As suspeitas de digitais dos irmãos Brazão no caso Marielle Franco

Ana Gabriela Sales
Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.
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Domingos Brazão e Chiquinho Brazão teriam sido citados pelo assassino confesso de Marielle

Irmãos, Domingos Brazão e Chiquinho Brazão. | Foto: Reprdoução

O ex-PM Ronnie Lessa, executor dos homicídios de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, teria delatado a família Brazão, no acordo homologado recentemente pelo relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Alexandre de Moraes.

Conforme noticiado pelo GGN, uma apuração do site The Intercept Brasil, publicada em janeiro, afirmou que Lessa teria indicado o político Domingos Brazão como um dos mandantes do crime que chocou o país em março de 2018.

Este seria o motivo que a investigação foi enviada pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao STF, já que Domingos tem foro privilegiado por ser conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro.

Agora, segundo informações do colunista Guilherme Amado, no site Metrópoles, Lessa teria citado o envolvimento do deputado federal Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ) – irmão de Domingos e colega de Marielle na Câmara dos Vereadores – e por isso as investigações foram enviadas ao Supremo.

Ambos os irmãos possuem foro privilegiado por prerrogativa de função. É o STF o responsável por julgar processos envolvendo o presidente e o vice-presidente da República, ministros do governo, senadores e deputados federais, embaixadores, ministros de tribunais superiores e do TCU.

As suspeitas sobre Chiquinho Brazão 

Em meio aos indícios de que Lessa teria citado Chiquinho na delação, o jornalista Paulo Capelli, também do Metrópoles, levantou uma lista curiosa de visitantes que passaram pelo seu gabinete, quando era vereador pelo Rio.

Entre os registros, há a informação que Chiquinho se reuniu com o miliciano Cristiano Girão em 7 de março de 2018, uma semana antes da execução de Marielle.

Girão e Ronnie Lessa “têm um elo macabro”, ambos vão juntos a júri popular por envolvimento em outro crime: o homicídio de um policial e sua esposa. 

Preso desde 2021, Girão foi condenado por chefiar uma milícia na zona oeste do Rio, que tomou o controle de área antes dominada por traficantes da facção Comando Vermelho.

A visita do miliciano a Chiquinho foi, inclusive, apagada dos registros da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que não soube explicar o motivo. Contudo, o próprio Girão confirmou a visita em entrevista.

O ex-vereador disse que aproveitou que levou a esposa para fazer exames médicos no centro da cidade para, então, passar na Câmara e visitar Chiquinho, assim como o parlamentar Jorge Filippe, ex-presidente da Casa.

Já em nota enviada ao jornalista Guilherme Amado, Chiquinho disse que foi “surpreendido por especulações que buscam lhe envolver no crime” e que “seu convívio com a vereadora sempre foi amistoso e cordial, sem espaço para desavenças, uma vez que ambos compartilhavam dos mesmos posicionamentos acerca da instalação de condomínios em comunidades carentes na zona oeste do Rio de Janeiro”.

Histórico de Domingos Brazão 

Já o histórico de Domingos Brazão também é curioso. O político, de 58 anos, é ex-filiado do MDB, tem 25 anos de vida pública, foi vereador, deputado estadual por cinco mandatos consecutivos (1999-2015), até chegar ao Tribunal de Contas do Rio.

Ele foi eleito em 2015, pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, para ser conselheiro do TCE, um cargo vitalício com garantias semelhantes às que protegem os magistrados. 

Em 2019, Domingos Brazão foi acusado formalmente de obstruir as investigações do caso Marielle. Antes disso, em 2017, ele foi preso por supostamente receber propina de empresários, em uma operação que é desdobramento da Lava Jato do Rio de Janeiro. Passou, então, 4 anos afastado do Tribunal de Contas, mas foi reconduzido.

A motivação e ligação com os Bolsonaro

Segundo o site The Intercept Brasil, a principal hipótese para o assassinato de Marielle Franco é que o Escritório do Crime – uma milícia de ex-policiais que trabalham como assassinos de aluguel no Rio de Janeiro – foi contratado para executar a ex-vereadora pela sua atuação política em áreas de interesse da milícia na zona oeste do Rio.

Vale lembrar que a milícia do Rio tinha, em sua cúpula, ninguém menos que Adriano da Nóbrega, ex-agente do Bope e figura próxima da família Bolsonaro.

A esposa e a mãe de Adriano, por exemplo, foram contratadas pelo gabinete de Flávio Bolsonaro. Outro assessor de Flávio e de Jair Bolsonaro, Fabrício Queiroz, operador do suposto esquema de rachadinha da família, se refugiou justamente na região de Rio das Pedras quando entrou na mira da Justiça.

Já a família Brazão é um importante grupo político do Rio. Domingos é apontado como o líder do clã, que conta com Chiqueinho e também com o deputado estadual Manoel Inácio Brazão, mais conhecido como Pedro Brazão. Além dos irmãos, tem também o vereador Waldir Brazão, que é um agregado que adotou o sobrenome da família para fins eleitorais.

Durante a presidência de Jair Bolsonaro, familiares de Chiquinho Brazão receberam do governo federal passaporte diplomático. A informação foi revelada pelo Brasil de Fato com base na Lei de Acesso à Informação.

O que se sabe sobre a delação 

Pessoas próximas da investigação afirmaram, ao jornalista César Tralli, do G1,que Lessa – preso em cela isolada na penitenciária federal de Campo Grande (MS) – não queria colaborar com a investigação federal.

Ele decidiu o contrário, no entanto, depois de descobrir, em agosto de 2023, que Élcio de Queiroz, também executor do atentado, o entregou como o criminoso que puxou o gatilho. 

Já no primeiro depoimento, de cerca de duas horas de revelações gravadas em áudio e vídeo, Lessa contou quem o contratou para executar o assassinato de Marielle.

Além disso, o ex-PM teria dado detalhes de reuniões que manteve com quem o contratou, antes e depois dos homicídios.

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Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

4 Comentários

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  1. O Escritório do Crime, quem diria, é sócio do Gabinete do Ódio:
    “A milícia tinha em sua cúpula Adriano da Nóbrega, figura próxima da família Bolsonaro. A esposa e a mãe de Adriano foram contratadas pelo gabinete de Flávio Bolsonaro”.

  2. Autoridades públicas, em cargos de excelências e com o escudo da imunidade parlamentar estão se tornando se tornando figurinhas fáceis e comuns, no álbum das manchetes policiais brasileiras.
    Não há peneira que possa evitar a candidatura e a inclusão no mundo político. Mas, com certeza, a criação de leis mais rígidas, de penalidades mais longas e sem qualquer regalia de benefício por bom comportamento ou saídas autorizadas em eventos especiais inibirá sensivelmente o uso do lugar e criminoso poder paralelo, por parte de quem quer que seja.
    Que toda está investigação, os depoimentos, a transparência do processo e o julgamento ocorram sem sigilo, com transparência e todo direito de defesa respeitado.
    O que não pode é o crime ficar impune, sem a solução sobre o mandante ou os mandantes.

  3. Independente do(s) mandante(s) e suas razões, o que NÃO pode ficar de fora são as fortes evidências de tentativas de OBSTRUÇÃO DE JUSTIÇA cometidas pelo despresidente, seu desgoverno (ex.Moro) e família zero à esquerda, com ligações públicas com os envolvidos. É também curiosa a falta de empenho das míRdias em saber p.ex. do porteiro do condomínio (bem como do Adélio “Fakafake do PSOL”.

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