O virtuoso age, um invejoso só consegue latir, por Fábio de Oliveira Ribeiro

A pessoa invejosa faz um mal a si mesmo. Por isso, Dante Alighieri a colocou no Purgatório e não no Inferno.

O virtuoso age, um invejoso só consegue latir

por Fábio de Oliveira Ribeiro

A inveja é a “…paixão mais abominável, e tão universalmente detestada, que envergonha o mais impudico e se faz o indizível para ocultá-la.” (O homem medíocre, José Ingenieros, Edicamp, Campinas, 2002, p. 182)

Nunca será possível considerar a inveja um sentimento virtuoso.

“É a mais ignóbil das torpes marcas que enfeiam os caracteres vulgares. Aquele que inveja rebaixa-se sem sabê-lo, confessa-se subalterno; esta paixão é o estigma psicológico de uma humilhante inferioridade, sentida, reconhecida. Não basta ser inferior para invejar, pois todo homem o é de alguém em algum sentido; é necessário sofrer do bem alheio, da dita alheia, de qualquer culminação alheia. Nesse sofrimento está o núcleo moral da inveja; morde o coração como um ácido, carcomendo-o como uma polilha, corroendo-o como a ferrugem ao metal. (O homem medíocre, José Ingenieros, Edicamp, Campinas, 2002, p. 181/182)

Qualquer pessoa pode ser invejosa, mas quem nutre esse sentimento jamais conseguiu ou conseguirá alcançar a felicidade.

“… não há um tipo humano predominante ao qual a inveja se associe. A literatura mostra personagens invejosos de diferentes formas e variados traços de personalidade em obras de Eurípedes, Stendhal, Dickens, Melville, F. Scott Fitzgerald e outros. Fora da literatura, na vida real, a inveja pode se esgueirar até alguém como um fenômeno intermitente e passageiro; ou pode ser um elemento dominante e dominador na personalidade da pessoa. Às vezes, ela pode ser friamente racional, outras vezes, tremendamente imbecil. Tudo que se pode afirmar ao certo é que o sentimento de inveja não tende a aumentar nossa capacidade de ser feliz. Muito pelo contrário. (Coleção Sete Pecados Capitais – Inveja, Joseph Epstein, Editora Arx, São Paulo, 2004, p. 41/42)

A pessoa invejosa faz um mal a si mesmo. Por isso, Dante Alighieri a colocou no Purgatório e não no Inferno. Os espíritos invejosos padecem “… ao longo do alto muro…” vestindo mantos “Que a cor imitam do penhasco duro” (Divina Comédia, Livro Segundo, Canto XIII, 44 e 48, tradução José Pedro Xavier Pinheiro, Edigraf, São Paulo, p. 92).

O muro dantesco representa a barreira psicológica que o sentimento da inveja levanta entre o invejoso e a sua paz interior. Em virtude de ficar obsedado pelas qualidades de outra pessoa, quem alimenta a inveja se torna incapaz de reconhecer e exercitar as virtudes que eventualmente poderia ter ou desenvolver. Isso, além da vergonha de admitir publicamente o sentimento de inferioridade. O invejoso é sobretudo infeliz, um prisioneiro de suas próprias projeções.

Sempre que alguém chama Lula de “nine fingers” (Sérgio Moro) ou de “monstro de 9 dedos”(major-brigadeiro Jaime Rodrigues Sanchez) não devemos sentir ódio ou medo e sim piedade. Em razão de suas virtudes, que só podem ser caracterizados defeitos aos olhos de seus adversários invejosos, o ex-presidente petista é muito respeitado na arena internacional e extremamente popular no Brasil.

Rebaixar os princípios constitucionais do Direito Penal para condenar Lula não elevou Sérgio Moro, apenas o fez perder o cargo na magistratura. A conspiração entre ele e Deltan Dellagnol durante o processo do Triplex, revelada pela Vaza Jato, destruiu a aura de juiz herói que ele criou para si mesmo.

Esse major-brigadeiro que atacou Lula é um ilustre desconhecido. Ao revelar em público o sentimento corrosivo que secretamente nutre pelo ex-presidente, aquele militar ganhou 15 segundos de fama. Inveja em estado bruto vertida num texto sem qualidades estéticas marcantes. É só isso o que podemos dizer do artigo que publicou no website do Clube Militar.

Os militares odeiam que Lula porque ele ajudou a destruir a Ditadura nunca conseguirão compreender o bem que o sindicalista fez às Forças Armadas. O mais provável é que eles continuem a representar o papel de espantalhos rotos na ópera bufa encenada por Jair Bolsonaro. O muro em que eles estão encostados é alto demais. Eles nunca conseguirão ultrapassar a barreira que criaram.

Não creio que o STF e o STJ devam tomar qualquer providência em relação ao tom ameaçador do artigo comentado. A inveja publicamente exposta sempre equivale a uma confissão de impotência. Se fosse capaz de morder o major-brigadeiro Jaime Rodrigues Sanchez não ficaria latindo na internet.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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