Do iG
Planalto vira alvo de cobrança por fragilidade na articulação política
‘Congresso tem saudade de Lula. Essa é a verdade’, diz líder do PSB; aliados no Congresso reclamam da dificuldade em negociar e dialogar com a presidente Dilma
“A base está exaurida. Está faltando carinho”. A fala do deputado Arthur Lira (PP-AL), líder na Câmara de um dos principais aliados do governo Dilma Rousseff , expõe a dificuldade da base em dialogar com o Palácio do Planalto. A reclamação não é nova: a ministra Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, não teria poder para negociar nem mesmo a inclusão de emendas parlamentares em projetos de autoria do governo. “A Ideli precisa ter força para dar solução”, afirma o líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI).
Entre a reclamação do PP e o reconhecimento do PT está o consenso de que é preciso rearticular a base e, para isso, ceder espaço para senadores e deputados se sentirem protagonistas de projeto com aval do Planalto. O entendimento de que é preciso descentralizar a tomada de decisões, segundo interlocutores de Dilma, já teria sido sinalizado pela presidente depois da dificuldade na aprovação da MP dos Portos.
Saudade de Lula
O Planalto já entendeu que a queixa geral é de que, no governo Lula, a base se habituou a ouvir “sim” sobre seus pleitos e, agora, com Dilma o “não” impera sem flexibilidade. “O Congresso tem saudade de Lula. Essa é a verdade”, afirma o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS).
E a perspectiva de que Ideli possa ter mais autonomia não parece ser suficiente para animar a base, que aponta noutra direção quando perguntada sobre o problema na articulação. “O problema da articulação política desse governo começa com a presidente Dilma, que não se reúne com a sua base”, afirma Albuquerque.
A “saudade” do modo Lula de articular tem servido também de justificativa para para a movimentação em torno da candidatura presidencial do socialista Eduardo Campos, governador de Pernambuco.
Albuquerque e Lira estão entre os poucos líderes dispostos a falar abertamente sobre as dificuldades no relacionamento com o Planalto. Outros líderes ouvidos pelo iG preferem o anonimato na hora de dizer que “a cúpula do governo é fraca”.
A crítica é endereçada à ministra Gleisi Hoffman (Casa Civil), já apelidada nos corredores do Congresso de Hello Kitty – em referência ao personagem de desenho animado, conhecido pela “chatice”, confidencia um peemedebista.
O apelido ganhou força em meio àsnegociações da MP dos Portos , depois que Gleisi recuou em momentos decisivos, desautorizando lideranças do governo e do PT a fechar acordos sobre temas pontuais que a base pediu para incluir no novo marco regulatório do setor portuário. Entre as pessoas desautorizadas pela titular da Casa Civil esteve Ideli.
A falta de autonomia dos interlocutores do governo, apontada por líderes ao reclamarem da articulação de Dilma, não poupa nem o líder Arlindo Chinaglia (PT-SP). Um dos líderes da base resume o constrangimento que Chinaglia estaria sofrendo na relação de via única entre Planalto e Câmara: “Ele (Chinaglia) está tendo que requebrar como nunca”.
A situação de Chinaglia já despertou a atenção do Planalto, que reconhece o esforço de um líder que já foi menos prestigiado em passado recente, mas que começa a ser visto até com certa solidariedade. “Ser líder do Lula era só dizer sim, ser líder da Dilma é só dizer não”, compara uma fonte palaciana.
O choque foi pontuado ontem em reunião entre líderes petistas e ministros com a presidente Dilma no Palácio do Planalto, como noticiou o jornal Folha de S.Paulo. Mas, para a base, sobretudo na Câmara, a ideia de dar mais autonomia para Ideli não deve mudar os humores no plenário enquanto a presidente não aceitar construir uma relação mais próxima com seus aliados.
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