Matar bandido é mais eficiente?; por Cristiano Pacheco

Tatiane Correia
Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.
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Matar bandido é mais eficiente?; por Cristiano Pacheco

 

A mim me parece que os defensores dos Direitos Humanos costumam levar desvantagem no debate a respeito dos crimes de grande impacto, porque o discurso quase sempre se centra na importância de assegurar a dignidade da pessoa humana, questões morais, de direitos universais, etc, etc, etc… Sem dúvida que são bandeiras legítimas, civilizatórias e que constituem um “cimento” mais consistente para conseguir um efetivo convívio social e uma sociedade mais pacífica.

Contudo, os contrários aos direitos humanos identificam esse discurso como uma forma de proteger bandidos e consequentemente aumentar a criminalidade. A percepção é que a segurança pública vai mal e que se for“suavizar” para o bandido a coisa irá piorar ainda mais.

Assim, de um lado temos um discurso de cunho moral que supostamente poderia até aumentar os crimes ao aliviar a vida dos criminosos; e de outro lado, um suposto discurso de cunho prático, que poderia coibir o crime através do clássico sistema de dissuasão pela força bruta e com requintes de crueldade para aterrorizar os infratores. No imaginário social e em meio à violência e o medo, é natural que o segundo discurso sempre ganhe de goleada…

Thomas Hobbes demonstra bem essa tendência comportamental dos humanos e seus correspondentes dilemas. Em linhas gerais a teoria hobbesiana coloca cada homem como lobo do homem, mas não porque sejam todos maus e sim porque não existem mecanismos efetivos de garantir uma convivência pacífica entre esses homens. Cada palavra jurada, cada compromisso firmado pode ser um embuste ou quebrado no dia seguinte em prejuízo do lado mais ingênuo! Vejo essa teoria como precursora da hoje muito citada teoria dos jogos e o famoso dilema do prisioneiro, onde o ator racional invariavelmente adota posturas não colaborativas por esta ser mais vantajosa em qualquer situação.

“(…)do medo recíproco entre os homens resulta, ao contrário, uma disposição para a desobediência e a desordem civil (…) do medo que eu não sei se o outro vai me causar na medida em que tenha o poder para tanto e contra o uso do qual não tenho nenhuma garantia, a não ser meu próprio poder. É desse medo que nasce a inclinação para a aquisição de poder e mais poder que, gerando no outro a mesma disposição, culmina na guerra. (LIMONGI, 2007).”i

Como a coisa que cada ser humano mais valoriza é a própria vida e ele precisa de recursos para sobreviver, existe um encadeamento lógico para suas ações.

1) Primeiro deve atacar quando puder garantir domínio sobre recursos que lhes são necessários.

2) Mesmo que já tenha recursos, sabendo que outros humanos deles precisam para viver, deve se defender de possíveis ataques, atacando primeiro.

3) Deve mostrar ser factível sua capacidade de reação e ataque para dissuadir novas ameaças.

“Se você tem razão para desconfiar que seu vizinho é propenso a eliminá-lo, por exemplo, matando-o, então você será propenso a se proteger elimiando-o primeiro, em um ataque preventivo. Você pode ser tentado a isso mesmo que normalmente não seja capaz de matar uma mosca, contanto que não esteja disposto a cruzar os braços e se deixar matar. A tragédia é que seu competidor tem todas as razões para fazer o mesmo cálculo, mesmo que ele seja incapaz de matar uma mosca.” (PINKER, 2013)ii

Só que Hobbes é muito preciso ao mostrar que tal estado de natureza leva a uma vida insuportável, pois a guerra é permanente, os ataques iminentes, todos são suspeitos e não existe confiança possível (alguma semelhança com o que se propaga nos dias de hoje?). O resumo da Ópera é que ele advoga que só um medo maior (o Leviatã ou o Estado) poderia impor uma ordem onde todos iriam respeitar.

Pois bem, essa fundamentação teórica (que não é única, nem definitiva), junto com dados históricos e estudos na área de segurança pública, permitem levantar a hipótese que a defesa dos Direitos Humanos pode ser também MAIS EFICIENTE do que a o bordão “Bandido bom é bandido morto”. Ou então, no mínimo, dizer que não é possível inferir que a dissuasão via penas extrema, como tortura e pena de morte, sejam comprovadamente mais eficazes que medidas punitivas instituídas por um Estado de Direito e limitadas por pressupostos dos direitos humanos. A verdade é que a discussão sobre criminalidade é polêmica, recheada de contradições, de dados referendando argumentos diferentes e causalidades múltiplas que dificultam pareceres definitivos.

