Eu, vírus de Pindorama às margens trágicas, por José Carlos Peliano

Vão-se as chuvas, não há o que cair

Eu, vírus de Pindorama às margens trágicas

por José Carlos Peliano*

Adiante! Viras o que puderes

vires quanto quiseres, viris como turbilhões

viros por saltos e giros, vírus em ambientes e ajuntamentos

dia a dia revoando por todo o dia

vez por vez nuvens de vezes

para ocupar ares, narinas, espirros e pulmões

por variantes de contágio e infecção

no roldão de hordas ocultas, silenciosas, devastadoras!

O horizonte que entra pelos olhos de Pindorama

com as luas, os sóis e as madrugadas
nasce da terra que brota das entranhas

onde pés pisam, estancam e amassam,

mãos agarram, arrancam e destroem

para concretos, queimadas, assoreamentos e pastagens

darem lugar a cascos, degradação, tóxicos, monoculturas

quando invasões, cercas, desmatamentos e tratores
cegam os parques, araras, onças, jacarés e jatobás.

Vão-se as chuvas, não há o que cair

perdem plantas seus verdes e auroras

lamas em rios, peixe a esvair

aves vagueiam sem ninhos por horas

bichos viram carcaças e poeira

pernas para o ar, a vida na beira.

Eu, vírus, saúdo pelas desgraça e sangria desvairadas

que impedem o país dar-se as mãos a si e à natureza

para abrir caminhos injustos, desiguais e torpes à minha invasão.

Tomo as cores, os abraços, os sonhos, os arco-íris e os sorrisos
ergo o reino da pandemia sobre os escombros

das ruas, cidades, florestas e manhãs murchando com os girassóis

à imagem e semelhança da ganância, exploração e insensatez humanas.

*poeta, escritor, economista

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador