No Ceará, MPF vai à Justiça contra violação de direitos por emissoras de TV

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Sugerido por Alfeu

Por Helena Martins, na Agência Brasil

MPF vai à Justiça contra emissoras de TV do Ceará acusadas de violar direitos

O Ministério Público Federal no Ceará (MPF-CE) ajuizou ação civil pública contra duas emissoras de televisão do estado, acusadas de exibir cenas impróprias e violar direitos. Fruto de mais de um ano de investigação, as ações voltam-se contra os chamados programas policiais veiculados pela TV Jangadeiro e pela TV Diário, que também teve conteúdos humorísticos apontados como irregulares pelo MPF. Em caso de descumprimento das sanções, o MPF pede que sejam canceladas as concessões de serviço de radiodifusão das emissoras.

Pela exibição de corpos esquartejados, ferimentos em destaque, imagens de adolescentes em situação de vulnerabilidade, entrevistas com pessoas detidas e sem julgamento, cenas de exploração sexual, agressão à honra, dentre outras, o MPF pede a condenação da TV Diário ao pagamento de indenização por dano moral coletivo no valor de R$ 1 milhão, e da TV Jangadeiro ao pagamento de R$ 500 mil. Valores que devem ser revertidos ao Fundo Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente. As ações devem agora ser objeto de análise da Justiça Federal. As empresas podem recorrer.

O MPF considera que o “dano à coletividade” deve ser suspenso de imediato. Por isso, as ações pedem a concessão de tutela antecipatória para que os efeitos do julgamento sejam adiantados. O órgão argumentou que foram diagnosticadas: “a) ofensa à honra e à imagem de pessoas detidas – em situações de suspeita ou de flagrante, das vítimas e familiares (programas policiais); b) veiculação de programa de televisão em horário totalmente inadequado; c) exposição dos telespectadores, em sua maioria jovens e adolescentes, ao impróprio material exibido; d) ausência de classificação dos programas, pela União, em face da adequação de conteúdo nos horários exibidos” – nos termos da ação direcionada à TV Jangadeiro.

Ao avaliar o conteúdo dos programas Os Malas e a Lei, Nas Guarras da Patrulha, Show do Tony Nunes, João Inácio Show e Ênio Carlos Show, veiculados pela TV Diário, o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Alexandre Meireles Marques, responsável pela iniciativa judicial, afirma que “tais programas hoje são um incomparável show diurno de ilegalidades de banalização da violência”. No texto, ele critica o fato desses programas policiais, como ocorre em diversos estados do país, serem exibidos entre as 12h e as 14h, tornando-os acessíveis a crianças e adolescentes de forma indiscriminada.

Os textos explicam que a permissão se dá porque a classificação indicativa na radiodifusão brasileira não é aplicada aos conteúdos jornalísticos ou noticiosos, bem como esportivos, eleitorais e anúncios publicitários. O MPF reforça, ainda, que o Ministério da Justiça, responsável pela classificação, deve fiscalizar o cumprimento do exposto na Portaria MJ 1.220/2007, que organiza o sistema de classificação, e reavaliar a situação.

Em entrevista à Agência Brasil, o procurador disse que a Justiça deve “sopesar” a dignidade da pessoa humana e a liberdade de imprensa, porque “a imprensa tem que respeitar os demais direitos que estão na Constituição”, como o direito à privacidade e à dignidade. Ele também explicou que esta não é a primeira vez que uma ação judicial é movida contra as emissoras, por causa desses programas. Outras ações já foram ajuizadas e, posteriormente, arquivadas. Lembrou que uma recomendação para que agentes das polícias Civil e Militar não permitam a filmagem e a entrevista com pessoas presas ou detidas, sem autorização, também não foi cumprida.

Além disso, Alexandre Meireles Marques relata que foram recebidas “várias representações de pessoas da comunidade cearense reclamando dos programas policiais e também de programas humorísticos produzidos pelas TVs Diário, Jangadeiro e Cidade”. Esta não foi citada nas ações por ter assinado Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), após audiência pública com o MPF e pressão da sociedade civil, que condenou a exibição de cenas de estupro de uma criança em um programa policial, no início do ano.

