Marina Silva critica instrumentalização da crise política

Jornal GGN – Em artigo publicado no UOL, Marina Silva analisa as manifestações contra o governo Dilma Rousseff e afirma que é “lamentável” a atitude de alguns políticos que instrumentalizam a crise política para benefício próprio. “Buscam a oportunidade de melhorar seu cacife no jogo do poder, enquanto a sociedade está nas ruas questionando, cada um à sua maneira, o estrago que esse jogo faz”, afirma.

Para a candidata à Presidência em 2014, as manifestações são legítimas e diz que Dilma já foi “saída” do poder “pelas lições que insiste em não querer aprender”.

Enviado por Paulo Eduardo Neves

Do Uol

Pelas lições que insiste em não querer aprender, Dilma já foi ‘saída’

Marina Silva

Mais uma vez, manifestações. A favor e contra o impeachment da presidente da República. Desta vez com alterações ainda maiores no tom das vozes e no teor das falas. Houve até quem ameaçasse fazer barricadas nas ruas. Ainda bem que era apenas retórica. Em todo o país, ocorreu de forma pacífica o exercício legítimo do direito da sociedade de protestar contra os que usurpam suas vitórias e roubam suas esperanças.

Podemos concordar com todas as falas, todas as faixas, todas as narrativas? Claro que não, mas a honestidade impõe reconhecer que as ruas mostraram uma monumental e muito relevante insatisfação contra a corrupção e a mentira entranhadas nas instituições e nas relações de poder.

Contra a deterioração da situação econômica do país pairando sobre a vida de todos. Contra os acordos sub-reptícios que ainda continuam sendo feitos visando benefícios políticos de curto prazo, atentatórios ao interesse da sociedade e à integridade do Estado. A favor da ação independente da Justiça e dos órgãos de investigação.

Tenho denunciado, com a insistência que os meios à minha disposição permitem, a atitude lamentável de alguns políticos – incluindo alguns dos atingidos pela crise política e pelas denúncias de corrupção – de instrumentalizar o momento e as instituições, aproveitando-se dos problemas em vez de buscar soluções compatíveis com o interesse público e o clamor por mudanças.

É o uso perverso da máxima que diz que “crise é sinônimo de oportunidade”. Buscam a oportunidade de melhorar seu cacife no jogo do poder, enquanto a sociedade está nas ruas questionando, cada um à sua maneira, o estrago que esse jogo faz, e tenta continuar fazendo, na vida do país e dos cidadãos. O vaivém de manobras no espaço institucional para proteger pessoas e grupos só agrava a instabilidade política, social e econômica, e gera revolta.

As manifestações são legítimas. Elas são o termômetro da crise política, e não se pode culpar o termômetro por indicar a gravidade da febre. A responsabilidade dos que receberam um mandato é enorme e, se traíram a confiança da sociedade, precisam se explicar perante a Justiça e se submeterem às penas, caso o ilícito seja comprovado. Esperemos que este seja um caminho sem volta no Brasil.

Governabilidade pragmática

Nas vésperas das manifestações, fiz a seguinte postagem: “O Game of Thrones da política colocou em risco tudo o que a sociedade brasileira alcançou de mais importante nas últimas décadas: democracia, estabilidade econômica, inclusão social. (…) Se queremos interromper o ciclo pernicioso que solapou as conquistas de décadas de trabalho, temos que garantir que o combate à corrupção não seja interrompido. É no sucesso das investigações e na exemplar punição dos culpados que está a chance do Brasil de recuperar a confiança em si mesmo. O resultado será uma oportunidade para a necessária mudança cultural: uma nova atitude dos governos, dos parlamentos, das empresas, das instituições e de todos os cidadãos e cidadãs. Um país que se eleva, pois se leva a sério”.

Se, de fato, queremos mudar e estabilizar a mudança, precisamos fechar o ciclo da nefasta governabilidade pragmática feita com base na distribuição de cargos, assentos em conselhos e ministérios com altos orçamentos, tendo como finalidade maior a continuidade no poder e ganhos descabidos à custa do Estado. 

Ela é fonte permanente de corrupção, fragilização e descontinuidade de políticas públicas, além de enterrar a ética como elemento indispensável ao exercício da função pública. Precisamos transitar para um modelo de governança que componha o governo e construa sua base parlamentar com o lastro de um programa fortemente legitimado pela sociedade e aberto à sua participação e fiscalização.

Isso se chama institucionalização das conquistas, em lugar da apropriação indébita delas, como se pessoas ou partidos fossem seus donos. Apropriação esta que se completa com a tentação de se perpetuar no comando do país, lançando mão de meios que, na prática, inibem a alternância no poder e colocam em risco o fortalecimento da democracia.

