China e o futuro de Preços de Commodities, por A.Abiad e Shang-Jin Wei

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Visão de que a China é o motor do colapso das commodities é incompleta

Jornal GGN – Não existem dúvidas quanto ao impacto que a desaceleração da China exerceu sobre a economia global, mas seu papel na queda dos preços das matérias-primas que ocorreu desde 2014 – um resultado que tem sido devastador para os países exportadores de commodities, incluindo economias emergentes – é mais limitada do que a sabedoria convencional sugere.

“Na verdade, a desaceleração da China é apenas uma parte da história entre preços e commodities”, dizem os economistas Abdul Abiad e Shang-Jin Wei, ambos do Banco Asiático de Desenvolvimento, em artigo publicado no site Project Syndicate, onde ressaltam a existência de uma correlação entre os preços de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e de commodities chinesas.

No começo dos anos 2000, quando o ritmo de crescimento chinês acelerado, os preços das commodities subiram acentuadamente; desde que a desaceleração da China começou em 2011, os preços da energia caíram 70%, os preços dos metais foram reduzidos em 50%, e os preços das commodities agrícolas perderam 35%.

Contudo, os articulistas dizem que a visão de que a desaceleração chinesa é o motor do colapso dos preços das commodities é incompleta, na melhor das hipóteses. “Como mostra uma nova pesquisa do Banco Asiático de Desenvolvimento, a China desempenha um papel significativo nos mercados de commodities – representando cerca de metade do consumo mundial de metais, carvão e carne de porco, por exemplo – mas não é tão dominante como se acredita. A China representa menos de um quinto do consumo mundial de açúcar, trigo, aves e carne bovina; 12% do consumo mundial de petróleo bruto; e 5% de gás natural”. Segundo o levantamento, algumas das mercadorias que sofreram as maiores quedas de preços – mais notavelmente, óleo (queda de 73%) e gás natural (menos 55%) – são aqueles em que a China é um jogador relativamente menor.

Além disso, o consumo real de mercadorias na China é ainda menor do que o sinalizado. Ao invés de sinalizar cadeias de produção transfronteiriças, basta levar a soma das importações de produção e de commodities líquida de um país para determinar o seu nível de consumo. “Mas, para a China, uma proporção considerável das mercadorias que “consome” é utilizada na produção de bens que serão exportados para o resto do mundo. Na verdade, quase um terço da demanda de metais chineses é usada para satisfazer a demanda de exportação. Subtraindo as mercadorias embutidos em produtos manufaturados exportados da China reduziria substancialmente aparente papel da China nestes mercados”, pontuam os analistas.

Tal ponto de vista é reforçado pela avaliação das flutuações dos preços das commodities. Os analistas citam o cobre como exemplo: de 2001 a 2006, os preços giravam de maneira descontrolada, com quedas de preços de 30% em alguns anos e aumentos de 150% em outros – ao mesmo tempo em que o crescimento da produção industrial chinesa e demanda por cobre permaneceu relativamente estável, em 15% e 20%, respectivamente.

“Claramente, outros fatores – que vão desde fatores de oferta e demanda global de demanda especulativa e ajuste de estoques – também estão desempenhando um papel importante na condução resultados nos mercados de commodities”, dizem os articulistas.

Então, o que a desaceleração continuada da China implica para os preços das commodities? De acordo com os economistas, mesmo que o ritmo de crescimento chinês tenha se reduzido desde 2011, o crescimento mercadoria-consumo do país ainda supera a do resto do mundo, o que amplia sua cota no consumo global de commodities.

“Isso não deveria ser surpreendente, dado que o crescimento do PIB chinês, embora para baixo significativamente de seu auge de dois dígitos, permanece acima de 6%. A mudança de investimento levou a um modelo de crescimento impulsionado pelo consumo que vai enfraquecer o crescimento na demanda por metais e energia, mas também irá trazer um aumento na demanda por produtos e serviços de alimentação e, portanto, para as commodities agrícolas”, pontuam Abiad e Wei. “A conclusão é clara: mudar a situação econômica da China não significa um desastre para os exportadores de commodities. Pelo contrário, mesmo se, como muitos temem, o crescimento econômico da China desacelere mais, o seu impacto sobre os preços das commodities será limitado”.

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

2 Comentários

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  1. É a banca, estúpido

    No caso específico das commodities agrícolas, desde que os fundos de investimento tomaram conta de Chicago que foram jogadas no lixo todos os estudos econômicos sobre oferta x demanda. E para uma melhor compreensão da ditadura das finanças sobre o mundo produtivo, a cambada de Wall Street e cia, assistam ao documentário “Trabalho Interno” (Inside Job).

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