Entrevista com Lula no JN mostra reação nas redes

Avaliações da imprensa e dados mapeados pelo Observatório das Eleições apontam que o petista teve sucesso na empreitada.

Entrevista com Lula no JN mostra reação nas redes 

por Eduardo Barbabela e Helena Martins

Dezesseis anos após sua última entrevista ao Jornal Nacional, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou ao programa com o desafio de enfrentar a Globo, emissora que participou ativamente das denúncias que levaram à prisão dele, especialmente na cobertura parcial da Operação Lava Jato. Mais importante ainda, Lula buscou dialogar com a margem de indecisos para deslocar o patamar que tem registrado nas pesquisas e mobilizar as redes sociais, terreno ainda fértil para o presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Avaliações da imprensa e dados mapeados pelo Observatório das Eleições apontam que o petista teve sucesso na empreitada. No início da semana, ao abrir a série de entrevistas com os presidenciáveis, o Jornal Nacional com Bolsonaro obteve uma média de 32,7 pontos de audiência na Grande São Paulo, índice usado pelo Ibope. Com Lula, foram 31,3 pontos, de acordo com dados publicados no UOL. Com Ciro Gomes, terceiro lugar nas intenções de voto, o telejornal registrou 28 pontos. O início das sabatinas na segunda e a postura crítica em relação à Globo por parte de apoiadores de Bolsonaro são elementos que podem ajudar a explicar a diferença que, de todo modo, não chegou a ser expressiva.

Lula dominou as redes sociais na noite da quinta-feira, 25, projeção que teve continuidade na manhã da sexta-feira, 26. No Twitter, às 20h15, a hashtag #LulanoJN já havia sido utilizada em 128 mil postagens. Quando a entrevista começou, esse número era de 137 mil. Logo após o fim da entrevista, às 21h13, Lula estava no topo das referências no Twitter em todo o mundo, com mais de 700 mil menções. As menções positivas predominaram. Os críticos mobilizaram hashtags como #LADRAONOJN e fizeram menções à Lava Jato, mas o alcance foi pequeno: respectivamente 8.122 e 15,3 mil tweets às 20h58, perto do fim da entrevista. No fim, havia mais de 270 mil menções a Bolsonaro, entre mensagens de apoio e críticas. 

Como o Observatório das Eleições já havia analisado após a entrevista de Jair Bolsonaro, o setor que apoia Lula tinha tido boa performance no Twitter mas havia perdido em interação nas demais redes, especialmente no Facebook. Acompanhando 44 perfis de destaque das redes bolsonarista e lulista nas 12 horas que se seguiram à entrevista, vimos que, nesta rede, o bolsonarismo tinha obtido uma média de interações 13,5 vezes maior do que a lulista.

No contexto da repercussão da entrevista de Lula, entre quinta e sexta, houve uma reação do campo lulista em redes como Facebook e Instagram. Isto é uma novidade importante, principalmente considerando que as páginas bolsonaristas têm número muito maior de seguidores. Por exemplo, enquanto a página de Bolsonaro no Facebook conta com 14,6 milhões de seguidores, a de Lula tem 5 milhões de seguidores. Mesmo assim, como mostram os dados da Tabela 1, o total de interações das páginas ligadas ao campo lulista obtiveram número bastante superior de interações, que representam a soma de reações, comentários e compartilhamentos de uma publicação (…). 

A publicação com maior número de interações foi a do próprio Lula, perguntando se os internautas gostaram de sua entrevista. Foram mais de 88 mil reações, 29 mil comentários e 2 mil compartilhamentos. Lula também emplacou a segunda publicação com maior número de interações. Na postagem, vemos uma arte com a transcrição de um trecho da entrevista em que Lula cita que prefere falar que vai cuidar a governar as pessoas. Na manhã da terça, a publicação somava 78 mil reações, 12 mil comentários e 8 mil compartilhamentos.

Tal qual no Facebook, no Instagram o número de postagens é inferior ao que observamos entre segunda e terça. Apesar da média de interações do campo lulista ter subido na repercussão da entrevista de Lula, os totais de interações e o número de publicações em ambos os campos foi inferior ao que observamos para a entrevista de Bolsonaro. Ou seja, os números indicam que os campos bolsonarista e lulista analisados, tanto do Facebook quanto do Instagram, publicaram e interagiram mais à entrevista de Bolsonaro do que à entrevista de Lula.

Lula também dominou o topo das publicações com maior número de interações do Instagram da amostra analisada, com as quatro primeiras posições. A liderança ficou com a foto de escolha da gravata para a entrevista. Foram mais de 1,1 milhão de curtidas e 88 mil comentários. Em seguida veio a mesma postagem do Facebook perguntando a opinião das pessoas sobre a entrevista, com mais de 687 mil curtidas e 91 mil comentários. No caso de Bolsonaro, o post mais compartilhado foi do vídeo com apoiadores, o que mostra a predominância de conteúdos essencialmente imagéticos na rede. 

Em suma, podemos avaliar que a entrevista de Bolsonaro conseguiu maiores números de interação do que a de Lula. Entretanto, o campo lulista, em sua reação à entrevista do petista, mostrou ser mais eficiente, pois, mesmo com menor número de postagens e também de seguidores das páginas, alcançou médias de interação superiores ao campo bolsonarista. Assim, parece que o campo tem na eficiência em conseguir interações um caminho para superar a diferença no número de seguidores entre as páginas bolsonaristas e lulistas.

Portanto, se a semana começou com Bolsonaro e seu campo político agitando bem as redes em torno da entrevista concedida ao Jornal Nacional, ela parece terminar preocupante para o candidato à reeleição, que usou sua conta oficial no Twitter para, em um longo “fio”, reclamar do que teria sido um tratamento melhor para o ex-presidente por parte da Globo. Tentando reagir, Bolsonaro participou ao vivo do programa Pânico, da Jovem Pan, emissora próxima ao candidato, como mostrou a Revista Piauí em reportagem sobre a radicalização política, à direita, do grupo. Na participação, ele destacou a apresentação de propostas por Bolsonaro, que usou o espaço para criticar a mídia. Diante da possibilidade de um debate entre os principais candidatos no próximo domingo, 28, o confronto direto nas redes também será produzido, o que nos permitirá verificar as estratégias dos candidatos.

Helena Martins é professora de Comunicação Social – Publicidade e Propaganda da UFC e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFC. Pesquisadora do Telas e do Obscom-Cepos.

Eduardo Barbabela é doutor em Ciência Política pelo IESP-UERJ. Pesquisador do IESP-UERJ e subcoordenador do Projeto Manchetômetro.

Esse material foi elaborado no âmbito do projeto Observatório das Eleições 2022, uma iniciativa do Instituto da Democracia e Democratização da Comunicação. Sediado na UFMG, conta com a participação de grupos de pesquisa de várias universidades brasileiras. Para mais informações, ver: http://observatoriodaseleicoes.com.br

O texto não representa necessariamente a opinião do Jornal GGN. Concorda ou tem ponto de vista diferente? Mande seu artigo para [email protected].

Leia também:

A força do bolsonarismo nas redes: repercussão de entrevista mostra eficiência e engajamento

Entre o “agro” e os “povos do campo”: as disputas em torno da agricultura em 2022

Plataformas digitais, eleições e transparência

Observatório das Eleições

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador