Jazz: loucura e criatividade

Miles Davis tinha alucinações e delírios paranóicos, abusava de drogas (álcool, barbitúricos, heroína e cocaína), teve diversos relacionamentos sexuais, alguns deles simultaneamente, gostava de participar de orgias e praticar voyerismo. Ele, Chet Baker e Scott La Faro eram loucos por emoções fortes e adoravam carros velozes. Theolonious Monk também usava diferentes tipos de drogas, passava dias sem dormir andando de um lado para outro aparentemente sem reconhecer ninguém. Bud Powell foi diagnosticado como esquizofrênico, sofreu diversas internações em hospitais psiquiátricos, uma delas por dez meses. Charles Mingus e Oscar Pettiford eram irascíveis e megalomaníacos. Mingus ainda apresentava traços de paranóia. Paul Desmond e Bill Evans tinham baixa auto-estima, remorsos, sentimentos de culpa e uma visão pessimista do mundo. Desmond sofria de alcoolismo, Evans era dependente de cocaína. Todos eles foram músicos geniais do período clássico do jazz moderno americano (1945 – 1960) e sofriam de algum tipo de transtorno psíquico.

 

Miles Davis – foto: Anton Corbijn (Groninger Museum)

As informações são de uma pesquisa publicada no British Journal of Psichiatry e indicada via twitter pelo psiquiatra Daniel Barros. Bom, a publicação é de 2003, mas como os dois temas, jazz e transtornos mentais, não têm data (além do fato que adoro jazz) resolvi trazê-la aqui. A investigação foi conduzida por Geoffrey I. Mills, doutor em psicologia e pesquisador da Universidade Manchester, na Inglaterra, que pretendia estudar a incidência de distúrbios mentais num grupo de jazzistas americanos. Mills usou como ponto de partida outras pesquisas que relacionavam criatividade a transtornos afetivos e até apontavam a possibilidade de uma psicopatologia atuar como elemento vital do processo criativo.

O alvo de Mills foram 40 grandes músicos de jazz, de quem ele analisou dados biográficos coletados em revistas e livros para buscar de evidências de psicopatologias que se encaixassem nos critérios do DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais, publicado pela Associação Psiquiátrica Americana). Os resultados (veja abaixo), segundo o autor, são similares aos já identificados em pesquisas semelhantes feitas em grupos que atuam em profissões artísticas ou criativas e tendem a confirmar, ainda de acordo com Mills, a conexão entre transtornos de humor e pessoas criativas.

Dos 40 músicos de jazz pesquisados:

10% (4) tinham histórico de transtornos psiquiátricos na família

17,5% (7) tiveram infância instável ou infeliz

52,5% (21) foram viciados em heroína durante algum periodo da vida.

27,5 (11) eram dependentes de álcool e 15% (6) abusavam de álcool

8% (3) eram dependentes de cocaína

8% (3) tinham transtornos psicóticos

28,5% (11) tinham transtornos de humor

5% (2) apresentavam transtorno de ansiedade

17,5% (7) tinham tendências de busca de sensação como desinibição, busca por emoções fortes e aventuras, relacionados ao transtorno de personalidade borderline.

2 cometeram suicídio (J.J. Johnson e Frank Rosolino)

Para mim, com transtornos ou sem, são todos geniais.

 

Redação

6 Comentários

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  1. Puro preconceito

    Na minha opinião essas pessoas estavam muito a frente do seu tempo, é natural que fossem enquadradas em esteriotipos ,por pessoas que embora tenham vivido na mesma época ou até depois,não foram seus contemporanêos.

  2. A mesma pesquisa já foi feita

    A mesma pesquisa já foi feita com os pintores americanos do expressionismo abstrato, Tamara. No caso deles o alcool era mais presente que a heroinia e cocaína. E alguns se suicidaram. Como Pollock, Marc Rothko e Archile Gorky.

    E no caso dos jazzistas pode botar aí a questão do racismo. E mesmo no caso dos brancos como Chet Baker e Bill Evans, os caras sofriam na mão de empresários da noite inescrupulosos. Imagina, atingir o sublime com a música ou a pintura, e depois ter que decer para o mundo mesquinho dos aproveitadores capitalistas?

    Acho que é por aí. Essa história de que toda alma criativa é sofredora é complicado.

    1. Com certeza, não se pode

      Com certeza, não se pode falar do jazz sem ligá-lo estreitamente ao racismo. Por outro lado, numa sociedade segregacionista, o jazz antecipou a convivência entre culturas e etnias. Músicos brancos tocaram com negros quando não era sequer imaginável que se pudessem sentar ao lado uns dos outros num transporte público. Convém ressaltar que, tantos anos depois do seu surgimento, o jazz continua sendo a música da liberdade.

      O sofrimento era grande, a exploração idem. Tinham que tocar até a exaustão, mal pagos, com fome, e nos legaram o seu melhor e serão celebrados e respeitados sempre. 

      O mesmo se aplica aos pintores, como Van Gogh cuja vida foi marcada por fracassos, foi incapaz de custear a própria subsistência e sucumbiu aos 37 anos a uma doença mental agravada pelo vício do absinto, vindo a cometer suicídio.

      É cruel. 

  3. Preconceitos!

    Poster))((&^^%$$$$###@!@  Preconceitos!

    Quantos eram gays, não existem mulheres, portanto é clube do bolinha, material irrelevante que só serve para desclassificar, sem aporte cientifico e a denegrir a musica. Passa nas artes por figuras preconceituosas.

    Uma mer!@#$%^&* () do nada.

     São assim: Passa no samba quando se questiona se veio da Bahia ou é carioca. Quando se fala que o nordestino é um atraso. Quando o branco se junta ao negro se fala que tem baixa estima. Macunaíma o sem caráter. Samba do criolo (negro) doido. Quando se dispensa as ideias e argumentos para corrigir erros de gramatica e do português.

    O maior! O pior!

    Que ponto chegou. Falemos da musica. A importância deles com a arte e esquecemos os nossos conceitos pessoais.

    O Homem tem que avancar.

    Descupe-me fiquei p com este poster!

  4. O Jazz é e sempre será a

    O Jazz é e sempre será a verdadeira revolução artistica estadosunidenses, quanto a loucura dos expoentes

    nada a acrescentar,sempre houve nas artes plásticas,na música erudita e por ai vai.Alguns homens (mulheres)

    não cabem em sí , a arte é o refugio dos melhores, a guerra dos piores e a picaretagem da maioria.

  5. paradoxo político-social e genialidade

    foram muitas loucuras, drogas escapistas, emoções fortes, angústias e misérias a flor da pele com “defeito de cor” dos jazzmen para sobreviver à crise existencial – desde o berço histórico-familiar – causada pelo racismo e para não pirar de vez frente ao paradoxo socioeconômico do ser um artista negro:

    ao mesmo tempo que eram reconhecidos gênios da música negra americana e inventores do jazz para o mundo, no entanto, mesmo famosos e reconhecidos artisticamente, não eram reconhecidos americanos comuns na plenitude dos direitos civis e econômicos iguais para todos.

    eram de direito e de fato uma subclasse social.

    foi muito pra cabeça!

    haja, então, catarses artístico-criativas: escapistas e piração alucinada nas drogas: escapistas.

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