARDO para 2018 era conversa fiada… do PT

      Eduardo fez bem em sair candidato e dizer ao país que o modelo atual está esgotado. Tentou dizer a DILMA e a LULA e não quizeram ouvi-lo.

      Se o projeto do PT não fosse essencialmente petista, o poste DILMA, reconheceria suas dificuldades de ser política e deixaria de concorrer à reeleição, ou melhor ainda, DILMA e o PT deveriam ter encaminhado as reformas políticas com o fim das reeleições.

      Nessa hipótese, até por reconhecimento, a primazia para concorrer em 2014 seria novamente a vez de LULA, com total apoio do PSB e aliados. E então em 2018, sem a possibilidade de reeleições em 2018 seria a vez da renovação política dentro da coligação, e então poderia ser a vez de EDUARDO.

      Mas, na verdade, conforme já disse o presidente Rui Falcão: em 2018 é LULA. A desmedida opção pelo continuismo a pretensão do PT é a reeleição de DILMA em 2014 com o LULA (Putin) no comando do governo já preparando o retorno em 2018, 2022 et caterva.

      Portanto os sonhos e ideais de EDUARDO prosseguirão com MARINA a sua escolhida para a VICE e substituta natural, por vontade expressa dele. 

      E que ela cumpra com seus ideais, o primeiro deles, o fim de reeleições, para então em 2018, com um novo ambiente político que não submeta LULA a lotear o governo nem a recursos como o ´mensalão´, apoiamos o retorno do líder máximo.

      1. “a desmedida opção pelo

        “a desmedida opção pelo continuismo” do PT ….. kkkkkk. Cada figura que aparece …. só rindo. Pergunto ao sábio se o caso do PSDB em São Paulo, quase 20 anos no poder, também não se trataria de uma “desmedida opção pelo continuismo”, que, via de regra, todo partido, se pudesse, não rejeitaria. Não apenas o PT.

  2. Aécio não quis concorrer com

    Aécio não quis concorrer com Serra?Há um equícoco ai.Quis muito prévias,daí uma das grandes desavensas dos dois.E qual é o problema de se governar em equipe?Sabemos que Eduardo não era tão individualista assim não.Esse janio caducou de vez!

  3. Pra Dilma não muda nada. Quem

    Pra Dilma não muda nada. Quem gosta da Dilma vai votar nela e quem não gosta vota nos outros. Marina vai ter a quantidade de votos que teve na outra eleição. Suas propostas são confusas e sua imagem não empolga as massas, que em última análise decidirão a eleição. Acho  a oposição continua a viver numa realidade paralela. Problema dela! Pra Dilma é no primeiro turno. Quando Lula for pra tv e para ruas esse hem hem hem acaba logo!

  4. Até que enfim!

    Só Janio mesmo pra dar um break nesse lenga-lenga de querer transformar Eduardo Campos em santo e em administrador brilhantíssimo e revolucionário como nenhum outro na pátria brasileira (fala aqui uma pernambucana, tá?). Errou e errou muito! E estava pagando pelo erro. Senão, vejamos: (a) sua candidatura à presidência não saía dos 10, 11% – tudo bem que o horário político, em tese, poderia mudar isso, mas (b) nem em Pernambuco ele vinha conseguindo ficar à frente de Dilma – 37% x 41% na última pesquisa do Ibope, se não me falha a memória e, pra piorar (ou melhorar), (c) seus candidatos a governador e senador em Pernambuco estão lá no fundo do poço, bem atrás de Armando Monteiro (PTB) e de João Paulo (PT) respectivamente. Ele estava a caminho de uma surra terrível aqui no estado. Para além das pesquisas, dava pra perceber que o clima nas ruas não era majoritariamente favorável a sua candidatura nem ao candidato que ele inventou pra governador – um desconhecido com quem, pra variar, ele tinha laços de família. Claro que, com a tragédia, veio o choque e a consternação natural do povo + o condicionamento provcado pelo bombardeio midiático. Que bom ouvir uma voz dissonante.

  5. Respeitem o Luto

    Nassif: Eduardo Campos ainda nem baixou à sepultura e temos uma gama imensa de comentários críticos do que ele foi e do que poderia ter sido. É a total desconsideração para com seus familiares e amigos que nem o luto podem ter, sem que a grande mídia, sempre ávida em vender espaços e aumentar o lucro, respeite. Até os Partidos políticos tiveram mais dignidade, quando decretaram luto de 3 dias. Para esta mídia, a morte é um acontecimento social que pode render muita “prata”. Nem sequer tocam no heroísmo do piloto que, sabendo não poder evitar a fatalidade, buscou local onde reduzisse os estragos. Nenhum comentário de qualquer das coberturas anteriores do cinegrafista. Lembrança alguma sobre o desempenho do assessor. Do reporte, nitica de pitibiriba. Silêncio total sobre os seis demais. É como se eles nunca houvessem existido. Que não tinham vida própria. São tratados pela grande mídia como mero acessório, que acompanhou o principal. E estes “comentaristas de plantão”, talvez com medo de perder o “bonde da história”, ou de desagradar seus patrões, ou mesmo por falta do que falar, embarcam nesta canoa a quem chamo de “furada”, onde o desrespeito ao luto alheio supera o que se poderia chamar “mínimo decência”.

    1. 1) Reclama que a mídia não

      1) Reclama que a mídia não para de falar no EC e reclama que a mídia não fala dos demais passageiros?

      2) O piloto não evitou nada, não dá nem para ver onde vai cair. Além disso, segundo testemunhas, o avião já estava em chamas quando caiu.

      3) Os partidos políticos fizeram luto para, a portas fechadas, poder discutir o que fazer.

      1. Resposta

        André “dos Anzóis Carapuça”: vou desenhar para você — os comentaristas “de plantão”, desde o fatídico evento só têm verborado o que Eduardo Campos foi e o que poderia ser, quando os amigos e parentes do de cujus ainda insepulto estão com lágrimas e dor pungente. Não gostaria que isto acontecesse com qualquer dos seus. Quanto aos partidos políticos, como todas as entidades envolvidas no caso, proclamam a perda e levam pêsames à família. Não ouvi de nenhum deles manisfestação que não fosse de pesar. E se se reuniram à portas fechadas para tratar de sucessão, isto é uma questão de foro íntimo de cada qual, seja agremiação ou pessoa. Agora, a perguntar que não quer calar: você é dono de jornal ou somente acionista da grande mídia, pensando que o faturamento gordo propiciara grandes dividendos?

  6. Eduardo Campos foi governador

    Eduardo Campos foi governador de Pernambuco 2 vezes, Pernambuco foi um dos estados que mais receberam verbas federais. Por que Pernambuco têm educação e segurança tão ruins? Não há um deslumbramento excessivo?

    http://www.rdnews.com.br/materias-especiais/in-seguranca/mt-e-o-13-no-ranking-de-homicidios-no-brasil-aponta-mapa-da-violencia/51996

    http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/es-tem-melhor-educacao-do-brasil-segundo-pisa-veja-lista

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