O Brasil precisa parar de dar cheque em branco a seus governantes e começar a exigir clareza e cumprimento de programas. Não pode mais se deixar levar, como aconteceu nas eleições de 2014, pela ditadura do marketing, pela lei do mais forte, pelos slogans vazios e pela agressividade das mentiras. Continuar a proceder assim é alimentar as ervas daninhas que crescem frondosas no quintal da política tradicional, regadas a acertos espúrios e dando sobrevida contínua a figuras e atitudes que já fizeram muito mal ao país.

Os que estão hoje em posição de poder – especialmente os que têm alguma participação na gestão culposa ou dolosa que resultou na crise atual – devem aceitar a ativa vigilância da sociedade e não tentar desqualificá-la. Não é hora de manobras de bastidores pactuadas por poucos. Não é mais hora da desculpa esfarrapada e inaceitável de “todos fazem isso” ou “sempre foi assim”.

Nova política

Pois é chegada a hora de não ser mais assim. E a responsabilidade histórica indelegável de abrir caminho a este novo momento, ainda que seja de todos nós, é sobretudo de quem está no poder hoje. Se há contas do passado a acertar, seja de quem for, que a justiça seja acionada para tanto. Que isso não se transforme em justificativa para evitar ou minimizar o necessário acerto de contas do presente.

É hora, principalmente, de um envolvimento geral na construção da transição que assegure profundas alterações na visão, nas estruturas, nos processos e nas nossas dinâmicas políticas, econômicas e sociais. Não só pelas mãos dos partidos e das lideranças confinadas em seus próprios interesses, mas por meio de um debate amplo e transparente em torno de uma agenda que ajude a criar novas perspectivas para a nação. 

Chega de agendas meramente de poder ou de manutenção do status quo, que são positivas apenas para quem as faz e sempre surgem nos momentos de crise para contrabandear acordos e propostas patrocinadoras de retrocessos contrários aos interesses dos mais frágeis.

Em sua sabedoria, de alguma forma, os que estão se mobilizando para além da velha polarização política e das cartilhas ideológicas de ocasião, entendem que agora, mais do que nunca, chegou o tempo de incluir o Brasil num futuro ético, justo e sustentável.

Entendem que não é estratégico nem correto reduzir seus esforços a um simples “fora Dilma”. Sentem que de certa maneira ela já foi “saída” pelas forças políticas tradicionais, entre as quais parte de seu próprio partido. Saída, enfim, pelas lições que insiste em não querer aprender.

Para aqueles que sentem que a grande força deste momento difícil é o exercício pleno de sua cidadania, o desafio é deixar cada vez mais claro que estão se movimentando para dar suporte não a forças retrógradas, mas à chegada de um novo tempo, sonhado e inscrito na Constituição resultante de nossa jovem democracia.

E, para tanto, é preciso fazer ecoar uma nova cultura política, não de alinhamento automático e subalterno a “salvadores da pátria”, sejam eles quem forem. Mas uma cultura política da independência, dos valores universais, da ética, da radicalidade da democracia, na defesa da investigação com autonomia, da punição por respeito à justiça e não por sentimento de vingança, na busca do diálogo legítimo, que não seja apenas uma armadilha para encurralar e dobrar adversários. Um novo tempo dos que, aprendendo com os próprios erros, amadurecem, tornam-se melhores e maiores.

Redação

19 Comentários

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  1. Silêncio

    Amiga, só o fato de você abrir sua boca é “instrumentalizar a crise em benefício próprio”.

    Explica primeiro aquele jatinho de 50 milhões, não declarado, que você usava em sua campanha de 2010.

    Explica depois o outro jatinho, o do Guarujá, que despencou na cabeça de um monte de gente que não sabe sequer a quem deve pedir indenização.

    Por fim, explica como o desmatamento no Brasil só caiu ano a ano, DEPOIS que você saiu do ministério do meio ambiente.

    Depois a gente conversa. Boa noite.

  2. Ainda não entendi

    Marina rompeu o efusivo apoio ao Aécio? Deveria se tão explícita como foi ao apoiá-lo. Senão posso pensar que já está pensando em benefício próprio como futura candidata. Inclusive, deve aproveitar a oportunidade para dizer o que realmente mudou no discurso do Aécio.

  3. Manifestações legítimas? Mas

    Manifestações legítimas? Mas se as manifestações pedem o impeachment  o discurso é confluente com o Psdb e o Aécio. Tentando marcar território, Marina? E que afirmação é essa de que a Dilma já foi saida do poder, se a presidente eleita tem 3 anos e meio de mandato pela frente. 

    O discurso de Marina continua confuso.

  4. Pilantrona

    Pilantrona

    Ela que começou com a roeção de corda com patrocínio do Itaú.

