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Rumo à Sustentabilidade: Análise da Visão de Lula na Cúpula de Paris

O discurso do presidente ilustra os desafios e oportunidades que a humanidade enfrenta ao tentar mitigar a crise climática.

Blog: Democracia e Economia  – Desenvolvimento, Finanças e Política

Rumo à Sustentabilidade: Uma Análise da Visão de Lula na Cúpula de Paris para uma Transição Verde Justa

por Fernanda Feil e Carmem Feijo

O cenário global foi recentemente palco de uma intervenção notável por parte do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na Cúpula de Paris, ocorrida no dia 23 de junho de 2023. Este discurso enfatizou a lacuna entre a retórica e a ação em relação à crise climática.

Lula foi direto e apontou muitos problemas da ordem econômico e política mundial. Ele assinalou que o multilateralismo, como está, não tem funcionado eficazmente para combater a crise climáticas. Este argumento é não apenas importante, mas fundamental para compreender o caminho necessário para uma transição verde sustentável bem-sucedida.

O discurso do presidente ilustra os desafios e oportunidades que a humanidade enfrenta ao tentar mitigar a crise climática. Este discurso incisivo destacou a falha do atual multilateralismo em lidar efetivamente com a mudança climática, um fenômeno global que demanda ação coletiva coordenada.

O multilateralismo, enquanto conceito, descreve a prática de coordenar relações entre três ou mais nações, em questões que afetam cada Estado membro. Contudo, a efetividade do multilateralismo no combate à mudança climática tem sido criticada. A análise de Lula sobre essa inadequação é um convite para repensar o multilateralismo em suas bases, garantindo que sejam tomadas medidas eficazes que reflitam as necessidades globais urgentes e não apenas as exigências nacionais individuais.

A crise climática é uma manifestação física de uma economia global que há muito tempo depende de práticas insustentáveis. Portanto, a necessidade de uma transição verde sustentável é uma consequência direta desta economia global insustentável. Tal transição deve necessariamente ser justa, levando em consideração a redução da desigualdade e garantindo que as soluções climáticas não aumentem a disparidade social.

O discurso de Lula também destacou o papel fundamental da luta contra as desigualdades – sociais, econômicas e políticas – no processo de transição para uma economia verde. As desigualdades sistêmicas constituem um obstáculo significativo para a efetivação de uma transição verde justa e equitativa. Isso inclui desigualdades dentro das nações, bem como entre elas.

A luta contra a desigualdade e a pobreza não pode ser separada da luta contra a mudança climática. Isso porque as populações mais pobres são as mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, mas, ironicamente, contribuem menos para o problema. Isso ressalta a necessidade de abordar a desigualdade de renda, tanto no âmbito nacional quanto internacional.

A desigualdade política, por outro lado, refere-se à falta de representação equitativa de todas as partes interessadas nas decisões que afetam o meio ambiente. Lula apontou para a necessidade de uma governança global mais justa e equitativa. Isso implica na garantia de que todos os países, independentemente de seu tamanho ou riqueza, tenham voz igual nas decisões relacionadas à mudança climática.

Essas desigualdades, se não forem abordadas, podem exacerbar ainda mais a crise climática e tornar mais difícil alcançar os objetivos de sustentabilidade. Assim, a luta contra as desigualdades deve ser considerada como parte integral do esforço para promover uma transição verde sustentável. A fala de Lula ressalta a importância de garantir que essa transição seja justa, equitativa e inclusiva, de modo a não perpetuar, mas sim mitigar as desigualdades existentes.

Uma transição verde sustentável exige a transformação do modelo econômico de alta intensidade de emissão de gases de efeito estufa para um de baixa intensidade. Isso implica a necessidade de um novo plano de ação por parte dos Estados Nacionais, que vão além de uma simples mudança de retórica. Uma coordenação efetiva e uma vontade política são necessárias para impulsionar uma nova era de investimentos voltados para uma economia mais limpa e sustentável.

Este processo de transformação, no entanto, não pode ser realizado sem uma reestruturação do financiamento. No discurso durante a Cúpula de Paris, Lula lançou luz sobre outro aspecto crucial que é a necessidade de os países mais ricos financiarem os países mais pobres nesta transição sustentável. Lula ressaltou que o ônus financeiro da luta contra as mudanças climáticas não pode ser suportado principalmente pelos países do Sul Global. As nações mais ricas têm uma responsabilidade particular, considerando que foram historicamente as maiores emissoras de gases de efeito estufa e beneficiaram-se do uso desenfreado de recursos naturais para impulsionar o seu crescimento econômico. Portanto, é crucial que esses países mais ricos assumam sua responsabilidade histórica e financiem a transição verde nos países em desenvolvimento.

As diferenças de capacidade entre países ricos e pobres tornam essencial que o financiamento do combate à mudança climática siga os princípios de justiça e equidade. Isso implica em compartilhar não apenas recursos financeiros, mas também conhecimentos técnicos e tecnológicos.

Os países ricos, portanto, devem reconhecer sua obrigação e responsabilidade de auxiliar os países mais pobres e vulneráveis, que muitas vezes são os mais afetados pelas mudanças climáticas, apesar de contribuírem minimamente para a sua causa. Isso poderia tomar a forma de financiamento direto, alívio da dívida, transferência de tecnologia e capacitação.

Em suma, o discurso de Lula na Cúpula de Paris oferece uma visão de como o multilateralismo deve ser adaptado para enfrentar eficazmente a crise climática. Salienta a importância de uma transição verde sustentável e a necessidade de inovação no financiamento para apoiar essa transição. Ao mesmo tempo, reforça a necessidade de reduzir a desigualdade para garantir que essa transição seja justa para todos. É uma visão que deve nos inspirar a agir com urgência e decisão para garantir um futuro sustentável para todos.

Minha única crítica ao presidente é sobre o esquecimento de um dos biomas nacionais. Lula menciona que temos cinco grandes biomas, quando na verdade são seis: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa!

Fernanda Feil – Professora credenciada no Programa de Pós Graduação em economia da UFF, pesquisadora do Finde/UFF e do GEEP/Iesp

Carmem Feijo – Professora titular na Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisadora nível 1 do CNPQ e coordenadora do Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento – Finde/UFF

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O Grupo de Pesquisa em Financeirização e Desenvolvimento (FINDE) congrega pesquisadores de universidades e de outras instituições de pesquisa e ensino, interessados em discutir questões acadêmicas relacionadas ao avanço do processo de financeirização e seus impactos sobre o desenvolvimento socioeconômico das economias modernas. Twitter: @Finde_UFF

Grupo de Estudos de Economia e Política (GEEP) do IESP/UERJ é formado por cientistas políticos e economistas. O grupo objetiva estimular o diálogo e interação entre Economia e Política, tanto na formulação teórica quanto na análise da realidade do Brasil e de outros países. Twitter: @Geep_iesp

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