Fernando Castilho
Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.
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Zanin e o desafio que Lula tem pela frente, por Fernando Castilho

É preciso lembrar também que nada garante que o nome de Zanin seja aprovado na sabatina de um Senado tão conservador como o atual.

Ricardo Stuckert

Zanin e o desafio que Lula tem pela frente

por Fernando Castilho

Em maio deste ano o ministro do STF, Ricardo Lewandowski se aposenta, deixando para Lula a escolha de seu sucessor. Ouvido sobre o perfil que gostaria de ver no novo ocupante de sua vaga, Lewandowski disse que deve ser uma pessoa corajosa e firme.

Além dessas qualidades, exige-se do candidato que será submetido à sabatina do Senado Federal, que possua reputação ilibada e notório saber jurídico.

Cristiano Zanin atende a todos esses requisitos. Quem acompanhou seu desempenho ao defender Lula no processo persecutório (lawfare) que o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato lhe impuseram, certamente concorda que o advogado é corajoso e firme, além de possuir a reputação ilibada e notório saber jurídico.

Mas o maior mérito de Zanin, e que lhe poderia valer até uma medalha, foi vencer o consórcio de ilegalidades Moro-procuradores-imprensa ajudando a conter o lavajatismo que já estava impregnando todas as instâncias da justiça.

Em resumo, a única qualidade que Zanin não possui é a aprovação da grande imprensa que vê na escolha uma espécie de travessia do Rubicão ético de Lula.

Para a Folha de São Paulo, não fazia muita diferença se Moro fosse indicado por Jair Bolsonaro antes da indisposição entre os dois que fez com que os escolhidos para as vagas de Celso de Mello e Marco Aurélio Mello acabassem sendo Nunes Marques e André Mendonça. Na época o jornal não gritou tanto como vem gritando contra Zanin.

Não é só a Folha que quer pautar a indicação de Lula, mas também setores da esquerda que querem uma mulher, um negro ou, no melhor dos mundos, uma mulher negra no STF.

Lula, em seu primeiro mandato em 2006, indicou Cármen Lúcia, uma mulher que se revelou não alinhada aos projetos da esquerda e em 2003, Joaquim Barbosa, um juiz punitivo alçado pela mídia como o grande justiceiro do Mensalão.

É preciso concordar que o processo de reparação da crueldade da discriminação que os negros sofrem desde a escravidão passa pela ocupação de postos chave da República, mas a escolha de uma mulher negra para o STF, pura e simplesmente, não garante que a democracia, o estado de direito e a Constituição sejam sempre respeitados.

Rosa Weber se aposentará em outubro, abrindo uma segunda vaga.

É muito possível que Luís Roberto Barroso também deixe o cargo precocemente este ano, por motivos de saúde.

Lula, então, poderá acomodar três nomes, além do novo PGR que assumirá o lugar de Augusto Aras e um deles poderá ser uma mulher negra.

Desta vez saberá escolher melhor e, experiente como é, não se apressará por indicar Zanin já para a vaga de Lewandowski, acalmando um pouco a malta que não aceita esse nome somente por ter sido advogado do presidente.

É preciso lembrar também que nada garante que o nome de Zanin seja aprovado na sabatina de um Senado tão conservador como o atual.

De qualquer forma, Lula enfrentará um desgaste até que todas as vagas sejam preenchidas.

E não devemos ser nós, democratas que nos unimos contra a tirania, a aumentar esse desgaste.

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor

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Fernando Castilho

Fernando Castilho é arquiteto, professor e escritor. Autor de Depois que Descemos das Árvores, Um Humano Num Pálido Ponto Azul e Dilma, a Sangria Estancada.

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