Neta de Juan Gelman lamenta que Videla tenha morrido sem revelar mais informações sobre desaparecidos

Macarena Gelman, neta do poeta argentino Juan Gelman, lamentou nesta sexta-feira (17) que o ex-general Jorge Rafael Videla, condenado à prisão perpétua por crimes cometidos no período da ditadura militar argentina, tenha morrido sem revelar mais informações sobre os desaparecidos políticos da época. Macarena é filha de María Claudia García com o filho do poeta, Marcelo Gelman. Ambos foram sequestrados e mortos, enquanto a filha do casal foi encontrada apenas no ano 2000, após intensa campanha feita pelo próprio poeta Juan Gelman.

“A sociedade e o mundo hoje sabem quem ele era e as atrocidades de que era responsável, mas eu não posso deixar de pensar sobre o que está faltando, na busca de desaparecidos e crianças roubadas, sobre as quais não tínhamos informação”, disse Macarena , de 36 anos, e que viveu até os 23 sem saber sua verdadeira identidade. “Há sempre uma verdadeira dívida com as vítimas”, lamentou Macarena, que acrescentou ainda que “a justiça foi feita, mas é a sensação é de que se poderia ter ido mais longe”, ressaltou.

O casal Marcelo e María Claudia foi sequestrado na Argentina pelos órgãos repressivos da Operação Condor, orquestrada pelas ditaduras sul-americanas – incluindo a brasileira – nos anos 70 e 80. Marcelo Gelman foi morto primeiro que a esposa, que estava grávida de Macarena. María Claudia García foi levada ao Uruguai em um voo clandestino, onde desapareceu pouco depois de dar à luz a Macarena. Os restos mortais de Marcelo foram encontrados em 1990, mas o da esposa jamais foram identificados. Recém-nascida, Macarena acabou entregue para adoção nas mãos de um policial uruguaio e sua esposa.

O sequestro e morte do filho e da nora do poeta Juan Gelman, vencedor do Prêmio Cervantes de Literatura, em 2007, é considerado um dos casos mais emblemáticos de roubo de bebês ocorridos sob a ditadura de Rafael Videla, uma vez que contou com a cumplicidade da ditadura uruguaia (1973-1985). Estima-se que cerca de 500 crianças foram roubadas de suas famílias biológicas durante a vigência do regime, que deixou cerca de 20 a 30 mil desaparecidos. Nas últimas décadas, pelo menos 105 pessoas roubadas ainda bebês recuperaram a identidade. A Operação Condor foi realizada em conjunto entre as ditaduras do Chile, Argentina, Brasil, Uruguai, Bolívia, Peru, Equador e Paraguai.

Em abril do ano passado, Juan Gelman chegou a ironizar as declarações de Jorge Rafael Videla, quando o ex-general admitiu, em uma série de entrevistas publicadas em forma de livro, que a ditadura argentina matou de 7 mil a 8 mil pessoas entre 1976 e 1983. “Videla está sendo modesto. A ditadura matou 30 mil, não 8 mil pessoas”, afirmou, durante debate na Bienal Brasil do Livro e Leitura, em Brasília.

Redação

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