Presidente da Petrobrás defende entrega do pré-sal e fim do conteúdo nacional

“O regime de partilha não leva à eficiência. Teve origem não para atender a maximização da eficiência, mas às conveniências políticas", disparou Castello Branco

Da Agência Brasil

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, defendeu mudanças na legislação que trata do pré-sal, o fim do sistema de partilha ou, então, em movimento mais moderado, o término do polígono do pré-sal, para deixar o regime de concessão e de partilha à escolha da autoridade.

“O regime de partilha não leva à eficiência. Teve origem não para atender a maximização da eficiência, mas às conveniências políticas, quando foi adotado pela primeira vez na Indonésia, em 1966, para permitir que empresas estrangeiras explorassem petróleo na Indonésia, mas que não tivessem participação direta”, disse na abertura do seminário Competitividade dos Projetos Offshore no Brasil, organizado pelo Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), no Rio de Janeiro.

[O GGN prepara uma série no YouTube que vai mostrar a interferência dos EUA na Lava Jato. Quer apoiar o projeto pelo interesse público? Clique aqui]

De acordo com Castello Branco, a produtividade é parcela importante para o crescimento econômico, e o Brasil tem sido ultrapassado por outros países que querem ser ricos. Por isso, segundo o presidente, é hora de mudar o modelo e buscar a prosperidade da sociedade brasileira.

“Não vai ser com conteúdo local e nem com regime de partilha que vamos conseguir fazer isso. Isso pertence ao passado, que não nos foi favorável. Temos que romper com isso”, defendeu.

“Temos que ser um país onde é fácil fazer negócio e a produtividade tenha condição de crescer”.

O presidente da Petrobras apontou a obrigação do conteúdo local incluído nos projetos como outro fator que precisa ser alterado. “A ANP [Agência Nacional do Petróleo] tem se mostrado muito mais sensível às questões do mercado, mas o conteúdo local ainda persiste, ainda que de forma mais moderada. É questão de perguntarmos se a indústria brasileira é tão boa, não precisa de conteúdo local? Não precisa de nada que obrigue as empresas a demandarem os seus produtos? Se ela não é eficiente, após 22 anos da indústria do petróleo, é hora de acabar com isso”, defendeu.

“Quem não se preparou, paciência. Já teve a sua oportunidade. Não pode a indústria do petróleo continuar a pagar por isso”, afirmou.

Dívida

O presidente da Petrobras disse que em junho do ano passado a dívida líquida da companhia representava 56% do valor da empresa, e que esse percentual foi reduzido para 46%, “mas ainda é muito elevado”.

Mesmo com a redução da dívida alcançada desde 2016, atualmente a estatal tem uma dívida de US$ 101 bilhões. Apenas o serviço da dívida consome 35% do fluxo de caixa operacional, segundo Castello Branco. “Isso tem consequências negativas, não só meramente em números, mas na nossa competitividade. Uma das questões é a disponibilidade de recursos para investir”.

Custos

O custo de extração de petróleo, segundo o presidente da Petrobras, está em torno de US$ 6 o barril. Apesar de ser considerado baixo, a companhia busca diminuir ainda mais o valor. “Ainda temos uma gordura imensa”, disse.

Castello Branco disse que a Petrobras trabalha também com persistência e máximo empenho para ter custo de capital baixo. O perfil da dívida já foi alongado para 10 anos e, a companhia partiu para reduzir a concentração da dívida em instituições financeiras, disse.

Conforme o presidente da estatal, o China Development Bank (CDB) foi um grande parceiro da Petrobras nos seus piores momentos. “Se não fossem os chineses, a Petrobras ia ter que pedir socorro ao governo brasileiro”, revelou, acrescentando, no entanto, que os empréstimos geraram uma concentração de dívida, que está sendo desfeita agora.

“Fizemos um pré-pagamento de US$ 3 bilhões e anunciamos que vamos fazer outro de US$ 5 bilhões para reduzir a concentração. É um processo complexo e demorado que estamos saindo. Enquanto não chegarmos ao fim desse processo, nossa competitividade fica afetada pelo custo de capital, mas existe a determinação firme da companhia. É um dos nossos pilares estratégicos, a redução do custo de capital”, completou.

Investimentos

Segundo Castello Branco, a empresa está deixando de investir em operações que podem ter retorno menor, para concentrar recursos onde identificou ganho mais elevado. Ele disse que, para focar na exploração e produção de petróleo e gás, que é seu negócio principal e possui competências, além de vantagens comparativas em ativos de classe mundial, a empresa precisa fazer um processo acelerado de gestão de portfólio, não só na Bacia de Santos com o pré-sal, mas também na Bacia de Campos, onde investe na recuperação.

Castello Branco contestou que essa opção represente um desmonte da companhia, como apontam algumas críticas ao processo. “Não existe um equívoco maior do que esse”, disse.

Licenciamento

O executivo criticou ainda o processo de licenciamento ambiental. “É uma doença que afeta, principalmente, a mineração e o petróleo. A demora na concessão de licenças ambientais, com exigências burocráticas, que às vezes não tem nada a ver com o objetivo, que é a proteção do meio ambiente, e simplesmente para atendimento de questões de natureza burocrática”, disse, acrescentando que hoje vê uma atitude do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama mais pró mercado e flexível.

“O Brasil quer ser mais realista que o rei. Ter uma legislação muito mais rigorosa que a Noruega, por exemplo, mas é muito falho na fiscalização. Vide o que aconteceu na mineração”, disse em referência aos rompimentos de barragens ocorridos recentemente.

Na visão do presidente da Petrobras, a estatal se defronta no campo técnico com ambiente muito favorável. A descoberta e o desenvolvimento do pré-sal completam este ano dez anos de exploração. A companhia já extraiu 2,5 bilhões de barris de petróleo, uma quantidade maior do que as reservas provadas da Argentina e registrou progresso no aprendizado geológico.

“A Petrobras dispõe de alguns melhores geólogos e engenheiros de petróleo do mundo. Então, em termos de qualidade de ativos, sem dúvida nenhuma, o pré-sal é um ativo de classe mundial. Vastas reservas de produtos de alta qualidade”, disse.

Redação

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. A Política tem que ser feita para o Brasil.
    O presidente da Petrobrás está fazendo a política dos norte-americanos.
    Com os ativos brasileiros.
    Isso tem nome, chama-se: TRAIÇÃO.
    O séquito de traidores do país é muito grande. É imenso!
    Mídia, militares, políticos e outros bichos.

    1. Justo. Conceder a empresa estrangeira, ainda que chinesa, norueguesa ou seja qual for, diminui nossas possibilidades de soberania, que é o objetivo dos EUA. Os EUA fazem qualquer coisa para que não sejamos mais do que subordinados a eles, sabotam descaradamente iniciativas nossas de evolução, e o pior, contando com brasileiros natos para isso, gente se dobra e que estende tapete vermelho e mima quem tem dinheiro só pelo fato de ter dinheiro.

      – “É que quanto mais pobre forem meus conterrâneos, mais rico perante eles eu serei, já que sou um dos que estão ao lado dos ricos.”

      A coxinharada não reclama nem se tiver que passar a pão e água desde o pão e a água sejam privilégios de poucos e não direito de todos… E ainda por cima chama os mais pobres de ‘gentinha’, é mole? Cria a pobreza ainda que seja para posar de benfeitor aos pobres.

  2. Olha, não me surpreendo se estivermos diante de um novo Banestado, porém muito (mas muito) mais gordo . E ficaria menos surpreso ainda se, a exemplo do original, tudo fosse acobertado caso investigado mais tarde.
    É “bola” cruzando pra lá e pra cá na área do bando, e quem não bate palmas se cala.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador