André Lara versus Faria Lima, por Luiz Cezar Fernandes

O sucesso de uma política monetária, seja ela qual for, depende essencialmente do diálogo entre Governo, Banco Central e sociedade.

André Lara versus Faria Lima

por Luiz Cezar Fernandes

Em meu artigo anterior, falei da herança de Alan Greenspan, agora vou falar do legado deixado por Nicolas F. Brady.

Atribui-se ao ex-secretário do tesouro norte-americano a popularização da fórmula do superávit primário, segundo a qual o resultado fiscal deve vir antes da dívida total (dívida + custo).

Todavia, a opção de Brady por separar o resultado fiscal em primário e nominal teve um efeito indesejado. Ela oculta as importantes relações de causalidade entre as políticas de governo e suas consequências na saúde financeira da sociedade.

É o que se vê, por exemplo, na nossa discussão de momento; a fixação do Banco Central em uma política monetária pautada apenas na taxa de juros para controle da inflação. O Banco Central pode manter a sua política, mas peca ao empreender esforços administrando apenas uma taxa, quando deveria gerir também toda a emissão de dívida pública.

A taxa mais importante para a economia é a de longo prazo, dado que os empresários se apoiam nela para alavancar as empresas e, consequentemente, a economia. O Banco Central deveria comprar desesperadamente títulos de mais longo prazo – com o aumento na demanda desses papéis, a taxa tende a cair bastante.

Para evitar a expansão monetária, caberia ao Banco Central vender os títulos de curto prazo, cuja taxa poderia até subir, mas ficaria naturalmente limitada à Selic.

Acompanhando a diminuição da taxa de longo prazo, o custo da dívida do país também será reduzido, abrindo espaço para novos investimentos. O excedente deveria abastecer projetos capazes de alavancar o aumento da produtividade geral do país – o mais indicado seria olhar para o setor de infraestrutura, fugindo das despesas correntes.

É para essa trilha que André Lara Resende aponta quando fala na injeção de recursos e na mitigação da importância do superávit primário.

O sucesso de uma política monetária, seja ela qual for, depende essencialmente do diálogo entre Governo, Banco Central e sociedade. Algo que não está acontecendo. Aliás, falha também o Governo ao ficar brigando com o Banco Central e com a Faria Lima.

A Secretaria do Tesouro tem capacidade própria para operar os títulos, não depende do Banco Central. A Faria Lima, por sua vez, opera essa mesma curva, e apoia a política do Banco Central porque essa deixa em aberto o preço dos papéis da dívida pública. O mercado compra e vende esses títulos, regulando ele próprio os preços praticados.

A única vez que o Banco Central atuou da forma correta foi na gestão do Sr. Carlos Brandão.

Luiz Cezar Fernandes é um empresário brasileiro, sócio-fundador do Banco Garantia e do Banco Pactual. Iniciou sua carreira aos 12 anos como mensageiro na Nossa Caixa e depois no Banco Brasileiro de Descontos.

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Redação

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