À época, uma nota assinada por mais de 70 entidades da sociedade civil pedia não só a retirada daquele conteúdo de circulação, bem como a responsabilização da TV Cidade e a “atuação dos ministérios públicos Estadual e Federal, de modo a garantir que os programas policiais veiculados no estado do Ceará respeitem a legislação protetiva de crianças e adolescentes”.

Com a assinatura do termo, a TV Cidade se comprometeu a adequar a programação, sem ferir a dignidade do ser humano; não expondo pessoas em razão de cor, raça, deficiência, orientação sexual ou política; não veiculando imagens fechadas de cadáveres ou corpos mutilados; adotando cuidado especial com a veiculação de atos judiciais que envolvam crianças e adolescentes, bem como não identificá-los; não veiculando, salvo se possuir autorização expressa, imagens de pessoas envolvidas em atos ilícitos, dentre outros pontos.

O TAC estabelece ainda que a emissora fica sujeita a multa de R$ 70 mil por programa, em caso de descumprimento do acordo. No caso das ações ajuizadas agora, regras semelhantes para o conteúdo das emissoras, que usam concessão pública, são propostas.

A Agência Brasil procurou a TV Jangadeiro e a TV Diário, mas as duas emissoras não estão se pronunciando sobre o assunto.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. “Em televisão nada se cria,

    “Em televisão nada se cria, tudo se copia”. Este era um dos bordões, inteligentes, de Chacrina.

    Esses programas policiais se espalharam Brasil afora, alguns com alcance nacional, como os comandados por Datena, na BAND e Rezende, na RECORD. Nenhum deles presta bons serviços à sociedade. Todos tem como base o sensacionalismo, e o atendimento da emissora que os produz no sentido de obter mais IBOP. Fica aquela disputa ente BAND e RECORD, que mais ou menos empatam os horários de apresentação das porcarias, um pretendendo ganhar do outro. 

    As polícias estão presentes em todos esses programas, às vezes servindo muito mais para ser ridicularizada, na medida em que um Datena da vida, por exemplo, impõe a presença de um delegado para não deixá-lo falar, se explicar. Enquanto isso, todos esses apresentadores, muitos sem qualificação, como Datena, que até fala errado, pelo pouco estudo, enfim, todos se sentem acima do bem e do mal, e, no programa, atuam como se fossem autoridade. Mostram as imagens das pessoas, contam o que ouviram falar, e as julgam e as condenam sem o menor compromisso com nada e coisa nenhuma. 

    Quantas instituições tem sofrido os ataques desses apresentadores sem chance de se defenderem. O próprio SUS, elogiado até por Adib Jatene, é considerado o que existe de pior por esses senhores riquinhos. Uma coisa é não termos uma saúde de qualidade, um SUS à altura; outra, é falar e produzir matérias sem conhecimento de causa, pegando-se com um fato isolado para denegrir a imagem de instituições sérias, etc. 

    Cabe ao Poder Legislativo legislar contra esse desserviço que não se coaduna com as bases estipuladas pelos governos para a concessão desses diversos canais televisivos. 

    1. Excelente avaliação. Este

      Excelente avaliação. Este sensacionalismo covarde, por exemplo, tem que ser reforçado atravéz da Regulação da Midia, pois já está na Constituição e não é cumprido.

  2. Demorou. Até que enfim o MPF

    Demorou. Até que enfim o MPF começou a honrar sua missão institucional. Espero que o Judiciário não seja tão generoso com as emissoras de TV quanto tem sido com os Bancos.

  3. Meu amado estado do Ceará:

    Meu amado estado do Ceará: parabéns!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Finalmente um mp que atua a favor da sociedade.

  4. Até que enfim MP!

    Que o pig é bandido e comete crime, crime, de desinformação acho que ninguem tem duvida, Mas além disso alguns pseudo jornalistas cometem crimes diário ao incitar a violência, fazer parte da violência, atacar leis como o estatuto do menor ou da proibição de porte de armas, os direitos humanos que chamam de direitos dos bandios, etc. E as mps ficam caladinhas  e esquecem sua obrigação.

    Muito bom mp do Ceará.

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