Lava Jato: o show não pode parar

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – O doleiro Alberto Youssef, um dos principais articuladores do esquema de corrupção que desviava dinheiro da Petrobras, disse em depoimento às autoridades da Operação Lava Jato, nesta quarta-feira (29), que os parlamentares que recebiam propinas com recursos da estatak favoreciam as empreiteiras “praticamente todos os dias” no Congresso. Ele não deu detalhes de como esse “favorecimento” teria ocorrido.

Youssef disse que José Janene, ex-deputado, morto em 2010, era o principal líder político no início do esquema, mas depois surgiram figuras como Mário Negromonte, Pedro Corrêa, João Pizzolati e Nelson Meurer em nome do PP, partido para o qual o doleiro operava os pagamentos.

Foi o PP que colocou Paulo Roberto Costa na diretoria de Abastecimento da Petrobras. Segundo Youssef, Janene trancou a pauta do Congresso durante três meses até que Paulo Roberto ocupasse o lugar de Rogério Manso, último homem de FHC que possuia um cargo de diretor na estatal, no início do primeiro governo Lula. 

Youssef admitiu que, a pedido de Paulo Roberto, fez repasses para políticos de outros partidos, incluindo intermediação de doações oficiais. Ele citou Gleise Hoffman (PT) e Valdir Raupp (PMDB) como exemplos. Ele também fez alguns trabalhos para além da Petrobras, contratados por pessoas que tinham influência nesses setores. A título de exemplo, Pedro Leoni Ramos – empresário muito próximo de Fernando Collor – e a BR Distribuidora.

No depoimento divulgado na internet, Youssef afirmou que o acordo de delação premiada foi feito de forma “espontânea” por sua defesa, e que ele nunca foi pressionado pela Polícia Federal ou pelo Ministério Público a fazer cooperar com as autoridades da Lava Jato.

Confira os principais trechos:

Quem eram os verdadeiros destinatários da corrupção das propinas?

Paulo Roberto Costa e parlamentares que faziam parte do Partido Progressista.

Só do PP?

Não. Tiveram alguns pedidos que Paulo Roberto fez a mim, de pessoas e outros partidos, que eu efetuei os pagamentos.

Quem era o tutor de Paulo Roberto Costa? A quem ele servia diretamente?

Aos parlamentares que o colocaram sentado lá na cadeira. No primeiro momento, o deputado José Janene, Pedro Correia, mas no contexto, o partido todo. Alguns parlamentares não se serviam [das propinas], mas a maioria sim.

Você tinha contato com os parlamentares que se serviam do dinheiro? Como pagava a eles?

As lideranças, sim [me procuravam]. As lideranças eram pagas em dinheiro vivo. Um ou outro pedia depósito.

Doações oficiais foram feitas?

Sim, a pedido do Paulo Roberto foram feitas [doações] para o PMDB, de Valdir Raupp (senador de Rondônia), para Gleise Hoffman (PT do Paraná) e para membros do Partido Progressista. É o que me lembro.

Qual era a forma de pressão que os partidos exerciam tanto sobre os diretores quanto pelas empreiteiras? Se parassem de pagar aos partidos, qual seria a consequência?

Olha, era uma situação combinada entre empreiteiros, políticos, membros da diretoria [da Petrobras]. Se parassem de pagar, acredito que não teria um bom andamento dos contratos. Trabalhar com a Petrobras, com essa assessoria, já é difícil; sem, é pior.

Paulo Roberto servia ao PP. Nas conversas que tiveram, [deu para entender se] ele tinha o poder de tirar empresas do processo licitatório?

Sim, tanto o diretor de Abastecimento quanto o de Serviços tinham o poder de incluir e retirar os convites para licitações.

O senhor tinha poder de exigir de alguém que pagasse Paulo Roberto, ou tinha poder de ingerência na Petrobras?

Não, sempre recebi comando de líderes de partidos e Paulo Roberto Costa. Eu fazia o meio de campo entre as empresas, a diretoria e os políticos.

O senhor recebia comando de líderes de partidos. Eu gostaria que o senhor nomeasse quem dava as ordens.

No primeiro momento, José Janene. Depois, Mário Negromonte, Pedro Corrêa, João Pizzolati, Nelson Meurer. Esses eram os líderes.

Todos eles sabiam o que acontecia na Petrobras e que o dinheiro entregue era fruto de corrupção tirado dos contratos?

Sim, todos sabiam.

O senhor se recorda de atos praticados por eles dentro de Congresso para favorecer empreiteiras ou prejudicar alguém?

Que me lembre, assim, não, mas para favorecimento, existia pedidos todos os dias.

O senhor era o encarregado de levar os recados?

Eu era o encarregado de levar a situação para o diretor, receber as propinas e fazer pagamentos.

Essa atuação era restrita à Petrobras ou a subsidiárias do grupo, como a BR Distribuidora?

O PP não tinha nada com a BR, mas como prestador de serviços cheguei a fazer para quem tinha.

E quem tinha?

Pedro [Paulo] Leoni Ramos tinha envolvimento com a BR. Eu fiz uma operação para ele [R$ 3 milhões], com uma empresa de combustível onde o banco BTG Pactual tinha participação.

O PP era da base política dos governos. Além do PP, qual outro partido que o senhor também fez trato dessa corrupção?

Fiz pagamento a mando da Toshiba ao Partido dos Trabalhadores, para o tesoureiro do PT, João Vaccari, no caso para a cunhada dele, que foi ao meu escritório. E, depois, para o próprio tesoureiro, que o Rafael foi junto com o funcionário da Toshiba entregar este valor na sede do partido em São Paulo.

Este dinheiro também advinha dos cofres da Petrobras e eles sabiam?

Sim, senhor.

Quem pediu esse pagamento a Vaccari?

O então presidente da Toshiba, José Borba, se não me engano, e o diretor comercial, que era o Piva.

O senhor teve contato com Vaccari outras vezes?

Nunca tive contato com Vaccari para lhe entregar recursos. Eu entregando recursos diretamente a ele, nunca. Fiz a entrega a pedido da Toshiba, mas não diretamente a ele. Estive com Vaccari outras vezes, em restaurante, no escritório. É isso.

(…)

O dinheiro era repassado para alguém do comando acima da base aliada?

Os parlamentares e os diretos da Petrobras eram os principais beneficiários. E eu também, pela minha comissão, pela parte do meu trabalho. Agora, quem nomeava diretor na Petrobras estava acima, era do Palácio [do Planalto]. Mas conhecimento de fato [sobre as nomeações], não tenho.

(…)

A saída de Paulo Roberto Costa teve algum motivo específico de seu conhecimento?

Sim. Houve um racha dentro do Partido Progressista e, nesse racha, houve disputa do próprio partido para [decidir quem iria comandar a diretoria de Abastecimento – no caso, quem ficaria ligado diretamente a Paulo Roberto e obter os recursos que ele pudesse arrebanhar caso fizesse contratos. Isso foi parar na Casa Civil da Presidência da República. Foi uma disputa acirrada e, por conta disso, Paulo Roberto foi destituído. O PP perdeu a cadeira.

11 Comentários

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  1. Moro e a Zorra Total!!!

    Moro, seus cupinchas e o PIG, me lembram a Globo com o Zorra Total…não conseguem arrancar nem mais um pequena possibilidade de sorriso, mas continuam com a mesma história…é de dar dó…dá vergonha…

     

  2. Novela da “Grobo”.

    Haja o que “hajar” esse trem não pode parar.

    Tem essa ma´teria da “Foia”. (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/04/1622876-doleiro-diz-que-odebrecht-pagou-propina-no-brasil-e-no-exterior.shtml)

    Nela Sr. Youssef disse que “intermediou” remessas internacionais para empreteiras – coisa em torno de US$ 150 a 180 milhões. E ficou com R$ 7 milhões. A comissão dele era “baratinha”.

    O Dr. Moro foi cético – não acreditou no delator premiado -, segundo quatro advogados (que precisão).

    É isso.

    Dr. Moro está cético com “parte” do depoimentos do Sr. Youssef. Na parte em que o Dr. Youssef “esconde” o dinheiro. Mas não era com isso que o Dr. Moro deveria primeiramente se preocupar?

  3. Desde o início a informação

    Desde o início a informação foi de que P.R. Costa foi colocado na diretoria da Petrobrás no governo de FHC. Ou não?

    1. Tenho a impressão de que no

      Tenho a impressão de que no FHC ele tinha um cargo de chefia, mas não de diretoria. Há uns especialistas aqui no blog que sabem mais.

  4. Po, afinal é quarta-feira

    Não esqueçam do cronograma da Vaza-Jato: Quarta, dia de criar factóide para as manchetes de quinta, sexta, sábado e domingo. Mas já tá babando…

  5. Lendo este depoimento e

    Lendo este depoimento e analisando o teor das perguntas e respostas (assim transcritas, com erros de concordância e regência) e com o viés tão nítido de apontar para o então tesoureiro do PT João Vacari Neto, a cunhada dele (aquela mesma que o juizeco da República do Paraná mandou prender, com base em vídeo de má qualidade e que segundo o juiz  “não deixava margem de dúvida se tratar de Marice Correia de Lima”, mas que depois de periciado mostrou se tratar da irmã dela, Giselda) chego à conclusão de que a verdadeira colaboração premiada se dá entre esse juizeco e os ditos “delatores”. A derrota imposta ontem, pelo STF, ao paladino paranaense parece ter despertado no discípulo do “Batman” um sentimento de vingança próprio daqueles mimados e bajulados pela mídia que, ao primeiro revés, começam a espernear e infringir as regras do jôgo.

  6. Moro – um camisa preta

    Sérgio Moro não é um juiz preocupado em combater a corrupção. Ele é um fascista que usa um esquema de corrupção, de modo seletivo, para atingir objetivos políticos. Esse “novíssimo” depoimento do bandido Youssef não deixa margem a qualquer dúvida.

    Aliás, repórteres investigativos deveriam pesquisar as antigas relações entre Sérgio Moro e Youssef. Eles já se relacionaram no processo do Banestado, em que Youssef também assinou um termo de delação premiada. É muita coincidência nessa história repetida tipo ‘Vale a pena ver de novo”…

  7. Sempre o pt

    Saiu a forceps, mas saiu. Qual o outro partido? pt. fiz um pagamento para a cunhada.(a tal cunhada). Encontrei tres vezes com ele mas não entreguei nada.

    Que coerência. Ganhou uma premiada. 

  8. A novela…

    A NOVELA DE 1 ANO… “O DIREITO DE MENTIR”

     

    “O senhor teve contato com Vaccari outras vezes?

    Nunca tive contato com Vaccari para lhe entregar recursos. Eu entregando recursos diretamente a ele, nunca. Fiz a entrega a pedido da Toshiba, mas não diretamente a ele. 

     

    “O senhor teve contato com Vaccari outras vezes?

    Estive com Vaccari outras vezes, em restaurante, no escritório. É isso”.

     

  9. Imaginem se o Aécio fosse do PT, apenas imaginem!

    Por falar em Janene, se esqueceram de perguntar mais sobre o Janene. Uma boa pergunta seria:

    “- Além do PP e o PT, o senhor sabe de mais algum partido e parlamentar de quem Janene mencionou que tenha recebido propina?”

    Mas é claro que não. Basta mencionar PT que o assunto se encerra e o objetivo é atingido.

    A imprensa e o Moro vão filtrando, vão limpando e selecionando como quem escolhe grãos de feijão para a feijoada, só aquilo que atinge o PT.

    Aécio, mesmo sendo lembrado pelo Janene recentemente, foi simplesmente “esquecido”. Conveniente, não?

    Segue o link com (não reparem na intenção da Globo de limpar a barra do Aécio; atentem-se apenas ao registro):

    http://oglobo.globo.com/brasil/youssef-disse-ter-ouvido-de-janene-empresario-que-aecio-recebia-recursos-de-furnas-15628657

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