No livro Guerra e Paz de Tolstoi, narra-se uma situação que nem sempre é recomendado gastar toda sua energia para exterminar o seu inimigo, pois além de desgastar suas tropas e perder vidas inutilmente, você pode estar dando elementos para que o inimigo se una e movido pelo instinto de sobrevivência cause mais danos do que se fosse apenas contido, e no caso do livro, empurrado para fora das fronteiras. A questão é bem intuitiva e é bem relatada no livro Elite da Tropa de Pimentel e Luis Eduardo Soares. Os autores relatam que quando a polícia carioca tentou aumentar seu poder de dissuasão (na verdade os motivos nem sempre eram tão nobres assim) matando bandidos rendidos, os bandidos aprenderam que não havia possibilidade de rendição. Assim, isso supostamente dissuadiria pessoas de entrar na criminalidade, o que é difícil de averiguar, mas pelo que vivemos, é possível especular que não foi efetivo. Se pegarmos a expectativa de vida de alguém do crime organizado, é bem possível que seja menor do que o cara da favela que não se mete em crime, pois o criminoso sofre tanto com a violência da polícia, como entre outras facções. Dessa forma, sob o ponto de vista exclusivo da auto-preservação, qual seria o benefício de entrar na criminalidade? (Me lembro de um documentário em que os meninos diziam preferir morrer cedo, mas viverem como reis , do que serem um “Mané” pela vida inteira…)

Por outro lado, os que ficaram na criminalidade ou entraram depois já sabiam que não existiria rendição, valendo a pena aumentar a aposta na violência e fazer de tudo para não ser pego. E de fato o poder de dano dos grupos organizados deu um salto de qualidade, não poupando alvos que antigamente eram evitados, como os próprios policiais e bombeiros.

Esse tipo de lógica é tão perturbadora, que a pessoa não precisa nem mesmo ser criminosa para se valer da violência. Se alguma pessoa inocente estiver sob suspeita de um crime e sabendo ela que não vai haver julgamento, pois a polícia irá matá-la (afinal bandido bom é bandido morto e a Justiça só alivia para a bandidagem), será legítimo (já que pelo pressuposto hobbesiano, a própria vida é o que importa) que ela procure se salvar, se ocultar, matar para se defender, ou mesmo procurar proteção no crime organizado…

Na verdade, se não houver garantias (e aqui entra o perigo de uma sociedade armada e querendo se defender a todo custo), até mesmo um pequeno acidente de trânsito ou discussão no bar podem levar à morte. Pois quem pode garantir que o cara em que eu bati o carro não é um criminoso, não está estourado e vai me matar? O mais seguro é eu atirar primeiro até porque ele deve estar pensando o mesmo. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência, basta olhar as estatísticas de mortes por motivos “fúteis” para entender melhor o que se passa.

Do lado dos supostos homens de bem (ou seria bens e benz?) a lógica da sobrevivência também traz perigosos e inevitáveis desdobramentos. No mesmo livro Elite da Tropa, os autores narram uma situação em que dois policiais foram apagar um traficante, mas infelizmente foram vistos por uma testemunha. Ora, essa testemunha (que não era suspeita de qualquer crime) passava agora a representar uma ameaça, pois poderia denunciar esses “valorosos” justiceiros, com todas as consequências, como perder o emprego ou até ser preso (junto de outros bandidos que eles mesmos já teriam mandado prender ou matar). Assim, nada mais lógico do que também apagar a testemunha…

Só que a história não acaba aí. Via de regra, esses grupos de justiceiros não se sustentam sozinhos. Para apagar bandidos, deve haver ocultação de cadáveres, falsificação das perícias, armas frias, intimidações, troca de favores são feitas, coações e exigências que não estão sob nenhuma supervisão legal (e da própria sociedade). E com tantos atores envolvidos quem garante que esses agentes estão sempre buscando serviços “nobres” como combater a criminalidade e não o contrário? As milícias são um bom exemplo desse desdobramento, quando policiais viram criminosos…

Confesso que ainda me surpreendo como as pessoas são extremamente severas e pessimistas com políticos e as instituições (com contribuição negativa de nossa mídia partidarizada e oposicionista), mas se alegram e põem a mão no fogo por qualquer policial ou justiceiro que elas nunca viram, mas que tenham matado alguém que elas supõem ser um perigoso criminoso. Não poderia ser o contrário? Um policial bandido matando um inocente que ia denunciar seus crimes? No caso dos anjinhos justiceiros do Rio de Janeiro afagados pela Sheherazade, levantou-se a suspeita de que pelo menos dois deles seriam suspeitos de diversos crimes, inclusive estupro. Recentemente, tivemos o deplorável caso de linchamento de uma mulher inocente, por falsos boatos espalhados na internet. Infelizmente não foi o primeiro caso nem será o último…

Se chegarmos à conclusão de que matar bandido tenha efetivo poder dissuasório e isso for instituído na legislação, cabe também indagar se vale a pena arriscar tal abordagem, sabendo-se da inevitabilidade de morrem inocentes e a impossibilidade de corrigir esse tipo de erro. Quando condenado à prisão, sempre existe a possibilidade de reverter uma condenação errada, na pena de morte não…Nos EUA, sabe-se hoje que são vários os casos de inocentes que foram condenados a pena de morte.

Não sou especialista no tema de segurança pública, mas já li algumas coisas a respeito. Dessa forma, me arrisco a dizer que é hora de abordar a temática dos direitos humanos também sob a ótica de sua eficiência para coibir ou diminuir a criminalidade. Pelos argumentos apresentados, suspeito que a dor e humilhação não reabilitam ninguém, e muito menos possuem poder dissuasório. Cabe, portanto, debruçar-se com mais seriedade e menos paixão sobre este tema tão espinhoso, verificando os prós e contras de cada abordagem e sem desmerecer a priori qualquer alternativa. Tudo que uma boa ciência recomenda!!

 

i – LIMONGI, Maria Isabel. A racionalização do medo na política. In: NOVAES, Adauto. Ensaios sobre o medo.

ii – PINKER, Steven. Os anjos bons da nossa natureza. 2013

 

Tatiane Correia

Repórter do GGN desde 2019. Graduada em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), MBA em Derivativos e Informações Econômico-Financeiras pela Fundação Instituto de Administração (FIA). Com passagens pela revista Executivos Financeiros e Agência Dinheiro Vivo.

19 Comentários

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  1. Belo texto! Superficialmente

    Belo texto! Superficialmente bem coerente.

    Só esqueceu de dizer que, os defensores dos direitos humanos não tem nenhum… NENHUM projeto que visa combater o crime, a não ser legalizar o comportamento criminoso. Ou seja, nivelar a sociedade por baixo.

    Enquanto isto, homens de bem (com ou sem bens) são massacrados todos os dias!

    1. Exemplo típico de quem tem má fé ou não entendeu a missa..

      Os Direitos Humanos não foram feitos para resolver conflitos locais e muito menos para combater criminosos.

      A declaração dos direitos humanos apenas formaliza a ética que deve embasar as ações humanas, é a base ética das relações tornada explícita.

      Nenhum defensor dos direitos humanos (há alguém, na nossa civilização, intelectualmente honesto que não defenda esses direitos?) tenta legalizar comportamentos criminosos. Muito pelo contrário, quem defende a sistemática criminalização de formas de comportamento desviantes, digamos assim, é que atenta contra os direitos humanos e incita a violência, pois atira na ilegalidade um número de indivíduos que seriam perfeitamente aceitos.

      Então, nós que defendemos os direitos humanos, e segundo você, não temos projeto de combate ao crime (como se a própria declaração dos direitos humanos não fosse a própria referẽncia pra se entender o que é crime (delito grave)! Dai-nos paciência!), perguntamos a ilustre senhoa Maria da Graças;

      Qual é o seu projeto para combater  crime?

    2. Você conseguiu a proeza de

      Você conseguiu a proeza de ser mais superficial no seu comentário do que o próprio texto.

      “homens de bem”? O que significa isso? Isso é bem comum na boca de Bolsonaro’s followers.

  2. Sempre que vejo alguém

    Sempre que vejo alguém discutindo este assunto lembro de algo que ocorreu em Alcobaça, Bahia, onde tive casa de praia e deixei alguns bons amigos.

    Entre 1991 e 1994, não consigo mais lembrar exatamente o ano, ocorreu um linchamento em Alcobaça. Dois criminosos haviam matado um casal na frente da filha pequena (conheci a menina). Eles foram presos, mas o povo da cidade gostava muito das vítimas e se reuniu na frente da prisão para protestar. O protesto engrossou e evoluiu para uma rebelião popular. Os exaltados filhos da terra, armados de paus, pedras, facões, espingardas e pistolas exigiram que a exígua guarnição de policiais (eram 3 ou 4 no máximo) lhe entregasse os criminosos. Caso contrário a prisão seria invadida com danos para todos que lá estivessem.

    Sem ação diante da turba, os policiais se renderam abandonando o local com garantia de não serem agredidos. O povo então tomou de assalto a prisão, retirou os assassinos das celas e os atacou a pauladas, facadas, pedradas e tiros no meio da rua. Os corpos foram depois lavados de gasolina e queimados, não se sabendo se a cremação ocorreu após ou antes da morte dos infelizes.

    A filha pré-adolescente de uma grande amiga minha, servidora pública municipal que não quis ter participação alguma no ocorrido, fugiu da casa da mãe para ir ver o que estava ocorrendo. Pelo que sei ela presenciou a fase final do linchamento e a fogueira feita com os corpos mutilados. A menina ficou com sérios problemas psicológicos depois do ocorrido. Ela passou a recordar contantemente aquela cena grotesta de dia e de noite, sentindo-se envergonhada de ter visto o que viu. Em pouco tempo ela começou a associar o cheiro do sabão de coco que a mão usava em casa com o odor repulsivo da carne queimada das vítimas do linchamento. O simples odor do sabão de coco fazia ela ter ansia de vômito e ficar profundamente melancólica.

    Há mais de uma década não vou a Alcobaça. A casa que lá tinha em sociedade com amigos osasquences foi vendida. A valiosa história no entanto não esquecerei tão cedo. 

    Estimular a vingança privada é fácil. Se deixar levar pelo estímulo fornecido por jornalistas e participar de um linchamento também. Nem todos os participantes de um ato grotesco deste são processados e condenados, pois raramente é possivel identificar quem fez o que durante uma confusão. Sem a prova da conduta criminosa ninguém pode ser condenado (exceto se for petista e tiver o azar de cair nas mãos de JB). A impunidade, portanto, reforça a vontade de participar de uma vingança privada coletiva. 

    A memória do ocorrido, porém, não é algo fácil de carregar. Tive contato com aquela menina por algum tempo depois do que ela presenciou. A menina alegre, espontanea, feliz e descomplicada foi queimada naquela fogueira humana que ela presenciou. Após ter presenciado aquilo ela se transformou numa menina reclusa, taciturna, sempre mergulhada no trauma e prisioneira de memórias melancólicas, que eram reavivadas pelo cheirod e sabão de coco.

    Nada mais tenho a falar sobre este assunto.

     

  3.  
    O texto é bom para

     

    O texto é bom para refletir, mas o que me incomoda é que essa afirmativa de que os Direitos Humanos querem libertar bandido. Talvez, antes de qualquer coisa é preciso que nós que Defendemos os Direitos Humanos passemos para a sociedade que nós não queremos que a pessoa não seja punida, apenas que ela seja punida na forma da Lei sem requintes de crueldade. Sempre vem um infeliz que diz: “quero ver ser fosse seu filho”. Com certeza iria querer matar o indivuduo com todas as  minhas forças, mas depois o que iria restar? Sempre me pergunto isso. Duas mortes eu teria que carregar, e acabar de destruir uma familia. Sempre há como recomeçar, a vida está cheia de exemplos disso sem a lavagem de alma com a vingança.

  4. Não há motivos pra supor que o autor

    do texto defenda uma revisão para dos Direitos Humanos.

    O autor é bem claro quando escreve:

    Dessa forma, me arrisco a dizer que é hora de abordar a temática dos direitos humanos também sob a ótica de sua eficiência para coibir ou diminuir a criminalidade.

    Acho que entendo onde o autor quer chegar, se eu estiver errado peço correção.

