NYT: ativos russos de US$ 300 bi se tornam o novo flanco da guerra na Ucrânia 

Renato Santana
Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.
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Conforme o New York Times, o governo dos EUA pressiona aliados para o confisco de US$ 300 bi de ativos russos congelados

Moscou também tem bens para apreensão, conforme explicou o ministro russo, Sergey Lavrov. Foto: Reprodução/TV RT

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, iniciou conversas com aliados para a utilização de ativos russos congelados para apoiar militarmente Kiev, informou o New York Times (NYT) nesta quinta-feira (21), citando fontes do próprio governo norte-americano.

Na ausência de uma decisão no Congresso dos EUA sobre a atribuição de fundos adicionais para a Ucrânia, Biden levou adiante a iniciativa já especulada durante este ano. 

“De acordo com altos funcionários dos EUA e da Europa, a administração Biden está silenciosamente mostrando novo apoio à apreensão de mais de US$ 300 bilhões em ativos do Banco Central Russo localizados em países ocidentais”, disse a matéria do NYT.  

Conforme o jornal, Biden pretende usar o dinheiro para ajudar a Ucrânia em seu esforço de guerra num momento em que o apoio financeiro está em declínio.

O NYT ressaltou que confiscar uma soma tão grande de dinheiro de outro Estado soberano não tem precedentes e tal ação pode ter consequências jurídicas e implicações econômicas imprevisíveis, tais como ações legais.

Ainda sem luz verde

Segundo o jornal, o presidente norte-americano ainda não deu luz verde a tal estratégia. Há divergências com os líderes europeus sobre o uso do recurso bilionário.  

O NYT aponta que entre as opções estão a apreensão direta dos ativos e a sua transferência para Kiev, a utilização de juros e outros benefícios dos ativos depositados em instituições financeiras europeias a favor da Ucrânia, ou a utilização dos ativos como garantia para empréstimos ao país.

As conversas entre ministros da Economia, chefes de bancos centrais, diplomatas e juristas ocidentais intensificaram-se nas últimas semanas, aponta o NYT, enquanto o governo dos EUA pressiona o Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão para uma estratégia antes de 24 de fevereiro, o segundo aniversário do início da operação militar especial russa.

Possíveis consequências

A Rússia considera ilegal o bloqueio dos seus ativos no estrangeiro. O Kremlin sublinhou que consideraria esta apreensão a favor da Ucrânia como “um roubo verdadeiramente direto”.

Se a apreensão de ativos russos for realizada, a medida afetará o sistema financeiro global, terá consequências jurídicas e implicará em uma resposta de Moscou, disse Dmitri Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin.

Em declarações aos jornalistas nesta sexta-feira (22), o porta-voz observou que a questão do confisco de bens russos “está constantemente na agenda, tanto na Europa como nos EUA”, embora estas discussões “comecem e desapareçam”.

Resposta ao governo alemão

Na quarta-feira (20), o jornal Der Spiegel informou que o Gabinete do procurador-geral federal da Alemanha, Peter Frank, pediu ao Tribunal Regional Superior de Frankfurt que confiscasse mais de US$ 790 milhões de dólares em fundos congelados da Rússia pelo tesouro do Estado.

Os fundos pertencentes a uma subsidiária da Bolsa de Valores de Moscou foram congelados em junho de 2022 como parte das sanções europeias devido à operação militar russa na Ucrânia. 

Os apelos da liderança alemã para a apreensão de bens russos congelados podem gerar uma resposta de Moscou, que também tem bens para apreensão da Alemanha, conforme explicou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov.

Falando numa conferência de imprensa na Tunísia, o ministro comentou a questão descrevendo o governo do país alemão como “voraz”. Disse ainda que o Kremlin sabe que o governo dos EUA tem orientado os europeus a criar mecanismos para o confisco, considerada ilegal. 

Resposta simétrica 

Quanto à reação da Rússia às possibilidades de confisco, garantiu, citando o ministro das Finanças, Anton Siluanov, que o país também tem “o que confiscar em resposta”.

Nesta quinta-feira (21), o ministro especificou que “se tal decisão for tomada, se seguirá uma resposta absolutamente simétrica por parte da Federação Russa”. 

Ele esclareceu que Moscou tem ativos congelados suficientes na Rússia, que também estão nas chamadas contas “C”. “Estas são as nossas obrigações em relação a títulos e dividendos, que constituem as nossas obrigações para com contrapartes estrangeiras de países hostis”, explicou Siluanov.

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Renato Santana

Renato Santana é jornalista e escreve para o Jornal GGN desde maio de 2023. Tem passagem pelos portais Infoamazônia, Observatório da Mineração, Le Monde Diplomatique, Brasil de Fato, A Tribuna, além do jornal Porantim, sobre a questão indígena, entre outros. Em 2010, ganhou prêmio Vladimir Herzog por série de reportagens que investigou a atuação de grupos de extermínio em 2006, após ataques do PCC a postos policiais em São Paulo.

2 Comentários

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  1. Cometeram esse crime contra a Venezuela e agora, contra a Rússia, querem novamente instrumentalizar o dólar e o sistema financeiro como arma de guerra? Cotação do dólar caindo e do ouro subindo… E o BC, tá esperando o que para aprofundar a diversificação das reservas brasileiras?

  2. Peço desculpas, mas não dá para manter a linha com uma notícia dessa magnitude. Vai dar merda e também vai dar guerra. Joe Biden endoidou? Ficou gaga de vez ou fumou uma hemp?

    Jicxjo tem razão! O Brasil que não abra bem os seus olhos. Afinal, nós sempre fomos uma das vitimas e uma das fontes do garimpo de riquezas e das soluções, para as incompetências e as trapalhadas deles.

    Roubar, usurpar e tomar na mão grande é crime grave e é um abuso tão imenso de poder e autoconfiança, que só os mais perversos tiranos, piratas e abomináveis ditadores praticavam. Porém, me parece que esse tipo de tentação criou uma variante no poder executivo democrático tão intenso, que conseguiu invadir a cabeça de boa parte da alta cúpula, na Casa Branca.
    Olho vivo, Brasil.

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