    Como disseram aqui, Erundina, Ciro e Cid fazem criticas, trocaram de partidos mil, mas não mudaram de lado.

    Já Marina, qual o lado dela mesmo? Parecida com Lobão,  Eduardo Jorge, Soninha, Gabeira e outros quinta-colunas…

  5. Se não PT, o quê?

    Se não PT, o quê?

    Isso aí, que está no post, é que não.

    Não vejo nenhum dos críticos do PT apresentarem uma alternativa. Seus projetos resumem-se a tomar o poder para sí e só. Para o País, para o povo e principalmente para os trabalhadores NADA.

    O PT não é perfeito e eu mesmo tenho minhas críticas, assim como propostas para ficar melhor.

    MAs fica a pergunta:

    Se não PT, o quê?

  6. A gritante ( sem trocadilho )

    A gritante ( sem trocadilho ) maioria dos manifestantes é de eleitores derrotados, eleitores do Aécio.

    Onde a legitimidade então?

    Marina, a falsa cordeirinha.

    Querendo pegar carona também e para tal usou um textinho mais suave.

     

  7. Vixe!
    Mais um personagem se

    Vixe!

    Mais um personagem se “instrumentalizando” para 2018.

    O Ciro Gomes saiu na frente.

    E do lado mais à direita (onde a Marina “infiltrou-se” nas duas últimas disputas) já tem um bocado de cacique no páreo, o que reduz, E MUITO, o interesse dos barões da mídia pela “nova política”. 

    Acho que não vai ser mais tão tranquilo para ex-senadora ainda sem partido.

    A sua Rede ainda não foi “sacramentada”, foi?

  8. Engraçado…

    Na época da eleição aqui neste espaço a Marina Silva era retratada como o mal materializado. O fato de ela ser evangélica iria influenciar perseguição a gays, ela iria retirar a comida da mesa dos pobres, iria dar dinheiro aos bancos. O que mudou? Sempre estivemos em guerra com a Lestasia?

  9. Pelo visto é ela que não entendeu

    a “lição” que os eleitores deram “de graça” para ela.

    Bom, na verdade não foi assim tão “de graça” para certos acionistas da Natura e do Itaú…

  10. Tende piedade de nós!

    Os mais legítimos direitos de expressão desgraçadamente incluem o de Marina Silva escrever muito mal. Eis o grande sacrifício que o doloroso respeito à opinião alheia nos impõe.

  11. Marina e sua Nova Polítca.

    Marina e sua Nova Polítca. Aqui em Pernambuco, a nova política da família do candidato Eduardo Campos, de quem ela era vice, é lançar o filho mais velho dele, recém-saído da puberdade, para a vida política e também o irmão dele, que quer ser candidato a prefeito de Olinda. Essas novas políticas cheiram tanto a mofo……

     

  12. marina saiu, espero que prá sempre

    Como já postei por aí, saída está marina; saída com a não explicação sobre o jatinho sem dono, saída do PT, do ministério, da senadoria, e saída de vários partidos por não conhecer seu lugar e tentar se adonar quando abrigada em partidos de aluguel. Saída por não conseguir dar conta de  criar seu partido.  Saída por ser invejosa, por não ter senso crítico e por ter se tornado uma pessoa menor ao longo de sua vida pública. E quer saber…já saiu tarde!

  13. E a Marina, que jamais

    E a Marina, que jamais instrumentalizou nada, resolveu aproveitar a oportunidade para tentar se cacifar. Tá serto!

  14. Falou a que colaborou para

    Falou a que colaborou para intrumentalizar a crise política do “Mensalão”, abdicando de toda a história de lutas populares que o PT protagonizou e que a levou a ser senadora e ministra.

  15. Marina se encaixa bem na:
     

    Marina se encaixa bem na:

      Aquela que foi sem nunca ter sido e nunca será embora queira ser.

       Vcs entenderam ? 

      Marina não é pra ser entendida mesmo

      É o triângulo dentro do  lozaico na quadradura do redondo perpendicularmente dividido entre oxenos múltiplos e compostos em dízimas periódicas elevadas a 9,333 potência.

    Esse é o discurso dela–ninguém entende UMA palavra.

         E um dia essa marciana quis ser presidente…

  16.  
    “…é “lamentável” a

     

    “…é “lamentável” a atitude de alguns políticos que instrumentalizam a crise política para benefício próprio. “Buscam a oportunidade de melhorar seu cacife no jogo do poder, enquanto a sociedade está nas ruas…”

     

    Engraçado…e para beneficiar quem, a Dona Osmarina Silva está brandindo seu instrumentalizado hiperbólico  nhé nhé nhé ?

    Orlando

     

    PS: A propósito. Tens notícias se já apareceu o dono do jatinho?

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