    Penso ter entendido que o discurso associado aos direitos humanos parece não ter tanto apelo no cotidiano de regiões violentas Talvez o discurso não seja  suficientemente claro para atingir as pessoas que, sem um certo preparo, vivem num meio onde o medo e a impotência podem atrapalahar a capacidade de absorver cnceitos mais abstratos.

     

    Bem, como o autor, eu não sou especialista em segurança, e também lí um pouco sobre o tema. Me arrisco a dizer que sempre podemos melhorar, tornar mais claro, o discurso dos Direitos Humanos. É preciso  levar esse tema aos alunos do fundamental, é preciso se discutir e se falar sobre o assunto sem essa polarização (presente principalmente nas periferias de grandes cidades) polícia-bandido. Os direitos humanos devem ser entendidos como algo além disso, muito mais profundo. Ensinar os Direitos Humanos deve ser a parte mais forte do ensino fundamental! É o pacto pelos direitos humanos que torna nossa civilização possível. Devemos  retirá-lo desse contexto restríto dos conflitos urbanos modernos. Precisamos elevar o tema ao seu real estatus. Não se pode discutir os direitos humanos como um impecilho ou como um problema.. Jamais. Direitos Humanos são as bases da nossa vida, qualquer tergiversação deve ser vista como forma de inviabilizar a civilização e a vida.

    1. Sim, meu propósito é realmente esse!

      A verdade é que a temática dos direitos humanos sob a ótica estrita dos seus princípios é rechassada com veemência por boa parte da população. E sob determinados contextos, principalmente onde o medo (real ou imaginário) prepondera, é compreensível reações desesperadas (efetivas ou não) para afastar ameaças. Assim, a violência é uma realidade social e histórica, e apenas formulações de princípios ideais, podem não ser suficientes para resolver o problema…

      Se eu resolver ser um pacifistca por princípio, onde impera a guerra, o meu “vizinho”, simplismente vai passar por cima de mim. Essa tática só funciona se o meu “vizinho” também adotar essa tática e ao mesmo tempo. 

      Mas o problema é que se a maioria estiver convencida de que apenas uma escalada de violência é a solução, é possível especular que teremos um cenário de guerra permanente, insolúvel e inviável. É o que Hobbes contastou!

      Ora, sabe-se hoje que países desenvolvido que NÃO adotam a pena de morte possuem índices de assassinato abaixo de 1 em cada 100 mil. Nos EUA esse índice está na casa dos 10. No Brasil, vi alguns dados que colocam na casa dos 30. Aliás, estados americanos que adotam a pena de morte NÃO possuem  criminalidade menor que os estados sem pena de morte. O problema é estabelecer a relação de causa e efeito, bem como as correlações. Alguns dirão que alguns estados são historicamente violentos (geralmente sulistas) e exigem a pena de morte como resposta para que a violência não seja ainda maior, enquanto os menos violentos (nortistas) prescindem da pena de morte. Enfim, isso deixo para os especialistas, mas sei que não existe consenso. 

      De toda forma, se dados estatísticos e realidades de diferentes países referendam uma possível abordagem mostrando a ineficiência da pena de morte (e da lógica bandido bom é bandido morto) ou até seu efeito no aumento da violência, é hora de os defensores dos direitos humanos ampliarem a abordagem. O ganho poderá ser triplo, pois teremos mais clareza dos mecanismos da violência, bem como mais aceitação entre os que querem apenas algo que DIMINUA a violência. Quem sabe mais à frente, sob um contexto de menos medo e violência, não venham também a reconhecer os direitos humanos como um imperativo categórico? 

  5. A solução é boa.

    Mas quem mata bandido é bandido também, aí cria-se a bandidagem dentro da corporação policial. Depois disto é só ver o filme Tropa de elite para ver no que vai dar.

    1. Essa que é a loucura desse

      Essa que é a loucura desse pensamento medieval. Já vi advogados bradando “tem que matar!’ E eu: “mas isso é crime, doutor. O homicídio e a apologia”. Mas não adianta retornam com aquela de que você está defendendo bandido, que queria ver se fosse com meu filho, etc.

      É impressionante a tamanha necessidade de desinformação e confusão. As pessoas estão perdidas e desesperadas. E não estou falando de pobres ou muiito pobres, não. Falo de pessoas que gostam de acreditar que são bem informadas, com educação superior, com padrão de consumo bem acima da média, etc.

