As dificuldades da gestão municipal da saúde

Por Dude

Comentário ao post “A influência de grupos políticos no sistema público de saúde

Uma das alterações pouco percebida em termos de reflexão foi a municipalização da saúde.
 
Os serviços públicos municipais, na verdade, estão muito voltados a equipes ajeitadas, arrumadas pelos donos do poder local. São cargos em comissão aos borbotões, servidores concursados na base do jeitinho, médicos contratados, amigos de edis e do prefeito, acham que podem tudo e pouco se empenham em fazer em benefício dos cidadãos, pois não são cobrados e os políticos deixam passar “in albis” por politicagem.
 
Na maioria, o atendimento é péssimo a regular. Há médicos que faltam ao trabalho, chegam por lá uma ou duas horas por dia. Não cumprem o horário. Tratam mal os doentes.
 
A questão ainda é profissional. Quando o atendimento da saúde era do Estado, a coordenação era feita por administradores muito bem preparados a nível estadual, que ditavam as normas e regras a serem seguidas e havia maior comprometimento, pois os diretores regionais eram cobrados, e o profissionalismo, entre os servidores da saúde, estava com maior presença, pois era possível tomar suspensões e perder o cargo.

 
Ainda, lembro-me que,  décadas atrás, os funcionários integrantes de um posto de saúde passavam por treinamento efetivo e muito bem feito, realizados nas regionais que os conduziam a uma eficácia no atendimento, até, por vezes, excelência no atendimento, dentro, é claro, das condições da medicina daquela época. Naquele tempo, os funcionários eram treinados pelo Estado até para realizarem, em condições extraordinárias, partos domiciliares, se o médico não estivesse no momento, e inclusive fora dos horários. Hoje há muitos que não sabem sequer aplicar uma vacina.
 
É importante, ainda, ressaltar que o Estado, tendo mais condições, pode possuir em seus quadros grandes conhecedores da atenção básica, da prevenção na saúde – saúde pública é eminentemente repleta de ações preventivas –  de forma a coordenar a saúde em todo estado, de uma forma mais eficiente.
 
Isto foi-nos retirado com a infeliz decisão em municipalizar a saúde.
 
Ainda em municípios de grande porte, há possibilidade de melhoria, mas na grande maioria é uma lástima a falta de conhecimento dos políticos sobre a Saúde e então, na verdade, a barbeiragem é a regra infalível. Poucos são os municípios que conseguem realizar uma boa administração na Saúde.
 
Esse artigo, mostrando a pesquisa, confirma o que estou esclarecendo. O atendimento da saúde pelo Poder Público, ao passar para a administração municipal, foi um erro grosseiro e que está nos deixando consequências danosas à Saúde Pública.
 
Oxalá as autoridades de nosso País acordem!
Redação

8 Comentários

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  1. A saúde tem que ser

    A saúde tem que ser municipalizada.

    Os problemas básicos variam de região para região, temos estados enormes que por isso dificulta a fiscalização e administração centralizada.

    Os municípios são incompetentes pois neles ainda é onde mais impera o coronelismo.

    Há que se quebrar essa cultura nefasta que o artigo bem traduz.

    Há que se refazer o federalismo, a reforma política e a tributária, legando mais autonomia e responsabilidades para os municípios.

    1. MUNICIPALIZAÇÃO PRECIPITADA

      Assis

       

      Tenho por você um respeito imenso. Leio seus textos e comentários, pois é um dos melhores que existem neste espaço. Porém, posso-lhe garantir que a municipalização que herdamos foi completamente equivocada.

      Você expõe, com clareza que: “Há que se refazer o federalismo, a reforma política e a tributária, legando mais autonomia e responsabilidades para os municípios”.

      No etanto, mesmo com estas alterações, ou seja, dando recursos financeiros e maior autonomia aos municípios, a melhoria não acontecerá. Acredito até que, em cidades maiores, possa haver bons resultados. Não porém na maioria dos municípios, onde o poder local está sempre nas mãos de alguns, daqueles grupetos que dominam a política.

      Não é questão, inclusive, de reforma política. A participação do povo na política tem uma porta de entrada: filiar-se a partidos. Neles, o povo poderia começar a escolher melhor seus candidatos. Hoje,  os grupetos indicam seus candidatos. E isto acontece até em nível federal. Veja a escolha do candidato a vice governador do estado de S.Paulo. Escolhas que não representam a vontade dos adeptos deste ou daquele partido, pois não partiu deles, eis que não filiados aos partidos.

      Na verdade, Assis, a democracia de hoje lembra-me o velho patriarcado: “minha filha, você tem a liberdade de escolher o seu marido, desde que seja o Antonio, o Fernando ou o Francisco”. Não poderia ser outro, é evidente, assim, que a democracia está capenga há muito tempo. Apenas o PT, um dos poucos, onde os filiados são questionados e milhares são convocados a decidirem sobre seus representantes. No demais, os grupetos são que mandam e não pedem.

      Voltando à municipalização da Saúde, já possuo 71 anos de idade, e vi muito do que se passou. Sou advogado há 44 anos e trabalhei grande parte de minha vida como advogado do Municipio. Minha esposa, inclusive, trabalhou para o Estado, em Posto de Saúde. Ela, por vezes, visitando os postos de saúde, percebe falhas terríveis, que colocam, inclusive, em risco a saúde de pessoas, por falta de conhecimento dos servidores.  E vejo, hoje, assim. entristecido a grande decadência no atendimento, como meu comentário, feito no momento, que virou “post” expôs.

      Sei que o Estado tem melhores condições de organizar a saúde em todo o Estado, o que os municípios não possuem. Já há muito tempo a municipalização da saúde aconteceu e sei que foi precipitada, feita de afogadilho, sem preparação. Posso até concordar que o poder público fica mais perto do contribuinte e, assim, poderia ser melhor cobrado. Mas não é o que acontece. As cobranças continuam a ser feitas, mas, infelizmente, dada a ignorância que graça nosso País, são dirigidas ao Poder Central. Os prefeitos e edis ficam fora da parada.

      É importante, Assis, que o Estado possa ter o poder de coordenar a organização da saúde em todo o Estado, de forma que os municípios submetam-se aos seus ditames. Não sou adepto de Alckmin e cia ltda. No entanto, sei que o estado possui melhores condições frente aos malfeitos dos governantes municipais. Quando termina o mandato de um prefeito, trocam-se os cargos em comissão, o que hoje abundam as prefeituras, muitos que deveriam ser cargos de carreira, sujeitos a concurso, são em comissão, fora os contratados – fora da lei – que acabam sendo digeridos pelos TCs de nosso País. Aqueles que entram não dão continuidade e, na maioria das vezes, são analfabetos em saúde pública. Sequer compreendem o que irão fazer.

      Assim, Assis, não posso lhe dizer como,  mas era importante que o povo, as autoridades em geral, começassem a refletir sobre isto. Talvez normas cogentes, que façam os “nobres” do poder municipal obedecerem seja a solucão, v. gratia, um diretor ou secretário da saúde tenha que ter formação técnica e conhecimentos sobre direito público e em especial sobre a saúde pública. A experiência, ao longo do tempo, coisa que o Estado oferecia, com seus chefes dos departamentos regionais de saúde , hoje faz muita falta. A ignorância tomou conta da saúde pública, com cargos em comissão adoidados, funcionários concursados na base do jeitinho político, contratados e mais contratados, grande maioria sem condições de estarem lá, dedicando-se à saúde pública. São apadrinhados, muitos trabalham quando querem e não estão nem aí para nada. Há médicos, renito, que trabalham poucas horas durante a semana toda. Não há cobrança e nem nada. Não há profissionalismo. É um sistema falido.

      Reitero, Assis, meus respeito, pois na grande maioria dos temas, tenho aprendido muito com você e concordo plenamente com suas idéias.

       

  2. Concordo que a sáude e outros

    Concordo que a sáude e outros serviços públicos devem ser municipalizados. Também concordo que a situação atual ainda é de dominância dos coronéis modernos. 

    Mas daí a dizer que quando o Estado tomava conta isso funcionava não me parece correto. Haja vista as OSs  ou o PAS aqui no Estado de São Paulo.

  3. Tudo dominado!

    O problema eh o caos das gestões municipais e olha lá que há município  que tem seu próprio sistema de previdência municipal  para seus servidores ao mesmo tempo em que os TRIBUNAIS DE CONTAS DO ESTADO são ocupados por conselheiros apadrinhados, da mesma forma quem chefia o Ministério público nos estados são também apadrinhados,m,as câmaras municipais de vereadores são comandadas pelo prefeito. quem há de fiscalizar a gestão da saúde, educação e previdência desses municípios dos grotões do Brasil? Eh farra na certa. Tudo dominado!

  4. Eu já vi dentro de hospital
    Eu já vi dentro de hospital público enfermeira aos BERROS mandando médicos pra puta que o pariu para depois emendar QUERO VER ME DEMITIR e depois sair dando risadas.

    Sem demissão não se administra nem uma quitanda com 3 funcionários.

    E aí Nassif, e aquela mãe de todas as reformas, vai sair ou não vai?

  5. Desculpe-me o comentarista:

    Desculpe-me o comentarista: sou médico há muuuitos anos e ainda me lembro dos centros de saúde estaduais, pelo menos nos municipios de São Paulo e Diadema. E também em Jaboatão em Pernambuco, onde também trabalhei. Os centros de Saúde estaduais simplesmente não atendiam. Podiam fazer vacinações e outros programas, mas consultas não. Ficavam às moscas ainda às 10 horas da manhã. Compromisso com a população: necas. Também trabalhei a nível central na secretaria estadual. Grandes discussões e grandes programas, mas uma dificuldade imensa de chegar à população. Sem municipalização n~so vejo saída.

     

    1. ANTES OU DEPOIS DA MUNICIPALIZAÇÃO?

      Estava-me referino aos anos 70, quando conheci de perto a saúde não municipalizada. Acredito que seu comentário tenha tido a vontade de relatar o que percebera quando estive no serviço público. Porém, penso que foi em um passado recente, quando a municipalização quebrou o profissionalismo existente. É crível que existiam falhas mesmo ao tempo anterior à municipalização. No entanto, posso garantir que era muito superior – década de 70 –  ao atual.

  6. Não é só municipal, é geral!

    Não é preciso ir aos grotões do país para constatar o modus operandi dos profissionais de saúde, salvo as excessões de praxe. A degradação da prestação de serviços, crônica no serviço público, aprofundou-se com a criação das cooperativas do tipo Unimed, um conglomerado de empresas que coopta médicos país afora. Como resultado, não há tempo ou interesse em trabalhar nas unidades públicas de saúde, já que o salário – ainda que baixo, supostamente ou não – é garantido no fim do mês. Já vi médico plantonista de 24 horas fazer prescrições para pacientes sem sequer visitá-los. É assim que a banda toca. Afinal, a garantia é ser amigo do prefeito. E não estou falando dos rincões do país. Estou falando do Grande Rio. Eu não vejo nenhuma proposta viável para reverter tal situação no curto prazo. Talvez, uma de federalização consentida, como a de Cristóvão Buarque para a educação.

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