O governo brasileiro acerta, por Luis Felipe Miguel

O governo brasileiro acerta

por Luis Felipe Miguel

Diante da complicada situação no Oriente Médio, o governo brasileiro tem acertado.

Tanto no plano diplomático quanto na resposta interna – lutando contra uma direita que faz do ódio aos palestinos uma de suas bandeiras.

Acertou ao priorizar a repatriação de brasileiros. Mostrou agilidade e competência na preservação da vida dos cidadãos, um dos deveres do Estado nacional, em forte contraste com o governo anterior.

Não transformou a operação em propaganda. Cumpriu o que era devido.

A ingratidão de muitos dos resgatados só reforça a retidão da ação. A bolsonarista enlouquecida agradecendo ao “prefeito de Sorocaba” foi a cereja do bolo.

O governo acerta também ao condenar a ação terrorista do Hamas sem, com isso, ignorar a responsabilidade de Israel ou recuar na defesa do povo palestino.

A direita tenta vincular o Hamas à esquerda. Manobra curiosa. Fundamentalistas religiosos estão mais próximos de Damares e Magno Malta do que do PT ou do PSOL.

Tenta desvincular os ataques de qualquer contexto – das décadas de opressão israelense, da limpeza étnica, das anexações territoriais, dos repetidos massacres cometidos sobre os palestinos, das condições desumanas da Faixa de Gaza (o maior gueto da história), da disparidade de forças entre os dois lados.

Tenta esconder as vítimas palestinas. Como se destruir as casas, deslocar as famílias, cortar a água e os alimentos, matar crianças, idosos, mulheres e homens palestinos não fosse nada. Como se os bebês palestinos não fossem gente.

Como disse o ministro israelense: palestinos são animais. É o que a direita brasileira, sempre pronta a alardear seu cristianismo, ecoa.

O governo brasileiro, ao contrário, lamenta as vítimas de ambos os lados. Afirma que a paz é necessária. E reafirma o óbvio: só pode haver paz com justiça para a Palestina.

Luis Felipe Miguel é professor do Instituto de Ciência Política da UnB. Autor, entre outros livros, de O colapso da democracia no Brasil (Expressão Popular).