      Eu falo pra eles: vocês viajam tanto, tomam vinho, contam tantas histórias mas não procuram saber o que são os direitos fundamentais (nem pronuncio mais direitos humanos pra não dar alergia nos doentes) e a importancia pra tudo que vocês vão admirar lá na Europa e nos EEUU?

      Também não adianta nada. Pra eles é porque o povo de lá é melhor.

      O déficite civilizatório é impressionante. Sobretudo de pessoas que se acham muito chiques.

      Falar em reorganizar as polícias, mudar o processo penal, o sistema penitenciário etc, não faz o menor sentido pra esse pessoal. A demagogia já tomou conta do bestunto deles de maneira irreversível. Pra eles, só matando.

      Pior ainda são os que se dizem “liberais”. Desses dá até pena. Ao ouvir a expressão direitos humanos tascam logo um “esquerdista!”, “petista!”… Como se isso fosse um xingamento equivalente.

      É cansativo. Eu não sou mais otimista. Não mencionei nem os amigos e conhecidos que são policiais…

      Enfim, acho que vamos viver ainda mais trinta anos com esse pessoal bricando de bangue bangue.

       

      1. Compartilho do seu desabafo!

        Confesso que quis ser um pouco otimista, esperando (sempre a esperança) que uma mudança do foco no discurso dos direitos humanos possa ganhar mais respaldo, mais respeito e mais eficiência junto à sociedade. Mas seu desabafo retrata bem a realidade crua de nossa elite. Esta não quer debate, não quer pensar e vive a xingar quem propor o contrário… Confesso que desisti desse assunto por um tempo, mas fiquei um pouco otimista lendo o livro sobre a diminuição da violência do Pinker.

        Talvez, minha esperança também advenha exatamente do fato de o problema não estar sendo resolvido, e assim, quem sabe, os que sofrem mais diretamente com a violência não poassam vir a mudar o pensamento? A nosso favor também teremos uma dimimuição da população jovem no futuro…

        E se até o Cláudio Lembo contastou que nossa elite precisa um dia “abrir” a bolsa, por que perder a esperança??? 

        O problema é que a pergunta pessimista seria: Se essa elite não dá ouvidos nem mesmo para um Cláudio Lembo (ex-arena e DEM), por que daria para quem defende direitos humanos??? rsrsrs

  6. Na refrega entre o rochedo e

    Na refrega entre o rochedo e o mar quem leva a pior é o siri.

    Ditado popular

    A mim me parece(também não sou especialista em Segurança Pública ou Criminalidade) que o discurso dos Direitos Humanos perdeu força, e continua perdendo, junto à população, ante a contaminação ideológica. De repente, talvez por conta do rescaldo pós-ditadura, período no qual os direitos e garantias fundamentais viraram ficção, as políticas e ações para resgatar salvaguardas passaram a tratar a repressão da criminalidade, incluindo a fase da pena, como vetor da mesma. Uma versão do “cachorro correndo atrás do rabo”. 

    Ora, até mesmo por bom senso, ninguém advoga mais encarceramentos ou agravamentos de penas. Entretanto, por conta disso não se pode interditar o debate que busca soluções para o aumento da criminalidade e a sensação geral de insegurança. Inclusive a questão da redução da maioridade penal, hoje um tabu nas hostes da Esquerda.

    O siri da máxima em destaque é exatamente a população modo geral, máxime os mais pobres, que se vê acossada, emparedada por marginais cada vez mais afoitos e senhores de si. E a participação dos ditos menores é ascendente  em função da inimputabilidade.

    Ressalte-se também que esse protagonismo crescente faz com que esses mesmos menores se tornem também vitimas da espiral de violência. Por que não buscarmos um meio termo pelo qual sejam satisfeitas as três vertentes da pena: ressocialização(ganha a sociedade); recuperação(resgatar a dignidade perdida); punição: satisfação às vítimas.

    1. Motivação dos menores

      Concordo com sua análise, principalmente em não se interditar o debate. Aliás, nos dias de hoje até tenho medo de falar de Direitos Humanos, pois é comum a pessoa te debochar, xingar ou até te ameaçar, dizendo que vc protege bandido.

      Pessoalmente sou contra a redução da maioridade penal, mas acho muito saudável o debate. Eu mesmo não saberia dizer se a participação dos ditos menores é realmente ascendente em números proporcionais, pois nos últimos anos aumentou-se a população jovem por mudanças na pirâmide etária. Ou seja, em termos relativos o número de jovens hoje é muito maior do que no passado… No futuro teremos uma população envelhecida (e provavelmente menos violenta). Além do mais, também teria minhas dúvidas em se esponsabilizar a inimputabilidade . Mas se ficar demonstrado que sim, não tenho porque negar e rever minhas posições.

      O que posso afirmar com mais certeza é que na maioria das sociedades os índices de violência entre os mais jovens é muito maior. Pelo menos é o que dizem os livros que li e conversando com gente da área. A mistura se mostra mais explosiva quando temos desigualdade elevada, baixa presença do Estado, grande número de jovens HOMENS, sem NAMORADAS e sem EMPREGOS. Procure ver a curva de expectativa de vida por idade no Brasil e verá uma “barriga” entre os mais jovens. Enfim, por existirem evidências de que os jovens são mais impulsivos e possuem menos poder de auto-controle (aliás, alguns atestam que a área do cérebro responsável por estes atributos não terminam de se desenvolver antes dos 30 anos…) acharia recomendável um tratamento diferenciado. Isso não implica em deixar de se punir, mas punir de forma diferenciada.

  7. Aqui no Brasil impera desde

    Aqui no Brasil impera desde os anos 50 a famosa frase “Bandido bom é bandido morto” Uma sociedade que considera a tortura legítima tem a polícia como reflexo dessa mesma sociedade.A polícia brasileira tortura porque a tortura é apoiada pela maioria da população.Tem -se então um ciclo vicioso a polícia mata os criminosos e os criminosos matam de volta, a população clama por assassinatos em revanche  e  se os criminosos se vingam. Enquanto não mudar a mentalidade da sociedade as mudanças não poderão acontecer profundamente.Portanto não devemos desconsiderar a questão cultural do Brasil que vem  desde a época da escravidão. O Brasil nunca discutiu seriamente a questão da tortura. Torturadores não são punidos portanto repete-se  esses atos de novo e de novo.

    1. Essa é a tese do livro Elite da Tropa

      O livro Elite da Tropa retrata bem essa questão de violência em escalada no Rio de Janeiro, quando instituições, sociedade e criminosos dobram a aposta do uso da violência, agravando o problema. E no final todos perdem, principalmente os próprios policiais, que são usados em operações ineficientes, perigosas, mas eleitoreiras (na verdade, o livro retrata que algumas operações eram simplismente para barganhar um aumento da propina paga pelos traficantes aos policiais) enquanto o problema não se resolve. E no final, os próprios policiais passam a ser alvos da bandidagem… E me impressiona (mas também compreendo a lógica deles) como estes são os que mais rechaçam direitos humanos e fortalecem o discurso de guerra total. Achei o livro até melhor do que o filme! E um dos autores era do próprio Bope…

  8. bandido morto
    Tanta balela defendida por pessoas que não conhecem a realidade. Estamos numa guerra civil só quem não sabe é quem não sofreu nada nenhuma consequência ainda. Vibro a cada bandido morto, seja por policiais ou cidadão. Mataram minha irmã 18 anos. Eu aguardo invadirem minha casa, to preparado. Não tem mais solução, que continuem a matar bandidos, cada vez mais.

    1. A severidade é Necessária!

      PM abordam marginais reincidentes todos os Dias !
      Um reincidente confesso !
      Eles o prendem pela 8ª vez sem nenhum ferido graças a Deus !

      A LEI enganosa solta!
      Pessoas da PM e pessoas da Cívil se desmotivam na 9ª vez !
      Eles percebem a LEI enganosa, mas frágil !
      Uma profissão para poucos: Policia !
      Mais um foi furtado, roubado, estruprado, sequestrado ou assassinado!
      Mais um inocente. Agora mesmo !
      Pela mão do criminoso !
      Pela mão da LEI repressora da iraquía !
      Falta cimento ou ferro para construir cadeias ?
      Quem fez essa LEI?
      Entendí !
      Os tempos mudarão ! Pode crê meu Brother !

  9. com a política de “abate de bandidos” do witzel no rio de janeiro a criminalidade já reduziu bastante esse ano(2019) . é melhor um cemitério cheio de bandido do que cheio de inocentes.

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