O perfil do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Em poucos meses, embaixador criou conflitos diplomáticos com a China e estampou elogios a Bolsonaro e ao ministro de Relações Internacionais, Ernesto Araújo

Foto: Redes/Twitter

Jornal GGN – Sem discrição ao posar de chapeu e trajes texanos em fotografias, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, ganhou manchetes de jornais nos últimos dias por criar conflitos diplomáticos com a embaixada da China e por tecer elogios ao presidente Jair Bolsonaro e seu ministro de Relações Internacionais, Ernesto Araújo, ambos recebidos em sua casa para celebrar o 4 de Julho, Dia da Independência dos Estados Unidos.

Chapman chegou ao Brasil no início do ápice do coronavírus no país, no final de março, sendo indicado para o cargo em outubro de 2019, pelo presidente Donald Trump. Além da carreira na diplomacia, Chapman detinha familiaridade com o Brasil por já ter vivido durante 11 anos no país, durante a adolescência.

Antes de assumir o cargo, ocupou durante três anos a diplomacia norte-americana do Equador. Com atuação em temas econômicos, estratégicos e militares, esteve à frente da área econômica na Embaixada do Afeganistão e de Moçambique, além de atuar diretamente no Departamento de Estado em Washington.

Em entrevista à GloboNews no final de abril, afirmou que era consciente de que estava “chegando em um momento bastante difícil”, ao se referir à pandemia. Mas, logo de início, mostrou simpatia pelo governo de Jair Bolsonaro. “Chego para apoiar o governo e a sociedade na resposta ao Covid-19, este é o propósito de agora e claro temos muitas áreas que trabalhar”, disse.

Na noite da última sexta-feira (10), ele acusou o Partido Comunista Chinês (PCC), do atual presidente Xi Jinping, de fazer a esterilização em massa de mulheres uigures, minoria étnica do país asiático. “Silêncio não é uma opção”, escreveu Chapman nas redes sociais, comentário que provocou um conflito diplomático. Momentos depois, o embaixador da China, Yang Wanming, respondeu que Chapman veio ao Brasil somente para atacar a China “com boatos e mentiras”.

O nome de Chapman já havia aparecido nos jornais na última semana por ter participado de um almoço privado, no dia 4 de julho, com o presidente Jair Bolsonaro e informar que faria o teste do Covid-19, depois que o mandatário anunciou estar contagiado pelo novo coronavírus.

Na ocasião, a embaixada dos EUA divulgou uma nota enfatizando a boa relação do novo embaixador com o mandatário, afirmando que os “dois governos mantêm uma comunicação contínua, incluindo sobre esse caso” e desejava “as melhoras para o presidente Bolsonaro”.

Ainda no referido almoço, Todd Chapman também havia destacado em suas redes que se sentia “muito honrado em receber o senhor presidente @jairbolsonaro este #4deJulho para celebrar os 198 anos das relações entre o Brasil e os Estados Unidos e os 244 anos da independência dos Estados Unidos. Continuamos #TrabalhandoJuntos!”.

Apesar da nota que acusou o partido do presidente chinês tomar maior repercussão, não é o primeiro ataque de Todd Chapman à China pelas redes sociais. No dia 6 de julho, o embaixador havia usado a mesma expressão, de que “silêncio não é uma opção”, ao compartilhar um vídeo do Departamento de Estado dos EUA em Português sobre a suposta detenção de minorias na China.

“Sobre os campos de concentração na China Comunista, silêncio não é uma opção”, havia escrito o embaixador:

Também já se tornou habitual o representante dos EUA no Brasil publicar apoio a marcas norte-americanas, como a Starbucks, Pizza Hut e Dominós Pizza em sua conta oficial do Twitter, além de valorizar doações de empresas privadas para o combate ao coronavírus, sem a mesma defesa para iniciativas de políticas públicas.

https://twitter.com/usambbr/status/1273330048431460352

Nas redes sociais e também em entrevistas que concedeu desde que chegou ao Brasil, Chapman não disfarça o entusiasmo no apoio tanto ao presidente Jair Bolsonaro, quanto ao polêmico ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que também participou do almoço de celebração do 4 de Julho na casa do embaixador norte-americano.

Em vídeo de comemoração ao Dia da Independência dos EUA, o embaixador dedicou trecho de sua fala em elogios diretos a Ernesto Araújo: “eu agradeço ao senhor ministro Araújo pela participação da comemoração dessa data, tão importante para os Estados Unidos.”

Ao contrário do teor desinibido da vestimenta que o relaciona ao seu estado de origem, o Texas, o cônsul estadunidense tenta manter a discrição quando é questionado sobre a crise política do governo Bolsonaro em entrevistas e, durante a celebração do 4 de Julho, fez questão de fazer memória ao assassinato de George Floyd, que liderou a pauta do país nas semanas anteriores e estampou os principais jornais do mundo. Sobre o afro-americano morto por um policial em Minneapolis, disse que o país tinha “a contínua necessidade de enfrentar a injustiça racial”.

Adotando o discurso da democracia liberal, cujo único modelo legítimo seria o criado pelo seu país, enfatizou na conclusão de sua fala para o 4 de Julho os princípios e garantias de direitos, que distoam das defesas estampadas em suas redes sociais de que o privado teria um papel tão ou mais importante do que o público.

“Como destacado no preâmbulo da Constituição dos Estados Unidos, não cessaremos nossos esforços em busca de uma união mais perfeita, independentemente de convicções políticas. São nestes princípios e aspirações, que acredito e que compartilhamos com o povo brasileiro”, havia encerrado no vídeo (acima).

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Antes reclamavam por que mandavam um embaixador que não falava Português. Agora reclamam por que mandaram um que aprendeu tanto as atitudes da elite brasileira (na Chapel School), que virou bolsonarista, e diz bobagens em bom paulistês.
    Vá entender esses brazucas…

  2. A preocupação do embaixador americano com os muçulmanos chineses manifestadas desde a sua embaixada no Brasil, não sei se é legal ou não, mas eu gostaria muito de ver manifestação semelhante com muçulmanos palestinos mantidos em campos de concentração pelo estado de Israel.
    Estou certo que a preocupação deste bastião da democracia mundial é com o desrespeito aos direitos humanos mais elementares, não importam se ocorre na China, na Arábia Saudita ou em Israel.

    Tô esperando embaixador…deitado.

  3. Deve ser mais um obtuso, com pouca qualificação, senão o Trump tramp, não mandaria para se relacionar (ao mesmo nível baixo) do governo atual e seu rebaixado embaixador

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador