A PROVA RACIONAL DA NÃO-EXISTÊNCIA DE DEUS

A prova da não-existência de deus não é uma prova contra qualquer deus, mas contra o deus que é:
Onisciente, onipotente, onipresente, transcendental, imaterial, atemporal, pessoal e necessário.
E este não é um deus qualquer, mas o mais perfeito, mais completo deus concebível pela metafísica e seus derivados. É a suprema concepção divina, frente a qual todos os outros deuses se apequenam em suas insuficiências e falta de predicados.
A primeira parte da prova, e não é a mais importante, mesmo que já seja suficiente, está nesta própria definição. Há uma óbvia contradição entre ser “Onisciente, onipotente, onipresente” e “imaterial, atemporal” simultaneamente. No universo da matéria, da energia, do espaço e do tempo, os primeiros atributos só podem ser verdadeiros se houver pelo menos uma parte de deus que seja material e temporal. Senão não há como exercer a onipotência, a onisciência e a onipresença no âmbito do nosso universo.
Nenhuma potência que não pode ser vertida em energia utilizável, causará qualquer efeito sobre os eventos deste universo.
Nenhuma presença que não pode ser traduzida, experimentada, efetivada em matéria, que não assumir uma corporalidade material que deve ocupar algum lugar no espaço, quanto mais em todo o espaço, pode ser detectada neste universo.
Conquanto informação é, necessariamente, energia, particularmente energia eletromagnética, qualquer entidade que se supõe onisciente deve, imperiosamente, ser capaz de ler as informações que são transmitidas por estas ondas energéticas. Há de haver pelo menos um receptor material para todas as informações, capaz de detectá-las e permitir o efeito da onisciência. E esse receptor, neste nosso universo, é limitado pela natureza ondulatória da energia, por sua velocidade. Seriam necessários infinitos receptores para que o atributo da onisciência fosse verdadeiro, o que implica que em todos os lugares do universo haveriam receptores presentes – a onipresença material. Desse modo só poderia haver um universo no qual todo o espaço é preenchido pela materialidade dos receptores de deus! Caso contrário, deus seria dependente da velocidade da luz, do tempo que a informação leva para ser conhecida, o que implica em submeter-se deus à temporalidade.
Portanto ser “Onisciente, onipotente, onipresente” e “imaterial, atemporal” simultaneamente é uma impossibilidade absoluta. Ou deus é onisciente, onipotente, onipresente E material e temporal ou é imaterial, atemporal E inconsciente, ausente e impotente de modo absoluto.
Como escrevi inicialmente, esses argumentos por si já são suficientes para negar a existência desse deus. E considero-os de segunda ordem, por assim dizer, de ordem puramente metafísica, inferiores, em última análise.
Há um argumento derradeiro, que prova a não-existência de deus, e ele está tão obviamente presente que nos remete aos últimos dos atributos divinos descritos acima. Primeiro vamos descartar o ítem transcendental como apenas uma expressão dependente de significado em relação aos outros atributos. É pois apenas uma redundância do imaterial e atemporal. Não percamos tempo com isso.
O argumento definitivo é de uma simplicidade estarrecedora.
Porque um deus “Onisciente, onipotente, onipresente, transcendental, imaterial, atemporal, pessoal e necessário” não é, afinal, auto-evidente? Por que uma entidade com tais atributos – esqueçamos as contradições por um momento – não está permanentemente, majestaticamente, irrefutavelmente diante de nós? Por que não é universalmente aceito como óbvio? Por que precisa ser ensinado? Por que não é reconhecido instantaneamente por todos os seres senscientes? Por que é desconhecido por ampla parcela da humanidade?
Se é pessoal, então todos os seres humanos deveriam ser capazes de reconhecê-lo instantaneamente como parte integrante de sua própria natureza. O aspecto pessoal de tal natureza divina deveria ser tão óbvio que quando adquiríssemos auto-consciência, diríamos “eu existo e deus também como parte intrínseca, inalienável de mim, assim como sou parte dele!”. Todas as crianças do mundo, no nascimento ou quando se auto-descobrissem, sem qualquer outra influência, descobririam simultaneamente deus em sua própria pessoa. Mas não é o que ocorre, esse deus, ou todos os outros, precisam ser ensinados pelos pais ou pelo menos, mais tarde, pela tribo na qual a criança nasceu. O que nos remete ao último atributo, o deus necessário.
Se deus é pessoal e necessário então todos os seres humanos não apenas o descobririam por sim mesmos mas, também e principalmente, não poderiam sequer viver sem ele. Esse deus seria mais importante e vital que o ar, sem o qual morreríamos em poucos minutos. Sem esse deus, qualquer um deixaria de viver instantaneamente, dada a sua suposta necessidade para todos os seres humanos. Mas, misteriosamente, diferentemente do ar que é impossível negar sua existência e imediata necessidade, há muitos humanos que simplesmente continuam a viver sem saber sequer da existência deste debate, quanto mais deste deus. Ignoram este deus com todos os seus atributos e esse debate que o cerca. O que leva a inevitável conclusão de que se houvesse esse deus não haveriam dúvidas, quanto mais ateus. Ninguém seria insano de negar a existência do que necessita para viver. Ninguém pode negar o ar, a luz solar e a água como vitais e necessários. Se há alguém que ignora deus, ou que, tendo-o conhecido, duvida e o nega é porque simplesmente esse deus onisciente, onipotente, onipresente, transcedental, imaterial, atemporal, pessoal e necessário, é apenas e inexoravelmente uma invenção não muito inteligente.
Um deus que não sabe, não tem consciência daqueles que o ignoram, não é onisciente; Um deus que não está presente em todos os lugares para ser inegavelmente percebido não é onipresente; Um deus que não pode provar incontestavelmente ao menos a sua própria existência, não é onipotente; Um deus que não se manifesta imediatamente na dimensão da consciência individual de cada um, não é pessoal e, finalmente; Um deus que não faz da vida de todos nós dependentes de sua existência, não é sequer necessário.
Em última instância, um deus “onisciente, onipotente, onipresente, transcendental, imaterial, atemporal, pessoal e necessário” – além de ser uma contradição nos próprios termos – que pode ser negado, e negado impunemente, só pode existir como um delírio, como uma doença do cérebro primata. Portanto, não existe.

Redação

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